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Quem é Muhammad Yunus, homenageado na abertura das Olimpíadas?

Muhammad Yunus durante conferência em Londres - Suzanne Plunkett
Muhammad Yunus durante conferência em Londres Imagem: Suzanne Plunkett

Carmen Lúcia

Colaboração para Ecoa, do Rio de Janeiro

23/07/2021 13h32

Se você assistiu à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio, na manhã de hoje (23), deve ter se perguntado: "quem é Muhammad Yunus e por que ele foi homenageado com o Laurel Olímpico?". Yunus, 81, é um professor, economista, escritor e empresário de Bangladesh, que fundou em 1976, o Banco Grameen, o primeiro banco de microcrédito do mundo, modelo que oferece pequenos empréstimos para as pessoas em situação de vulnerabilidade.

Mas, sua história vai além, muito além. Com mais de 50 empresas no currículo voltadas principalmente para negócios sociais, seu trabalho ajudou a desenvolver muitos empreendedores, combater a pobreza na Índia. O impacto de sua atuação é tão importante que rendeu a Yunus o Prêmio Nobel da Paz em 2006.

O "Banqueiro dos Pobres", como é conhecido, sempre investiu em acolhimento para as indianas — quase todas as suas clientes são mulheres. Esta atitude tem importante relevância já que elas vivem em um território em que precisam lutar contra as amarras sociais e um sistema econômico repressivo.

Na prática, o banco concede o empréstimo para as mulheres, sem as exigências tradicionais dos bancos comerciais. As solicitantes formam grupos de cinco pessoas, e as duas mulheres mais pobres recebem primeiro o crédito. Quando estas começam a devolvê-lo, chega a vez de as outras três terem acesso ao dinheiro. Desta forma, é criada uma espécie de rede de apoio que, ao mesmo tempo, exerce uma pressão para que o pagamento seja feito na data correta.

Em 1983, o Banco Grameen tornou-se um banco oficial para fornecer empréstimos aos empobrecidos, principalmente mulheres na zona rural de Bangladesh. Atualmente, o banco tem mais de 2.500 agências e presta serviços em mais de 80 mil aldeias na Índia. Em 2019, a revista "Forbes" considerou a instituição uma das cinco empresas mais inovadoras e de maior impacto social no ano. A ideia se espalhou por quase todos os países do mundo, incluindo os mais industrializados.

No Brasil, o trabalho e as inspirações de Muhammad Yunus acontecem por meio da Yunus Negócios Sociais, empresa que faz parte da rede Yunus Social Business Global Initiatives. Desde 2013, o local investe em negócios sociais, construindo uma ponte entre empresas e filantropia, reunindo empreendedores, investidores e grandes corporações comprometidos com negócios pautados pelo impacto positivo gerado para a humanidade.

"A nossa principal missão é usar o poder dos negócios para resolver problemas sociais e ambientais. Fomentamos negócios que promovam emprego, educação, saúde, água e energia, tudo de forma sustentável", explica Tulio Notini, diretor de Corporate Innovation, na Yunus Negócios Sociais.

Os cases de sucesso são muitos. Um deles é o projeto AMA, realizado com a Ambev, que tinha o objetivo de levar água para comunidades do semiárido brasileiro. "Esta ação começou em 2017 e hoje já são quatro anos levando água potável para uma população que antes perdia até 6 horas buscando água limpa, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário. Já são mais de 223 mil pessoas beneficiadas com o AMA".

Outro projeto é o MeuChapa, negócio social que oferece uma plataforma digital em que empresas com demandas de tarefas de logística de carga e descarga de caminhões se conectam com os "chapas", intermediando a contratação de serviços com segurança e transparência para as duas partes. "Para o contratante, a MeuChapa oferece gestão e acompanhamento das tarefas e redução de custos. Para os chapas, oferece oportunidade de aumento de renda por meio da redução da ociosidade e custo de deslocamento, além de oferecer segurança e eliminação de práticas de crueldade", avalia o profissional.

Criado em 2019, o Meu Chapa conta com mais de 1.800 chapas em diferentes localidades do Brasil que realizaram tarefas por meio da plataforma, com 93% deles afirmando terem tido aumento de renda após a parceria.

Para Túlio, a homenagem que Muhammad Yunus recebeu na abertura dos Jogos Olímpicos, além de merecida, pode ser um pontapé para ampliar a visibilidade do trabalho realizado por Yunus. "É a chance de reforçar a mensagem do professor, de que é preciso nos organizarmos para transformar a sociedade e gerar um futuro melhor para todos. Principalmente em meio a uma pandemia. Há uma urgência de ação", afirma.