Paula Gama

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Carro elétrico é a solução? Gasolina sintética e até etanol mostram opções

A agenda de descarbonização, imposta pela necessidade de poupar recursos naturais e frear as mudanças climáticas, é um dos desafios atuais dos governos e da sociedade, exigindo uma transformação radical nos hábitos de consumo e nas tecnologias utilizadas. O transporte é uma das maiores fontes de emissão de gases de efeito estufa, representando 16% das emissões, perdendo apenas para agricultura (46%). No entanto, será que os carros elétricos são a única solução para atingir essas metas?

De fato, eles são neutros em emissão de carbono, mas depende do tipo de energia utilizada para abastecer a bateria. Para a conta fechar, é preciso que seja de uma fonte renovável, como usinas hidrelétricas, de onde vem a maior parte da energia do Brasil, estações eólica ou solar. No entanto, em países europeus, por exemplo, boa parte vem de fontes não renováveis, tornando a balança menos equilibrada.

Outra questão é que a produção de baterias para carros elétricos, embora essencial para a transição para uma mobilidade mais sustentável, tem impactos ambientais significativos. A extração de metais como lítio, cobalto e níquel pode causar destruição de habitats, contaminação de fontes de água e escassez hídrica.

O processo de fabricação é intensivo em energia, muitas vezes proveniente de fontes não-renováveis, resultando em emissões de gases de efeito estufa e poluentes. Além disso, o uso de produtos químicos tóxicos durante a fabricação pode causar poluição se não for adequadamente gerido. O descarte inadequado de baterias usadas também pode levar à contaminação do solo e da água com metais pesados e produtos químicos tóxicos.

No entanto, a eletrificação - mesmo com desafios - é um caminho importante, mas não único. Já que diversos estudos estão avançando em torno de outras soluções mais limpas do que os combustíveis fósseis tradicionais, gasolina e diesel. No Brasil, a situação é um pouco diferente graças ao uso do etanol. Produzido a partir da cana-de-açúcar, quando comparado à gasolina, o etanol emite menos CO2 durante a combustão.

Nesse contexto, os carros híbridos flex, que podem utilizar tanto etanol quanto eletricidade, representam uma solução interessante. Eles combinam a redução de emissões dos veículos elétricos com a flexibilidade do etanol, tornando-se uma opção viável para o mercado brasileiro. Principalmente quando o assunto é a falta de estrutura para carregamento. Esses veículos podem reduzir significativamente a dependência de combustíveis fósseis e, consequentemente, as emissões de carbono.

Outras soluções

Além dos carros elétricos e do etanol, existem várias outras tecnologias e práticas que podem contribuir para a redução das emissões de carbono no setor de transportes. Veículos movidos a célula de combustível de hidrogênio, por exemplo, emitem apenas vapor d'água, sendo uma alternativa promissora. No entanto, a produção e distribuição de hidrogênio ainda enfrentam desafios técnicos e econômicos.

Biocombustíveis avançados, como o biodiesel e o bioquerosene, também podem ser utilizados para reduzir as emissões de carbono. Além disso, tecnologias que aumentam a eficiência dos motores a combustão interna podem reduzir as emissões sem a necessidade de substituir toda a frota atual de veículos.

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Outra alternativa promissora são os combustíveis sintéticos. Produzidos a partir de CO2 capturado da atmosfera e hidrogênio verde, obtido através da eletrólise da água usando energia renovável, esses combustíveis podem substituir os combustíveis fósseis sem a necessidade de modificar os motores atuais.

Embora ainda sejam caros e estejam em estágio inicial de desenvolvimento, os combustíveis sintéticos têm o potencial de oferecer uma solução de baixo carbono.

Pressão da China

Atualmente, boa parte da pressão para adoção de carros elétricos vêm da China, já que a estratégia do país é depender cada vez menos do petróleo russo. Como a indústria chinesa dominou a produção desse tipo de veículo, e já alimenta um mercado interno de mais de 20 milhões de carros anuais, conquistou também preços competitivos.

Já a Europa, que sempre foi o principal centro de decisão do mercado automotivo, por sediar muitas matrizes de montadoras, tem a maior necessidade de eletrificação do mundo, pois não tem terra para produzir biocombustíveis e também não pode mais ser tão dependente de petróleo.

A União Europeia já havia decidido pela proibição da venda de carros que emitem poluentes a partir de 2035, condenando os híbridos e modelos 100% a combustão. No entanto, por pressão da Alemanha, sede de grandes grupos automotivos, decidiu voltar atrás: os carros a combustão são aceitos, desde que usem combustíveis sintéticos.

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Os carros elétricos certamente desempenham um papel importante na agenda de descarbonização, mas não são a única solução. O etanol e os carros híbridos flex, especialmente no contexto brasileiro, oferecem uma alternativa viável e imediata.

Além disso, explorar outras tecnologias como os carros a hidrogênio, biocombustíveis avançados e combustíveis sintéticos, bem como melhorar a eficiência energética, são estratégias complementares que podem contribuir significativamente para a redução das emissões de carbono. Por isso, o futuro se mostra muito mais eclético, do que puramente elétrico.

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Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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