Topo

'Vive de pijamas', 'covarde': veja as brigas que Doria já arrumou no PSDB

João Doria já se envolveu em brigas públicas no PSDB; relembre casos - Divulgação/Governo do Estado de São Paulo
João Doria já se envolveu em brigas públicas no PSDB; relembre casos Imagem: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

Matheus Brum

Colaboração para o UOL

01/04/2022 04h00

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou que vai concorrer ao cargo de presidente da República pelo partido. No entanto, até o pronunciamento, havia a dúvida se ele participaria do pleito. A possibilidade de racha da sigla é apenas mais uma polêmica da curta carreira política do presidenciável.

Doria apareceu no cenário político em 2016. Empresário de sucesso, disputou as prévias do PSDB para ser candidato à prefeitura de São Paulo. Na época, a prévia também teve muita confusão, tal qual as de 2021 para escolher o presidenciável do partido.

Mesmo com as polêmicas, Doria foi escolhido, disputou as eleições e venceu o então prefeito Fernando Haddad (PT). Com um discurso antipetista e agenda liberal na economia, o paulista dava um passo importante na carreira política.

Menos de dois anos depois de assumir a prefeitura, Doria renunciou ao cargo para disputar o governo de São Paulo, em 2018. Naquela ocasião, o então prefeito já manifestava o interesse de ser presidente do Brasil. Ir para o Palácio dos Bandeirantes, então, seria um trampolim para chegar em Brasília.

Durante a eleição, mais polêmica. Doria abandonou o então aliado Geraldo Alckmin, candidato do PSDB ao Palácio do Planalto e que patinava nas pesquisas, e declarou apoio a Jair Bolsonaro, então no PSL. A dupla, apelidada de Bolsodoria, foi eleita ao final do pleito.

A forma de fazer política, deixando antigos aliados de lado e levando o PSDB mais para a direita, levou o político a colecionar brigas internas no partido ao longo destes anos. Veja algumas:

Prévias de 2016

Em busca de retomar o comando da capital paulista, o PSDB convocou uma prévia para definir o candidato do partido para a eleição municipal de 2016. Três nomes participaram da disputa: João Doria, Andrea Matarazzo e Ricardo Tripoli. No dia da votação, no entanto, uma confusão foi registrada no bairro Tatuapé, na Região Leste da capital.

Apoiadores de Doria e Tripoli saíram no soco após apoiadores do futuro prefeito acusaram militantes de Tripoli de tentarem roubar uma das urnas do bairro. O caso parou na Polícia, os votos da Região foram anulados e Doria venceu as prévias no segundo turno.

BolsoDoria

João Doria em encontro com o presidente Jair Bolsonaro 2019 - Divulgação/Assessoria João Doria - Divulgação/Assessoria João Doria
João Doria em encontro com o presidente Jair Bolsonaro 2019
Imagem: Divulgação/Assessoria João Doria

Talvez o ponto mais alto da carreira política de João Doria tenha sido o pleito de 2018, quando concorreu ao cargo de governador de São Paulo. Na época, o PSDB lançou Geraldo Alckmin, então chefe do Executivo paulista, como candidato à presidência da República.

Doria, no entanto, não apoiou publicamente Alckmin, que foi seu padrinho na disputa pela prefeitura da capital dois anos antes.

Na época, um cartaz chamou a atenção e despertou a ira de correligionários de Alckmin. Nas vésperas do primeiro turno, a campanha de Doria lançou um cartaz com o slogan: "Contagem Regressiva. Faltam 15 dias para você mudar São Paulo".

Alberto Goldman, um dos caciques do PSDB e aliado de Alckmin, reprovou a atitude de Doria. "[Não tem] referência ao candidato a presidente, nem ao partido, depois de 24 anos de nossos governos", disse à imprensa na época.

Depois de muita especulação, Doria assumiu o BolsoDoria no 2º turno, após Alckmin fracassar e ter apenas 5% dos votos.

Treta com Alberto Goldman

09.dez.2017- Convenção nacional do PSDB. O prefeito de São Paulo, João Dória, o governador de São Paulo e presidente eleito do PSDB, Geraldo Alckmin, o ex presidente do PSDB, Alberto Goldman, o ex presidente do Brasil Fernando Henrique e o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio - Fátima Meira/Futura Press/Folha - Fátima Meira/Futura Press/Folha
Da esquerda para a direita: João Dória, Geraldo Alckmin, Alberto Goldman, Fernando Henrique e Arthur Virgílio
Imagem: Fátima Meira/Futura Press/Folha

Outra polêmica com forte repercussão foi entre João Doria e o ex-governador Alberto Goldman. Em 2017, no início da gestão Doria na prefeitura de São Paulo, Goldman divulgou alguns vídeos nas redes sociais criticando as atitudes tomadas pela equipe do prefeito. O ex-governador alegava que faltava "comprometimento com a cidade" e acusou a administração de dirigir licitações.

A reposta de Doria foi dura. Em vídeo, também publicado nas mídias sociais, o então prefeito atacou o rival.

"Hoje meu recadinho vai para você, Alberto Goldman, que viveu sua vida inteira na sombra de Orestes Quércia e do José Serra. Você é um improdutivo, um fracassado. Você coleciona fracassos na sua vida e agora vive de pijamas na sua casa", afirmou Doria no vídeo. "Viva com a sua mediocridade que fico com o povo", disse.

