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Noah Scheffel

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O que aprendi liderando times diversos

Rudzhan Nagiev/Getty Images/iStockphoto
Imagem: Rudzhan Nagiev/Getty Images/iStockphoto

18/10/2021 06h00

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Antes de trabalhar diretamente com inclusão e diversidade, eu estive aí, no seu lugar. Você, que possui qualquer outra profissão e fica se perguntando o que deve fazer quando surge o assunto.

Por bastante tempo em minha carreira eu fui uma pessoa que não achava que precisava refletir sobre diversidade, mesmo tendo marcadores sociais que me colocavam em uma posição de sub-representatividade no mercado de trabalho e em cargos estratégicos. Eu sempre achava que era assunto de outra pessoa, problema para organizações e articulações políticas, ou qualquer outra representação que não fosse eu.

Mas é interessante como essa é uma pauta que, cedo ou tarde, vai chegar em você. E depois, não tem como voltar atrás. Não de uma forma negativa, mas de uma forma que você se vê sendo parte de algo que achou que não te compreendia.

Começo assim para contar um pouco sobre esse outro lado, e sobre o que eu aprendi quando essa pauta chegou até mim, enquanto eu liderava uma equipe. Quem sabe você perceba, a partir de tudo isso, que também tem muito a aprender. Todos temos!

1. Formar uma equipe diversa requer intencionalidade.
Inevitavelmente, pelos nossos vieses inconscientes, quando estamos em processo de contratar alguém, acabamos procurando por pessoas que sejam parecidas conosco, ou parecidas com pessoas que já compõem o time. Ou seja, para que consigamos formar uma equipe diversa, precisamos intencionalmente procurar pessoas diferentes, com marcadores sociais diferentes. E exercitar essa intencionalidade a cada oportunidade de contratação.

2. Formar uma equipe diversa não quer dizer que você formou uma equipe inclusiva.
Conseguir levar diversidade para dentro do time não é suficiente. É preciso ir além e olhar para as desigualdades entre essas pessoas, seja na sua trajetória de oportunidades para que possa criar mecanismos para equalizar as competências exigidas para o cargo, seja repensando o seu modelo de liderança para que através da empatia e escuta ativa você consiga dar protagonismo para essas pessoas diversas também. E nesse caso, estude muito sobre liderança inclusiva.

3. Você vai errar. Muito. Só que não pode ficar preso repetindo os erros.
Você cresceu e se desenvolveu em uma sociedade historicamente preconceituosa. Você vai ter atitudes machistas, racistas, lgbtfóbicas, capacitistas, e tantas outras, sem ter a intenção. E pior, não vai percebê-las. Só que, liderando uma equipe diversa, você precisa de duas ações para ir contra esse estado natural: estudar muito sobre os recortes sociais, e principalmente estar aberto a receber feedbacks sobre esses atos, seja da própria equipe ou de demais colegas. Aqui você tem a responsabilidade de deixar transparente a sua abertura para receber esse tipo de retorno, e isso vai desde se mostrar aberto e manter uma comunicação constante com cada pessoa da equipe para criar um laço de confiança, até não reagir negativamente com coisas desconfortáveis que possam ser (e vai por mim, serão) apontadas sobre suas ações. Sei que nossa reação imediata é negar, e não por mal, mas porque a gente não se percebe, ou não percebe a outra pessoa. Se uma pessoa está chegando em você para te dizer que você errou, acolha! Essa comunicação é valiosíssima pois demonstra que, enquanto líder, você conseguiu criar um espaço seguro, e mais que isso, que a pessoa acredita que você vai fazer algo para corrigir o erro. Se isso acontecer, valorize o voto de confiança que recebeu, mesmo que seja desconfortável o que veio com ele.

Ah, e aprenda com o erro! Assim, não vai repetir e não corre o risco de machucar a mesma ou a outra pessoa com esse mesmo assunto. Mas mantenha a atenção e o estudo contínuo, pois existem diversos atos nossos que ferem de formas diferentes os diversos recortes sociais com que convivemos. E, apesar de conviver ser a melhor forma de aprender, se ficar só nisso, vai estar usando as pessoas de cobaia para o seu aprendizado. Então seja agente do seu próprio aprendizado.

4. Você vai liderar uma equipe engajada, criativa e com entregas de valor que representam a sociedade.
Criando um ambiente inclusivo para a diversidade, em que as pessoas do seu time podem ser quem são e têm uma comunicação aberta, e você lidera de forma inclusiva baseando-se na equidade e na escuta ativa, o time todo se destaca e se sente pertencente. Isso porque as pessoas se sentem felizes e confortáveis para trabalhar dando o seu melhor, sem se preocupar com situações em que não seriam apoiadas pela liderança, ou tendo que gastar tempo escondendo quem são. E também porque essa pluralidade de existências num mesmo espaço, produzindo um mesmo produto, traz diversas óticas e fomenta debates que colaboram para entregas muito mais ricas, inovadoras e que compreendam todas as pessoas da sociedade - porque foram feitas por representações de todas as pessoas.

Existem diversas outras coisas que se aprende quando se lidera uma equipe diversa à medida que vamos incluindo essas pessoas em nosso ambiente organizacional, e é importante salientar que o aprendizado é nosso e contínuo. Mesmo que seja desafiador começar, depois que você se encontra neste caminho percebe que vale a pena. As vantagens são inúmeras frente aos desafios, tanto para a organização de que fazemos parte, quanto para os times, e também para as entregas e resultados.

Levar a diversidade para dentro das equipes não é caridade ou, como em alguns lugares, apenas metas a serem batidas. Levar diversidade para todos os lugares que habitamos é, além da coisa certa a fazer, a melhor coisa que poderíamos fazer por nós mesmos.