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Paula Gama

REPORTAGEM

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Caminhões arqueados: como governo Lula planeja combater 'máquinas de matar'

Youtubers chegam a sortear caminhões arqueados nas redes sociais - Reprodução
Youtubers chegam a sortear caminhões arqueados nas redes sociais Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

02/02/2023 04h00

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A moda dos "caminhões arqueados", denunciada por UOL Carros e que chocou a população durante o ano de 2022, teve seus altos e baixos. O movimento saiu da invisibilidade para se tornar alvo de grandes operações da Polícia Rodoviária Federal, antes de ficarem mais raras após um pedido de "vista grossa" do então ministro da Infraestrutura da gestão Bolsonaro, Tarcísio de Freitas. Agora, o governo Lula afirma que a prática será fiscalizada com o rigor da lei.

UOL Carros entrou em contato com o Ministério da Justiça e Segurança Pública para entender como o tema será tratado na gestão atual. Por meio de nota, o órgão não detalhou se haverá ações direcionadas, mas disse que "caminhões arqueados fora dos padrões originais, ou com modificações em desacordo com o positivado pela legislação nacional, foram e continuarão sendo fiscalizados no rigor da lei, para manutenção da segurança no trânsito, com o intuito de proteger e salvar vidas, diminuindo os índices de acidente em todo o Brasil".

O acidente entre dois caminhões arqueados causou a morte de duas pessoas - Reprodução - Reprodução
O acidente entre dois caminhões arqueados causou a morte de duas pessoas
Imagem: Reprodução

O perigo dos caminhões arqueados, que possuem dianteira rebaixada e traseira elevada, ficou evidente após um acidente entre dois modelos com essas características. Em janeiro do ano passado, na BR-116, em Curitiba, Gerson Mattos bateu na traseira do caminhão arqueado de seu pai, Jetro Mattos, e faleceu, junto com sua esposa Patrícia Abreu. Como alertado por especialistas, a cabine do seu veículo foi parar embaixo do para-choque do caminhão da frente, o que, na maioria dos casos, causa ferimentos fatais.

Segundo informações de Rodrigo Kleinubing, engenheiro especialista em acidentes de trânsito, caminhões desse tipo são verdadeiras máquinas de matar. Isso porque, alterando características originais, não é mais possível garantir os mesmos parâmetros de estabilidade e frenagem do veículo.

"A alteração mexe com dois itens que não devem ser mudados: a suspensão e o sistema de freios. Mexer no projeto original coloca em risco a segurança do caminhoneiro e de outras pessoas que transitam pelas estradas".

Kleinubing alerta que os acidentes envolvendo veículos de carga com traseira elevada podem ser muito mais graves, considerando o grande número de batidas de carros de passeio atrás de caminhões nas rodovias devido à diferença de velocidade média.

"Elevar a traseira incentiva o fenômeno de o carro entrar sob o caminhão em caso de batidas. Tínhamos esse problema sério no Brasil, que foi resolvido com a obrigação das placas retrorrefletoras e dos para-choques. Esse tipo de acidente é altamente letal porque quando um carro entra embaixo do caminhão é muito comum que os passageiros da frente sejam decapitados", alerta o especialista.

Tarcísio pediu "vista grossa"

O "caminhão mais arqueado do Brasil" tinha três metros de altura - Reprodução  - Reprodução
O "caminhão mais arqueado do Brasil" tinha três metros de altura
Imagem: Reprodução

Após a tragédia envolvendo pai e filho, a Polícia Rodoviária Federal apertou o cerco contra os veículos modificados. Mas a atenção foi notoriamente reduzida após um pedido do então ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo.

"O pessoal está se prendendo em coisas que, embora estejam na norma, às vezes não fazem o menor sentido. No final, só aborrecem, geram multas desnecessárias e perda de tempo. Então, eu combinei com o diretor-geral da PRF [Silvinei Vasques] que a gente vai montar um grupo de trabalho para fazer uma revogação de normas, para eliminar da norma aquilo que está enchendo o saco, gerando autuação e não contribui para a segurança", disse à época.

Além do "revogaço", Tarcísio afirmou que a PRF daria um tempo nas fiscalizações consideradas por ele desnecessárias, como a de caminhões arqueados. "Vamos focar na fiscalização daquilo que é importante: bebida, rebite, essas coisa. Mas esse negócio de ficar vendo altura de traseira de caminhão, fita refletiva, etc, acho que não é o caso agora nesse momento."

Constrangimento passou rápido

Na época das grandes operações, diversos caminhoneiros defensores da moda, responsáveis por divulgá-la nas redes sociais, reconheceram que, devido à fiscalização, era hora de voltar às configurações de fábrica. No entanto, nas redes sociais e estradas, a moda segue em alta.

Conhecido como Jaquirana GBN, proprietário do "caminhão mais arqueado do Brasil" com mais de 3 metros de altura, foi um dos primeiros a abaixar a traseira. Desde então, o influenciador deixou de fazer postagens sobre o tema.

Já Carlinhos 262, um dos youtubers que resolveram acertar o caminhão devido à fiscalização, não só voltou a circular com o caminhão modificado, como chegou a anunciar sorteios de veículos com essa configuração. Na época das operações, ele afirmou que, se fosse retido, o prejuízo - contando com multa, regularização, perda do frete e entrega da carga para outro motorista - seria em torno de R$ 10 mil.

O youtuber Cabelo Batateiro, um dos grandes divulgadores da moda no país, também tem feito sorteios de caminhões arqueados em suas redes sociais, além de continuar postando imagens suas a bordo dos veículos.

Nas estradas, a coluna segue flagrando diversos caminhões com traseira levantada, em maior e menor nível, circulando sem constrangimento. Outros grandes perfis, como o "Os Guri da 330" e "Raelzin_09" reuniram milhares de seguidores exaltando caminhões fora da lei.

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