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"Envelhecer Sustentável" ajuda lares de idosos periféricos contra covid-19

O trabalho do "Envelhecer Sustentável" nos lares de idosos das periferias - Horas da Vida/Divulgação
O trabalho do "Envelhecer Sustentável" nos lares de idosos das periferias Imagem: Horas da Vida/Divulgação

Isabella Garcia

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

12/01/2021 04h00

"Nosso primeiro contato com as unidades foi feito via telefone e alguns gestores chegaram a chorar na linha pois não acreditavam que era possível encontrar uma luz no fim do túnel. Muitos não estavam conseguindo pagar o salário dos funcionários, pois os insumos de proteção estavam consumindo o orçamento dessas unidades. Entendemos que o modelo colaborativo seria a melhor forma de fazer o projeto rodar, então fizemos parcerias com a UMANE (antiga Associação Smaratinano) e o Instituto Sempre em Movimento", diz Elisangela Tolosa diretora de Desenvolvimento Organizacional no Instituto Horas da Vida.

O Horas da Vida é um instituto que vem a sete anos proporcionando acesso à saúde às pessoas mais necessitadas. Para isso, conta com uma rede de voluntariado de profissionais da área da saúde. Com a chegada da pandemia de coronavírus, observaram como a doença estava se espalhando se deram conta de que os lares de idosos do Brasil precisavam de uma assistência para conter a disseminação do vírus. Os idosos foram apontados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o grupo mais vulnerável à morte e às complicações causadas pelo novo coronavírus. Isso pois nessa idade ocorre um declínio da imunidade e uma propensão ao aparecimento de doenças crônicas.

Os voluntários do Horas da Vida debateram e chegaram à conclusão de que os lares que são mantidos pela prefeitura estão bem assistidos e dentro das normas de segurança. Os lares filantrópicos recebem bastante apoio, pois geralmente estão localizados nas regiões centrais e, por serem mantidos por empresas, conseguem uma visibilidade maior e consequentemente recebem mais doações. O grande problema estava nas instituições particulares localizadas nas regiões periféricas. Para ajudar essas unidades, o Horas da Vida criou o projeto "Envelhecer Sustentável".

Desde agosto, a iniciativa vem atendendo mais de 500 idosos e 300 funcionários divididos em 20 lares de longa permanência espalhados por regiões como Embu das Artes, Parelheiros, Itaim Paulista e Guarulhos. Assim que começou a operação, eles fizeram testes nos idosos e funcionários e perceberam que dentro das unidades existiam pessoas contaminadas, sendo que algumas estavam assintomáticas. A partir dessa experiência, começaram a isolar os pacientes infectados e afastaram os funcionários que testaram positivo para a COVID-19. O segundo passo foi desinfectar as unidades para eliminar o vírus e assim impedir futuras contaminações.

Os funcionários se deslocam pela cidade para ir e voltar de seus trabalhos, fazendo com que tornem-se vulneráveis ao contágio. Para manter os locais sem infectados, o "Envelhecer Sustentável" escutou médicos e especialistas e criou um roteiro de entrada nas unidades para que a contaminação não aconteça. É necessário higienizar os pés, colocar a sapatilha Propé, um avental por cima da roupa, higienizar bem as mãos e estar com a máscara limpa e posicionada da forma correta. Todos esses Equipamentos de Segurança Individual (Epis) são doados mensalmente pelo projeto. Para isso, a equipe de voluntariado faz duas visitas mensais aos lares de idosos: a primeira é para entregar os Epis e a segunda é para ver se esses equipamentos serão o suficiente para suprir as necessidades até o final do mês.

Epidemia de medo e desinformação

Envelhecer Sustentável - Horas da Vida/Divulgação - Horas da Vida/Divulgação
Lares de Idosos particulares das periferias do Brasil recebem apoio na luta contra o coronavírus
Imagem: Horas da Vida/Divulgação


Elisangela Tolosa, do Horas da Vida, relata que a chegada da COVID-19 provocou uma avalanche de mudanças e medo na vida de gestores e funcionários que, mesmo tomados por esses sentimentos, precisavam se manter fortes pois a rotina continuava dentro dos lares.

Os enfermeiros voluntários do instituto se reuniram e criaram a "Central de Enfermagem do Envelhecer Sustentável" para esclarecer dúvidas, prestar apoio aos gestores e realizar atendimentos. Além disso, o projeto vem se desdobrando para realizar palestras, orientação para os gestores e funcionários e também atendimento psicológico.

Gisele da Silva administra três unidades beneficiadas e relembra que o começo da pandemia foi marcado por muito medo e incerteza. "Cada lugar noticiava uma informação diferente sobre o vírus. Uns diziam que a máscara durava 2 horas, outros falavam em 4 horas. Esse desencontro de informações nos dava medo e a gente não sabia como agir. Tudo mudou quando fomos acolhidos pelo Horas da Vida, um grupo que entendeu o tamanho da nossa preocupação. Eles não vieram apenas para nos ajudar na compra de Epis, eles pararam para ouvir todas as nossas angústias e o quanto estávamos aflitos" relembra.

A gestora gosta de chamar as unidades de "residenciais", pois essa é a moradia daqueles idosos. Gisele conta que a mensalidade nos residenciais é superior a um salário mínimo, em média R$ 2.700, fazendo com que a maioria das famílias periféricas dividam esse valor entre filhos e netos. Ela justifica que o serviço prestado é muito caro, em cada unidade ela tem em média 12 funcionários. Com a chegada da pandemia, alguns familiares perderam o emprego, fazendo com que muitos idosos deixassem os lares. "Se não fosse o projeto, eu já teria fechado duas unidades", conta.

"O Envelhecer Sustentável nos ajudou a pensar em tudo: no tapete de sanitização, em uma mesa na entrada que serve para a higienização das mãos e colocação dos Epis. Além disso, fornece vitamina D, proporciona uma conexão entre o médico da unidade com o do projeto e nos ajuda a conseguir medicamentos, oxigênio e fraldas. Nesse período, infelizmente, tivemos contaminação e alguns dos nossos residentes vieram a óbito. Não consigo olhar para essas pessoas apenas como números. Elas são vidas que importam muito para nós, então é difícil falar sobre isso. O projeto fez com que a gente conseguisse controlar a disseminação da doença e fazer com que o número de mortes não fosse grande. Ainda tem muito trabalho pela frente até a imunização mas hoje, a poucos meses da vacina, consigo dizer que consegui enfrentar a pandemia com bons resultados. Sou muito grata pelo projeto, se não fosse por ele, acho que não teria conseguido passar por esse momento" conclui Gisele.

Para manter a iniciativa viva, o "Envelhecer Sustentável" está aberto à colaboração de empresas e também para doações de produtos e serviços que possam beneficiar os idosos e profissionais. Para contribuir entre em contato em: contato@horasdavida.org.br