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Noah Scheffel

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Me dá aqui o holofote da consciência humana

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Imagem: iStock

22/11/2021 06h00

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Em pleno mês da consciência negra, nesta semana que passou o assunto "vagas afirmativas" deu o que falar na maior rede social profissional do mundo. No LinkedIn, uma profissional coordenadora de marketing de uma empresa de varejo resolveu "lançar polêmica" (sim, em pleno 2021) e questionar por qual motivo as pessoas não são contratadas por suas competências.

Para quem não sabe, vagas afirmativas vêm para suprir a lacuna de pessoas com marcadores sociais sub-representados no mercado de trabalho e em cargos estratégicos. Se você não sabe quais são essas pessoas, basta olhar ao redor, no local onde você trabalha, e contar quantas pessoas negras, quantas pessoas com deficiência, quantas pessoas trans são suas colegas de trabalho — ou melhor, quantas delas estão em cargos superiores.

Novembro chega junto com a "revolta" das pessoas brancas de não ter os holofotes apontados para si, como em todos os outros 11 meses do ano, destilando desinformação e preconceito. Acredito que deva realmente ser assustador ver o quanto as mobilizações sociais em prol da equidade estejam avançando, e as pessoas negras protagonizando as suas vidas a partir de ações reparatórias e justiça social. Deve mesmo ser de apavorar que, após toda uma vida vivida, você precise encarar que a sua posição de poder sobre outras pessoas está ameaçada, e o pedestal em que você mesmo se colocou por conta do racismo estrutural está começando a ruir.

Então se as pessoas realmente "não vissem cor", por qual motivo elas estariam assim tão ameaçadas com ações que oportunizam para as pessoas os mesmos acessos? Esse pra mim é o principal indício do medo. Discursos de que "me basta ser um bom profissional", "deveríamos olhar para consciência humana", ou "estão ficando com as nossas vagas", sem um posicionamento das empresas contra esse tipo de "opinião", vão do racismo sutil até o racismo explícito. Imagine então como é dentro dessa organização para uma pessoa negra, quando a sua própria entrada, enquanto indivíduo, é carregada de oposição.

Já deu pra entender que tem coisa que não é opinião, e que sim, as empresas precisam se responsabilizar pelo que propagam e pela imagem que é refletida delas por pessoas que fazem parte dela. Essa "opinião no LinkedIn" é a amostra de como as pessoas ainda não conseguiram entender que só poderemos falar de igualdade, e de não olhar para a cor, quando a realidade da sociedade e das organizações refletir ambientes equânimes, ou seja, quando as reparações históricas necessárias forem feitas e as pessoas partirem todas do mesmo lugar de acesso e oportunidade. Porém estamos a anos-luz disso acontecer, e é nossa responsabilidade agir para que cheguemos lá em algum momento.

E não, quando existe uma ação de contratação afirmativa nós não estamos escolhendo entre raça ou competência, pois não são apenas as pessoas brancas que são talentosas. Estamos olhando para o contexto social de exclusão, aquele mesmo que você reparou quando prestou atenção nos seus colegas de trabalho e superiores, evidenciando um estrago que foi feito anos atrás, e que vocês, pessoas brancas, precisam se comprometer a consertar.