Máquinas de matar: por que moda de caminhões arqueados é perigosa e ilegal

Basta observar nas rodovias também nas redes sociais: os caminhões "arqueados", com a suspensão traseira levantada, tornaram-se uma verdadeira moda - apesar de a modificação ser proibida, por traz elevado risco de acidentes fatais.

Cheios de seguidores, os condutores desses veículos dividem a rotina nas estradas com a atividade de influenciador digital, buscando curtidas e, por vezes, ganhando fortunas com rifas ilegais dos caminhões convertidos em máquinas de matar.

O que é o caminhão arqueado

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A prática de elevar os eixos traseiros tornou-se comum nos últimos anos, especialmente entre os motoristas mais jovens

Nessa alteração, são inseridos sob a suspensão calços ou molas adicionais para dar a diferença de altura desejada

O problema é que essa customização eleva o risco de acidentes mais graves

Os caminhões arqueados também são chamados de "máquinas de matar" pelo possível "efeito guilhotina" em quem bate atrás de um veículo desses

O que está por trás desta onda perigosa?

A moda de arquear a traseira dos caminhões começou a se popularizar por volta de 2010

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Atualmente, existem vários encontros em que os amantes da prática se reúnem para expor suas máquinas

O universo dos caminhões arqueados também está fora das estradas: influenciadores propagandeiam nas redes sociais as supostas "vantagens" de modificar o caminhão

Ouvida pela reportagem, sob a condição de anonimato, uma mulher que trabalha em oficina especializada na modificação dos caminhões diz que o veículo fica "bem mais bonito" e "chama mais atenção" depois de ser arqueado. Ela tem mais de 60 mil seguidores no Instagram sobre esse mundo dos caminhões arqueados.

Um caminhoneiro que também foi entrevistado diz acreditar que, além da estética, a customização também dpa mais estabilidade ao caminhão - o que é contestado por especialistas.

Outro gás que impulsiona os caminhões arqueados vem das rifas ilegais destes veículos, promovidas por influenciadores nas redes sociais. Eles faturam alto com o negócio irregular.

Por que arqueado é perigoso

Mudanças na estrutura são consideradas perigosas
Mudanças na estrutura são consideradas perigosas Imagem: Reprodução/Instagram
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Segundo Rodrigo Kleinubing, engenheiro especializado em acidentes de trânsito, caminhões desse tipo podem ser considerados "máquinas de matar"

Ele explica que, ao alterar características originais do veículo, não é mais possível garantir os mesmos parâmetros originais de estabilidade e frenagem do veículo

A alteração mexe com dois itens que não devem ser mudados: a suspensão e o sistema de freios

Mexer no projeto original coloca em risco a segurança do caminhoneiro e de outras pessoas que transitam pelas estradas

Acidentes envolvendo veículos de carga com traseira elevada podem ser muito mais graves, considerando o grande número de batidas de carros de passeio atrás de caminhões

Por que arqueado é ilegal

O advogado Marco Fabrício Vieira, membro da Câmara Temática de Esforço Legal do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), afirma que os arqueados apresentam diversas irregularidades do ponto de vista legal.

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"Conforme o Artigo 230 do CTB [Código de Trânsito Brasileiro], conduzir veículo com características alteradas sem autorização, como é o caso da suspensão rebaixada, constitui infração grave, com acréscimo de cinco pontos no prontuário da CNH, multa de R$ 195,23 e retenção do veículo até a respectiva regularização", informa.

Segundo o especialista, pode haver agravantes: há casos nos quais o veículo é conduzido sem banco do motorista, encosto de cabeça, cinto de segurança e limpador de para-brisa.

"Conduzir veículo sem equipamento obrigatório ou estando ineficiente ou inoperante também constitui infração grave, com as mesmas sanções da suspensão irregular", complementa Vieira.

Quando rifas são ilegais

Chamados pelos próprios realizadores de rifas, sorteios de veículos e outros bens muitas vezes não têm registro nos órgãos competentes e se tornaram uma prática extremamente rentável.

Muitos organizadores até tentam passar a impressão de legalidade ao dizer que as rifas promovidas são filantropia premiável e os sorteios, realizados pela Loteria Federal.

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De fato, essa modalidade de sorteio existe e nada mais é do que um título de capitalização emitido por instituições financeiras sob autorização da Susep (Superintendência de Seguros Privados), cujo resgate é destinado a entidades beneficentes.

Contudo, a prática não prevê a venda de cotas individualmente, e sim a aquisição do título, que dá direito a um ou mais "números da sorte" para concorrer a prêmios. Além da filantropia premiável, sorteios também podem ser realizados mediante certificado de autorização do Ministério da Economia. Nesse caso, a comercialização de "números da sorte" também é proibida.

Conforme o ministério, é permitido a uma empresa sortear veículos e outros bens "por meio da venda de seus produtos" - ou seja, uma determinada quantia gasta dá direito a um ou mais números para concorrer aos prêmios. É o que costuma acontecer em ações promocionais de shoppings, por exemplo. Cabe às entidades citadas fiscalizar as empresas e investigar eventuais suspeitas ou denúncias de irregularidades.

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* Com informações de reportagens publicadas em janeiro de 2022, outubro de 2022, fevereiro de 2023.

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