Maior horta comunitária da AL alimenta centenas, mas teme falta de recursos
Com o tamanho equivalente a mais de quatro campos de futebol, a horta comunitária de Manguinhos se tornou famosa como a maior horta comunitária da América Latina. Mas ela é responsável por muito mais: desde a revitalização da comunidade e da retirada de pessoas da criminalidade até o reconhecimento da ONU.
O projeto Hortas Cariocas começou há 15 anos, durante a gestão do ex-prefeito César Maia (DEM). A horta de Manguinhos chegou pouco depois, há 8 anos. Foi implementada na favela após a ocupação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no local. Desde então, o projeto revitalizou o espaço que antes funcionava como um lixão e ponto para usuários de crack.
"Antes os moradores abriam as portas e davam de cara com um lixão e com uma 'cracolândia', hoje eles abrem as portas felizes e dão de cara com o verde da horta.", afirma Ezequiel Dias, 44, que é um dos responsáveis pelo projeto e mora desde sempre na comunidade.
Ezequiel, que atua como agente integrador no projeto, está nele desde o início e ressalta a importância da sua manutenção: "A horta de Manguinhos transformou a cara dessa comunidade e a vida dos trabalhadores daqui. Ainda mais agora com a pandemia, a gente até deixou de fazer as vendas e passou a fazer só distribuição."
Durante a pandemia, os projetos que são parte do Hortas Cariocas distribuíram toda a sua produção para a população local. Ao todo foram mais de 82 toneladas de alimentos orgânicos doados. Somente a horta de Manguinhos produz duas toneladas de alimentos por mês.
Agonia da horta
O projeto emprega 23 pessoas que recebem uma bolsa de R$ 500 para sobreviver, mas que, com a atual gestão da prefeitura, relatam viver a incerteza da continuação. O programa recebia R$ 1.460.987,49 anuais para a distribuição entre as 49 unidades, 24 em comunidades e 25 em escolas municipais, mas teve o repasse atrasado pela gestão do prefeito Eduardo Paes (PSD), segundo fontes ouvidas por Ecoa. A prefeitura do Rio nega e diz que "O orçamento para as hortas subiu de R$ 1.460.987,49 (2020) para R$ 2.233.970,00 (em 2021), um aumento de 52,9%". Os trabalhadores da horta de Manguinhos, no entanto, contaram que ficaram sem receber seus salários nos primeiros dois meses de 2021.
A horta de Manguinhos ajudou durante a pandemia mais de 800 famílias a sobreviverem. O projeto Hortas Cariocas foi incluído na lista de ações consideradas essenciais para alcançar os seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável pela Organização das Nações Unidas (ONU). "Eu quero pedir às autoridades e governantes para que olhem mais esse projeto, ele não pode acabar. Ele tem que ser expandido, não encerrado", diz Ezequiel.
Outro lado
A reportagem de Ecoa tinha entrado em contato com a prefeitura do Rio na sexta-feira (18). Em nota enviada hoje (21) a Ecoa, a prefeitura alega:
"O Hortas Cariocas garante emprego verde e segurança alimentar para os que mais precisam. Nosso compromisso com a inclusão socioambiental continua - e avança. O programa abrange 49 comunidades e escolas públicas, somando 24 hectares de áreas de cultivo. São atualmente 216 bolsistas do programa. As bolsas dos hortelãos e hortelãs passaram de R$ 450 para R$ 500, em 2021. Os encarregados pelas hortas recebem R$ 650. O orçamento para as hortas subiu de R$ 1.460.987,49 (2020) para R$ 2.233.970,00 (em 2021), um aumento de 52,9%. Projeto vem sendo alavancado. Os repasses nos primeiros cinco meses do ano superaram os do mesmo período do ano passado. As hortas produzem 80 toneladas por ano, e nossa meta é dobrar a produção em 2030."
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