Noah Scheffel

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Opinião

Contratação por competências pode ser caminho para o mercado de trabalho

Você já abriu uma conta em um banco digital em poucos minutos, correto? Você já pensou como é esse processo para uma pessoa trans? Para mim, é impossível. Afinal, a foto do meu documento de identificação é completamente diferente da minha atual aparência, fazendo com que a tecnologia que roda por trás da validação acredite que eu seja outra pessoa. Agora imagine se no momento em que essa tecnologia foi pensada, antes de ser amplamente disseminada, houvesse uma pessoa trans como eu, com uma foto muito diferente em seu RG? Ela teria avisado que tal tecnologia não funcionaria para ela e, portanto, poderia não funcionar para outras pessoas também. Aqui teríamos espaço para pensar uma alternativa para que pessoas trans não fossem excluídas do uso de um produto.

Mas, por conta do preconceito, muitas pessoas de grupos sub-representados no mercado de trabalho, como pessoas transgênero e pessoas com deficiência, podem chegar à vida adulta sem nunca ter tido uma oportunidade no mercado de trabalho formal, e isso se torna um labirinto sem saída, uma vez que as empresas pedem experiência, mas não dão chance de quem não tem experiência, adquiri-la.

Por isso, olhando para diversidade e inclusão, alguns movimentos de contratação por competências vêm surgindo em empresas que querem crescer tanto em inovação como financeiramente frente aos seus concorrentes. Empresas essas que entenderam o valor da diversidade de profissionais em toda sua cadeia de produção e operação. Afinal, como eu sempre digo, elas estão produzindo um produto ou serviço que é feito por todas as pessoas e, portanto, para todas as pessoas.

A contratação por competências é uma abordagem de recrutamento e seleção que se concentra nas habilidades e qualidades específicas necessárias para desempenhar um determinado trabalho, em vez de apenas na experiência ou qualificações formais da pessoa candidata. Nesse modelo, as competências essenciais para o cargo são identificadas com antecedência e usadas como critérios principais para avaliar as pessoas.

Diferentemente da contratação tradicional, aquela em que se olha o CV ou o LinkedIn em busca de experiências prévias, faculdade, intercâmbios, ou o que chamo de "currículo comprável", as organizações estão chegando a pessoas que não tiveram as oportunidades de cursar uma faculdade, fazer um curso de idiomas, por exemplo, mas que, pelas suas trajetórias na vida, obtiveram as competências que o cargo requer.

Essas competências podem incluir habilidades técnicas, como conhecimento em determinadas tecnologias ou procedimentos, bem como competências comportamentais, como capacidade de trabalhar em equipe, liderança, comunicação eficaz, resolução de problemas, entre outras. E nem todas elas precisam ser aprendidas em uma experiência formal de trabalho. Por exemplo, uma pessoa que para sobreviver precisou fazer bolos e vendê-los de porta em porta possui competências de negociação, comunicação, organização, orientação para o mercado e para o cliente, ou seja, competências que se encaixam com uma vaga na área de vendas de uma grande empresa.

A contratação por competências tem sido mais eficaz do que métodos tradicionais de recrutamento, pois permite uma avaliação mais precisa do ajuste da pessoa candidata ao cargo e à cultura da empresa. Principalmente, pode ajudar a identificar candidatos com potencial de crescimento, mesmo que não tenham toda a experiência exigida no momento da contratação.

Imagine você que, em algum momento, essa pessoa diferente será a que irá levantar a bandeira para sinalizar que um produto ou serviço não vai atender toda a sociedade e uma alternativa necessária será criada, fazendo com que aquela empresa tome a frente do diferencial competitivo em comparação a tantas outras organizações, aparentemente, iguais.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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