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Após saída de Arthur do Val, Moro sugere Renata Abreu como candidata em SP

10.nov.2021 - Ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, durante evento de filiação ao Podemos - Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo
10.nov.2021 - Ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, durante evento de filiação ao Podemos Imagem: Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

08/03/2022 17h46

Após o anúncio da desfiliação do deputado Arthur do Val do Podemos, o presidenciável da sigla, Sergio Moro, aproveitou o Dia Internacional da Mulher para sugerir uma opção feminina para representar o Podemos na corrida eleitoral ao governo de São Paulo.

"No Dia Internacional da Mulher, parabenizo a Deputada Renata Abreu, Presidente do Podemos. Precisamos de mais mulheres em posições de liderança do país. Quem sabe no Governo de SP?", falou Moro no Twitter.

Na noite de sexta-feira (4), áudios de cunho machista do deputado Arthur do Val, também conhecido Mamãe Falei e um dos líderes do MBL (Movimento Brasil Livre), vieram à tona. Momentos depois, Moro foi às redes sociais para romper com o então colega de partido.

"Lamento profundamente e repudio veementemente as graves declarações do deputado Arthur do Val divulgadas pela imprensa. O tratamento dispensado às mulheres ucranianas refugiadas e às policiais do país é inaceitável em qualquer contexto. As declarações são incompatíveis com qualquer homem público", disse.

Arthur do Val viajou à Ucrânia na segunda-feira (28), com Renan Santos, um dos dirigentes do MBL (Movimento Brasil Livre), do qual é um dos membros. Eles foram até o leste europeu para acompanhar a guerra do país comandado por Volodymyr Zelensky com a Rússia, de Vladimir Putin.

Ao criticar o aliado político, Moro disse que tem "uma vida pautada pela correção e pelo respeito a todos —tanto no campo público quanto na vida privada". O ex-juiz federal e ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) afirmou ainda que jamais comungará com "visões preconceituosas, que podem inclusive ser configuradas como crime".

No sábado, Do Val pediu desculpas. "Foi errado o que eu falei, não é isso o que eu penso, o que eu falei foi um erro num momento de empolgação e pronto", disse ao ser questionado pela imprensa.

Convocação ao Senado

O presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, Humberto Costa (PT-PE), propôs ontem um requerimento de convocação do deputado para que ele explique as falas relativas a mulheres ucranianas, que estão no meio da invasão da Rússia ao seu território.

No entanto, o pedido para convocar do Val não foi votado por falta de quórum. Apenas 7 dos 18 atuais titulares do colegiado registraram presença, fora uma senadora dos 15 atuais suplentes. Havia a possibilidade de que a presença fosse apenas virtual.

Na tarde de ontem, o PT formalizou o pedido para convocar do Val ao Senado "para explicar declarações misóginas, machistas e atentatórias à dignidade da vida humana".

Na mesma sessão, o senador Flávio Arns (Podemos-PR) disse ser favorável à expulsão do deputado e a cassação de seu mandato por envergonhar não só o Podemos, mas o país.

"O que ele realizou é inaceitável sob qualquer ponto de vista: das mulheres ucranianas e qualquer mulher. Menosprezar, desconsiderar, diminuir e se aproveitar, isso envergonha", afirmou.

Desistência

Em São Paulo, o deputado seria candidato ao governo estadual, o que garantiria um palanque paulista para o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, presidenciável do Podemos.

Moro repudiou as falas de "Mamãe Falei" e disse que não mais dividiria palanque com ele. No sábado (5), o deputado anunciou que desistiu de participar da disputa pelo governo paulista.

Entenda o caso

Em uma série de áudios gravados e enviados a um grupo de amigos no WhatsApp, o deputado estadual descreve suas impressões sobre as mulheres da Ucrânia e, em um dos trechos, afirma que elas "são fáceis, porque são pobres".

"Eu estou mal, eu passei agora por quatro barreiras alfandegárias, são duas casinhas em cada país. Eu juro para vocês, eu contei, foram 12 policiais deusas, que você casa e faz tudo o que ela quiser (...)", afirma o deputado nos áudios, que foram revelados pelo site Metrópoles, e aos quais o UOL também teve acesso.

Em seguida, o parlamentar afirma: "Detalhe, hein. Elas olham e, vou te dizer, elas são fáceis, porque são pobres. E aqui, a minha conta do Instagram, cheio de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, porque a gente não tinha tempo, mas colei em dois grupos de 'minas' e é inacreditável a facilidade. Essas 'minas' em São Paulo, você dá bom dia e ela [sic] ia cuspir na sua cara e aqui elas são supersimpáticas e supergente boa, é inacreditável", prossegue o deputado. Segundo ele, nas "cidades mais pobres, elas são as melhores".

Depois da divulgação dos áudios, o pré-candidato à Presidência da República Sergio Moro (Podemos) disse ter rompido com do Val, seu aliado político. O deputado também desistiu da pré-candidatura ao governo de São Paulo.

O Podemos classificou como "gravíssima e inaceitável" a conduta e anunciou a abertura de um procedimento disciplinar para investigar as falas sexistas dele.

A namorada de do Val, Giulia Blagitz, terminou o relacionamento com o deputado, segundo a coluna de Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. "Gostaria de deixar claro que seguiremos caminhos diferentes", registrou Giulia em um perfil redes sociais, que foi desativado.

O parlamentar disse que os áudios foram mandados em um grupo privado para amigos e que se dedicou apenas ao que chamou de "missão" no período em que esteve na Ucrânia. Em uma postagem nas redes sociais, ele afirmou que estava fazendo coquetéis molotov para o exército ucraniano. "Fui para fazer uma coisa, mandei um áudio infeliz, e a impressão que passou é que fui fazer outra coisa."

"Você quer falar que os áudios são escrotos? São. São machistas? São. Eu poderia resumir: aquilo é um moleque, eu estou sendo moleque, esta não é a postura que as pessoas esperam de mim. Quero que você separe as ações das palavras. Eu aceito ser julgado pelo que eu falei, mas não aceito ser julgado pelo que eu não fiz", disse ele em um vídeo.

Suposto assédio contra estudante

Em 2016, Arthur do Val foi acusado de cometer assédio sexual contra uma adolescente de 16 anos, depois de entrar em um colégio em Curitiba (PR) para entrevistar estudantes, que ocuparam o local para realizar um protesto. Na ocasião, Mamãe Falei acabou sendo agredido por esses alunos.

Uma jovem alegou que ele teria passado a mão nela durante a confusão. Os dois assinaram um Termo Circunstanciado e foram liberados pela polícia logo na sequência, segundo informou o "Tribuna Paraná", parceiro do UOL.

Líder do MBL apoia do Val

Em live ontem, Renan Santos, coordenador do MBL, ficou revoltado com a possibilidade do mandato de Arthur do Val ser cassado. Santos disse também estar preocupado com o futuro de outros parlamentares ligados ao MBL.

Exaltado, o líder do movimento arremessou uma caneca em direção à câmera. Já deu o luto. "Já deu o 'ai, olha só, desculpa'. Vai deixar ele ser cassado? Amanhã é o Kim (Kataguiri, deputado federal), depois é o Rubinho (Nunes, vereador de São Paulo)!", afirmou.