BMW Série 1 Sedan poderia, mas não vem ao Brasil; o que há por trás disso?
Feito para ampliar vendas na China e, agora, México, três-volumes de entrada teria "mercado difícil" no Brasil
Um comunicado no mínimo curioso chegou ao e-mail de UOL Carros nesta segunda-feira: na mensagem, a BMW do Brasil afirma, com todas as letras, um não-lançamento de carro que seria, em primeira leitura, importante. "BMW Série 1 Sedan não será oferecido no mercado brasileiro", repete a mensagem por quatro vezes.
Mas qual a razão para descartar um modelo como um sedã de entrada num mercado aquecido como o premium? E por que deixar concorrentes como Audi A3 Sedan e Mercedes-Benz CLA (fora o futuro Mercedes-Benz Classe A Sedan) rodando sozinhos por nossas ruas?
Claro, UOL Carros foi atrás de respostas. E parece que a atual conjuntura de nosso mercado é a chave.
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Mercado complicado
Oficialmente, a BMW do Brasil aponta apenas que o Série 1 Sedan acaba de ser lançado no México, mas teve "parte importante do processo de desenvolvimento", sobretudo no que se refere aos sistemas de comunicação e tecnologia de conectividade desenvolvidos "com a participação de engenheiros do BMW Group Brasil".
Isso explicaria, por exemplo, porque o carro foi visto circulando por diversas vezes em nossas ruas, com pouca camuflagem: validação de equipamentos. Mas seria só isso mesmo?
Segundos fontes ouvidas por UOL Carros, o teste "só ocorreu por conta do 'Inovar-Auto' [regime automotivo lançado pelo governo de Dilma Rousseff, em 2012, e encerrado há mais de um ano], que permitiu a montagem dessa estrutura avançada de tecnologia que temos aqui na BMW do Brasil". Nosso informante fala do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento, que faz parte do complexo industrial da BMW em Araquari (SC).
Além desse centro, a unidade, que tem capacidade produtiva para 32 mil carros por ano, entrega Série 3, X1, X3 e X4. E ainda exporta o X1 nacional aos EUA. E há rumores de que o novíssimo X2 também pode ser produzido localmente.
Não caberia um Série 1 Sedan -- considerando que X1, X2 e Série 1 Sedan são todos feitos sobre a plataforma UKL de tração dianteira -- saindo dessa unidade?
"De acordo com o posicionamento que a BMW montou no Brasil, adequado ao mercado premium local, não haveria espaço [para o Série 1 Sedan], pelo nível de equipamentos que ele traz, com preço legal", entregou nosso informante.
"O momento está complicado. A BMW briga com Porsche, Mercedes-Benz, com Land Rover pelo topo desse mercado indo cada vez mais para o premium, então não teria como posicionar esse modelo [num patamar mais baixo]", afirmou. "Olha o X3, é um carro praticamente sem concorrentes pelo que entrega, mas acaba custando R$ 300 mil. Não teria como [ter o Série 1 Sedan]".
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Vamos esclarecer essa leitura. O X3 citado é o da terceira geração, que tem apenas duas versões à venda no Brasil, sendo que apenas a inicial, a xDrive 30i X-Line (de R$ 309 mil) é fabricada localmente; a esportiva M 40i (de R$ 397.950) vem apenas por importação.
Abaixo dele, temos o X2 (R$ 211.950 a R$ 261.950), o X1 (R$ 191.950 a R$ 232.950) e o Série 2 Active Tourer (R$ 171.950) como veículos familiares. Na entrada, já fora do nicho "de família", a marca tem o Série 1 hatch, apenas importado, custando de R$ 139.950 a R$ 269.950.
Para estes modelos, a BMW considera apenas Volvo (com seu XC40 e, em breve, com a perua V60), Audi (Audi A4, A4 Avant, Q3 e Q5), Land Rover (com Discovery Sport e Evoque) e Porsche (Macan) como rivais. Mas e Mercedes-Benz? E o resto das linhas de produtos?