Logo após a divulgação deste vídeo, Goldman respondeu a Doria, também pelas redes. "Doria publica um vídeo contra mim em tom bastante raivoso, prepotente, arrogante, preconceituoso. Me acusa de ser velho. Sou velho, mas não sou velhaco. Sou leal, tenho dignidade, respeitado e tenho compromisso com meu povo. Nunca usei meu mandato como trampolim para obter outro mandato. Todos que tive foram obtidos ou pelo respeito que eu tenho ou por eleição", disse o ex-governador.

Goldman faleceu em 2019, após um câncer na região cerebral.

Polêmica com Aécio Neves

Aécio Neves -  Marcos Oliveira/Agência Senado -  Marcos Oliveira/Agência Senado
O deputado federal, Aécio Neves
Imagem: Marcos Oliveira/Agência Senado

João Doria também teve o atual deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) como um dos rivais dentro do partido. O paulista foi um dos mais fervorosos defensores da expulsão do mineiro do PSDB em virtude dos escândalos de corrupção que o ex-governador de Minas Gerais é acusado e responde na Justiça.

Depois de fracassar na tentativa de expulsar Aécio, o atual governador de São Paulo partiu para o ataque contra o desafeto. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Doria criticou fortemente o mineiro por ter votado a favor da proposta de voto impresso na Câmara. "Não teve a grandeza porque trabalhou a sua bancada, se é que podemos chamar assim, para votar a favor de Bolsonaro contra a democracia. E na hora do vamos ver, se absteve. Foi um covarde mais uma vez", disparou Doria.

Aécio não perdeu tempo e rebateu as acusações. "De forma oportunista, se ajoelhou aos pés de Bolsonaro implorando apoio, criando o inesquecível Bolsodoria, e tenta a todo custo fazer com que as pessoas se esqueçam disso. Traiu o seu padrinho político, Geraldo Alckmin, da forma mais covarde e humilhante possível, desrespeitando e atropelando a história do partido, para abrir caminho para a sua ambição", declarou o parlamentar em nota oficial.

Indisposição com FHC

11.set.2017 - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o prefeito da capital, João Dória (PSDB), participam de almoço debate do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), na capital paulista, nesta segunda-feira - LUIZ CLÁUDIO BARBOSA/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO - LUIZ CLÁUDIO BARBOSA/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO
João Doria e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
Imagem: LUIZ CLÁUDIO BARBOSA/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO

Na esteira da tentativa de expulsar Aécio Neves do PSDB, João Doria recebeu críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Pelo Twitter, FHC criticou o governador paulista, sem citá-lo diretamente. "O PSDB tem um estatuto e uma comissão de ética. Há que respeitá-los. Jogar filiados às feras, principalmente quem dele foi presidente, sem esperar decisão da Justiça, é oportunismo sem grandeza. Não redime erros cometidos nem devolve confiança", escreveu o tucano.

Diferente do que fez com outros correligionários, Doria não respondeu à crítica feita por FHC.

Troca de farpas com Eduardo Leite

Os governadores João Doria (PSDB-SP) e Eduardo Leite (PSDB-RS), pré-candidatos à presidência, em encontro no Palácio do Piratini, em Porto Alegre - Luís Blanco / Equipe JD - Luís Blanco / Equipe JD
João Doria e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite
Imagem: Luís Blanco / Equipe JD

Na acirrada e polêmica prévia do PSDB para definir o candidato do partido à presidência da República em 2022, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, acusou a campanha de João Doria de comprar voto.

"Não há nenhuma denúncia de tentativa de compra de votos do nosso lado, nenhuma denúncia de pressão política, nenhuma denúncia de que tenhamos exonerado pessoas por não nos apoiar. Do outro lado, nós vemos isso, denúncia de compra de votos, pressões indevidas, suspensão de filiações e demissão de pessoas", disse Leite, à época.

A campanha de Doria, então, passou a divulgar uma série de vídeos nas redes sociais com memes envolvendo Leite. O foco era mostrar o rosto do gaúcho em personagens históricos que perdiam competições para colar a imagem de mau perdedor.

Levou o PSDB mais para a direita

Considerado, historicamente, um partido de centro-esquerda, com acenos ao centro, o PSDB mudou de "cara" nos anos de João Doria na vida política do partido. Após ser eleito prefeito e governador de São Paulo, o tucano alçou o posto de principal nome da legenda.

Na convenção de 2019 em que definiu Bruno Araújo, aliado de Doria, como presidente nacional do PSDB, o atual governador paulista teve um papel de destaque. Conseguiu deixar os velhos tucanos de lado e mudou a configuração ideológica do partido.

"Ele deixa de ser um partido de centro-esquerda para ser um partido de centro, que dialoga com a esquerda e a direita mas se afasta dos extremos tanto de um lado quanto de outro. Será um partido que tem uma proposta liberal de economia, com menos Estado, pró-mercado, pró-desenvolvimento", disse à época, em entrevista à Revista Veja.

Doria, ao longo da carreira política, sempre se declarou como um político de direita. Também sempre teceu críticas contundentes ao Partido dos Trabalhadores e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).