Rival da BYD: o que sabemos sobre marca brasileira que quer fábrica da Ford

Uma nova marca de carros elétricos demonstrou interesse pela fábrica da Ford em Camaçari (BA), que a princípio estava com destino certo apenas para a BYD. Trata-se da Lecar, empresa brasileira que planeja tirar a planta das mãos dos chineses oferecendo uma proposta de investimentos e número de funcionários ainda melhor.

"Um patrimônio público não se pode dar para quem quiser, e muito menos prometer, como o Governo da Bahia estava prometendo. Como o dinheiro é do povo, existem critérios para a venda, deve-se seguir o devido processo legal. Nesse caso, o estado publicou o chamamento público e nós estamos interessados", afirmou o empresário de Flávio Figueiredo Assis, um dos sócios da empresa, à colunista do UOL Carros Paula Gama.

Essa concorrência repentina pela fábrica levanta uma série de questões. Como a Lecar teria condições de "falar mais alto" diante da gigante chinesa? O UOL Carros buscou mais informações sobre a marca brasileira que planeja lançar um carro elétrico nacional.

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Flávio Assis, dono da Lecar
Flávio Assis, dono da Lecar Imagem: Divulgação

Ex-dono da empresa financeira Lecar, Flavio Assis criou a fabricante Lecar Indústria Brasileira de Automóveis Elétricos em fevereiro de 2022, há exatos dois anos. Sua equipe de engenheiros é composta por profissionais com passagens por marcas como Nissan, Toyota e Ford. Até o fim de 2025, a empresa visa faturar R$ 1 bilhão.

Plano para a operação: Flávio diz que a primeira planta ficará em Flores da Cunha (RS) e será responsável pela produção do Model 459, sedã inspirado nos Tesla, que será o primeiro lançamento da empresa. Ao menos 35% dos seus componentes virão de fornecedores chineses que já atendem, dentre outras marcas, Hyundai e Volkswagen. Os 65% restantes serão fornecidos por empresas nacionais.

Primeiro carro a ser produzido: segundo o empresário, o modelo em questão custará R$ 279 mil, terá autonomia de 400 km por carga e poderá acelerar até 100 km/h em menos de 7 segundos. Conforme o site da marca, o veículo tem a capacidade de carregamento até 80% em 25 minutos, quando plugado em carregador rápido.

Em Camaçari, o objetivo é fabricar o que seria o seu futuro carro-chefe, que já tem nome: Lecar Pop. A marca quer posicioná-lo abaixo dos R$ 100 mil, preço que a colocaria em um patamar mais atrativo para o bolso do que a BYD consegue fazer atualmente.

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Segundo Assis, a primeira linha de produção (a do Sul do Brasil) começará a ser instalada no segundo semestre de 2024. Em Camaçari, a ideia é começar a produzir em junho de 2026. O investimento para implantação da Bahia seria entre R$ 6 bilhões e R$ 8 bilhões, com a criação de até 15 mil empregos.

Para financiar o projeto, a ideia é abrir o capital da empresa, que hoje é de natureza limitada. Planeja captar R$ 5 bilhões em oferta pública de ações (IPO) na bolsa de valores para produzir 50 mil carros em cinco anos, com receita estimada em R$ 14 bilhões.

Dentre outros planos, quer produzir 300 veículos por mês já no primeiro ano de fabricação, para, assim, gerar 600 empregos diretos no ato. Os principais mercados seriam os das cidades que compõem a Grande São Paulo, como a capital, Campinas e São José dos Campos.

Plano é investir inicialmente R$ 1,1 bilhão, sendo R$ 80 milhões destinados à homologação, R$ 600 milhões em obras civis, ferramental, moldes e robotização da linha de produção, bem como R$ 400 milhões na fabricação dessas primeiras 300 unidades.

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Fábrica da Ford em Camaçari (BA)
Fábrica da Ford em Camaçari (BA) Imagem: Rafael Martins / UOL
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O dono da marca ainda afirmou ao UOL Carros que avaliadores a serviço da empresa foram à fábrica da Bahia para conferir a qualidade dos maquinários e de tudo o que virá acompanhado dela no ato da sua venda. Aliás, a Lecar estaria negociando os equipamentos diretamente com a Ford. Mas à coluna, a marca norte-americana não confirmou os fatos.

"Todos os equipamentos estão em ótimo estado de conservação. Esses maquinários irão agilizar a produção dos carros elétricos brasileiros. O acesso a esse maquinário vai acelerar em 20 anos o projeto da Lecar. Há robôs que, por meio de câmeras, fazem a avaliação geométrica da estrutura do carro, garantindo a conformidade das medidas e dimensões das estruturas", disse Assis.

Para o empresário, equipamentos que atuam nos serviços de solda, montagem de bancos, painel, instalações e colagem de vidros, análises dimensionais e calibração com precisão absoluta são os pontos altos. Junto da aquisição, está inclusa uma célula robotizada de montagem e instalação de teto solar.

"Uma prensa de 12 mil toneladas e seis setores podem produzir as estruturas metálicas e nossas carrocerias. A Ford é pioneira em tecnologia e trouxe para Camaçari o que existe de melhor no mundo para fabricar os seus carros. Queremos ter o privilégio de usar essas máquinas na fabricação de carros elétricos 100% brasileiros", completa.

Curiosamente, isso tudo se deu apesar de a BYD já ter trocado os emblemas da Ford pelos dela nos arredores da planta. Entretanto, como ainda restam todos os trâmites legais para a posse dos chineses, como a compra do terreno, tecnicamente nada mudou e ainda é a Ford quem decide quem vai receber, e se vai. Enquanto isso, não há muito o que os chineses possam fazer. Procurada pela redação, a BYD preferiu não se posicionar sobre o assunto.

E da parte do governo baiano, envolvido no processo de venda da planta, a última atualização que deu foi no dia 31 de janeiro. Na ocasião, foi publicado um chamamento público para interessados no imóvel. O documento dizia que a BYD já havia feito um requerimento para "o desenvolvimento das suas atividades destinadas à produção de veículos elétricos e híbridos, processamento de lítio e ferro fosfato, chassis de ônibus elétrico e caminhões elétricos".

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Além do mais, foi dito que, caso houvesse, demais interessados poderiam apresentar propostas em até 30 dias. Vendo isso, a Lecar foi ligeira e o fez, fato confirmado pelo governo baiano anteontem (28).

"Por intermédio do mesmo canal, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado da Bahia (SDE) orientou a empresa sobre como proceder, de acordo com as regras do processo legal de concorrência pública em curso", afirma o governo baiano.

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