Ainda pela leitura dessa fonte da BMW, Mercedes-Benz (e seus CLA, sobretudo) e Audi A3 Sedan estão num patamar "inferior" do segmento premium de entrada, no qual as marcas apostam em vendas praticando preços que inviabilizam manter o nível de equipamentos.
Por um lado, o A3 Sedan de entrada foi lançado no país em 2015 por R$ 100 mil, chegando atualmente aos R$ 122 mil, tando pacote que já fez "concessões" como a troca da suspensão multilink por eixo de torção, bem como do câmbio Stronic de sete marchas pela configuração de seis marchas, entre outras. De outro, o Mercedes-Benz CLA chegou com "charme, sofisticação" e preço acima dos R$ 150 mil, mas atualmente tem configuração com poucos mimos do segmento premium a R$ 138 mil.
Positivamente, as rivais de BMW ganham vendas, mas do lado negativo sofrem concorrência -- e por vezes perdem -- de marcas comuns como Ford (com Fusion), Toyota (com Corolla Altis e XRS) e Honda (com Civic Touring 1.5 turbo), entre outras.
Audi entregou, até maio de 2018 (último mês de emplacamentos totalmente contabilizados pela Fenabrave), 826 unidades de seu A3 Sedan. A Mercedes emplacou 613 de seu CLA. Enquanto isso, a Toyota entregou 24.267 unidades do Corolla. E a Honda, 10.975 do Civic.
Já no patamar premium de entrada "superior", estariam os SUVs mais concorridos e, com eles, a BMW briga pela liderança: a linha Land Rover Discovery emplacou 1.794 unidades (a maior parte delas do Sport, que é o modelo de entrada da marca); a BMW vendeu 1.687 unidades do X1; a Mercedes-Benz colocou 1.148 unidades do GLA no mercado; a Volvo conseguiu emplacar 1.144 unidades do XC60.
De fato, considerando estes números, câmbio complicado, falta de novas regras (o atual governo atrasa por mais de ano a adoção do "Rota 2030"), todo o cenário, é mais fácil para a BMW assumir a fabricação lucrativa de SUVs do que do Série 1 Sedan.
O que é o Série 1 Sedan
Lançado agora no México, onde tem preços entre 489.900 e 570.000 pesos (R$ 92.700 a R$ 108 mil, limpos), o Série 1 Sedan surgiu há um ano na China, como forma da BMW solidificar sua participação naquele que é seu maior mercado no mundo (maior até que o mercado alemão), com mais de 500 mil unidades anuais.
E um carro com perfil totalmente urbano: no México, a versão 118iA Sport Line usa o motor três-cilindros, turbo, de 136 cavalos; já o 120iA Sport Line traz o quatro-cilindros, turbo, de 192 cv -- ambos movidos a gasolina, com transmissão automática de oito marchas e tração dianteira. A China tem ainda o 125i, 2.0 turbo de 234 cv.
Não há informações da BMW sobre o principal trunfo do Série 1 Sedan, o tamanho do porta-malas.
Nas demais dimensões, são 4,45 metros de comprimento, 1,80 m de largura e 1,46 m de altura -- um pouco maiores que as do Série 2 Coupé vendido no Brasil. Por outro lado, o entre-eixos é de apenas 2,67 m, menos espaçoso que o do Série 2 Coupé (2,69 m) -- além disso, um quinto ocupante tem problemas para acomodar pernas por conta do túnel central.
Em termos de equipamentos, há a central de conectividade e entretenimento desenvolvidas no Brasil, além do mimo do head-up display, rodas aro 18 e 19, câmera de ré, sensores e sistema auxiliar de estacionamento, teto solar e controles de tração e de estabilidade. E para por aí.
Com ou sem condições de ter uma existência lucrativa, você gostaria de ver o Série 1 Sedan no Brasil? Comente aí.
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