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Economia compartilhada é realmente mais sustentável?

Aplicativos de carona são um exemplo de economia compartilhada - iStock
Aplicativos de carona são um exemplo de economia compartilhada Imagem: iStock

Carmen Lucia

Colaboração para Ecoa, do Rio de Janeiro (RJ)

17/02/2022 06h00

Você já ouviu falar do termo economia compartilhada? E você sabe o que ele significa? Economia compartilhada é um sistema social e econômico baseado no compartilhamento de recursos humanos, físicos ou intelectuais. Ou, em um linguajar mais técnico, é um modelo de uso racional de recursos que permite maior acessibilidade aos ativos, redução drástica de custos, novos padrões de escala e o consumo responsável.

Alguns exemplos de economia compartilhada atualmente são o financiamento coletivo de projetos de investimento, espaços colaborativos de moradia e trabalho (como o Airbnb) e o uso compartilhado de meios de transportes, entre outros. De acordo com especialistas, essa forma de negócio tem funcionado bastante na prática pelas mudanças no padrão de consumo, fazendo com que os consumidores valorizem cada vez menos a posse de coisas e cada vez mais a experiência na utilização de produtos e serviços.

Mas será que essa forma de consumo é realmente mais sustentável, mais acessível e menos centralizadora? Muitos acreditam que ela representa um avanço do ponto de vista sustentável e social por envolver a busca por soluções focadas na necessidade e não apenas no consumo.

Por outro lado, alguns dizem que a economia compartilhada representa apenas mais uma forma de fortalecer o capitalismo desenfreado. Para debater a questão, Ecoa ouviu alguns especialistas.

SIM

Promove mudança de comportamento

Os defensores da economia compartilhada acreditam que ela é positiva por proporcionar uma mudança de comportamento, já que se passa a consumir apenas o necessário — contribuindo para a utilização dos recursos do planeta de forma mais consciente. Assim, em vez de comprar um carro, por exemplo, a pessoa vai alugá-lo por dias específicos ou pagar apenas pelas corridas feitas com carros de aplicativos. Com isso, também se reduz o desperdício.

Muitos reconhecem que ainda há formas de tornar essa nova maneira de consumir ainda mais sustentável e que existe muito espaço para a disseminação do conceito. As pessoas ainda são apegadas a produtos e posses, mas isso será uma transição que vai ocorrer cada vez mais nos próximos anos.

Mais acesso e menor preço

A economia compartilhada e o consumo colaborativo também estão impactando os modelos de negócio tradicionais. Do ponto de vista de gestão, isso traz uma gama de possibilidades, desde produtos e serviços a serem desenvolvidos até a geração de empregos — tanto que muitas empresas de economia compartilhada nasceram e cresceram de forma exponencial nos últimos anos.

Além disso, reduz a necessidade de capital de giro com a desmobilização de ativos, o que também traz benefícios financeiros como uma melhora no caixa das empresas. Tudo isso impacta nos preços: com a operação mais barata, a tendência é que o consumidor também possa pagar menos. Assim, promove-se mais acessibilidade, com mais pessoas podendo consumir aquele produto ou serviço.

NÃO

Economia compartilhada é diferente de economia solidária

Trazendo questões como o poder de compra e a renda, alguns especialistas apontam que há uma aplicação errada do termo economia compartilhada. A expressão pode levar à compreensão equivocada de que é um sinônimo de economia solidária — esta, sim, capaz de combater a desigualdade e o desperdício.

Assim, a periferia pode se beneficiar de uma economia solidária, mas não do compartilhamento como apresentado nesse modelo que mantém o lucro e o consumo como elementos centrais. Nas relações humanas da periferia já existe economia solidária (no compartilhamento do café com vizinhos ou no cuidado compartilhado das crianças, por exemplo) com vocação para o bem viver, muito mais potente do que esse movimento criado no século atual.

Sistema beneficia grandes corporações

A chamada economia compartilhada já congrega empresas como Uber, Airbnb, Spotify, Facebook, Amazon e Netflix. Ou seja, é fácil perceber que entre elas estão as que mais produzem o lucro e o enriquecimento de poucas pessoas na atualidade. Muitos argumentam que esse modelo de negócio não é positivo para a sociedade como um todo, pois é fundado no capitalismo e em suas bases individualistas.

Para que pequenos empreendedores possam se beneficiar desse sistema é necessário que o mercado, o Estado e a sociedade civil invistam no bem viver como um todo. Para avançar coletivamente, as pessoas não podem passar fome, precisam ter onde morar e não podem ser impedidas de viver o espaço público.

Fontes: Marcelo Reis, professor e especialista em gestão comercial e vendas; Lauro Barillari, economista e professor de economia; Eduardo Alves, cientista social, economista, escritor e intelectual orgânico da periferia.