Paula Gama

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GM em greve: com fábricas paradas, faltarão carros da Chevrolet à venda?

Uma série de demissões iniciadas pela General Motors no último sábado (21) levou cerca de 12 mil funcionários das fábricas de São Caetano do Sul, São José dos Campos e Mogi das Cruzes a entrarem em greve nesta segunda-feira. Com a paralisação, cerca de 950 carros estão deixando de ser fabricados por dia e, se depender do sindicato de metalúrgicos, faltarão veículos nas lojas da Chevrolet pelo país.

A afirmação é do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Weller Gonçalves. Segundo ele, os trabalhadores não voltarão enquanto os mais de mil colegas demitidos não forem reabsorvidos.

"A greve vai impactar na entrega de veículos, carros vão deixar de ser produzidos. Em São José dos Campos, a GM tem um acordo firmado com o sindicato de que não realizaria demissões ou adotaria outras ações sem prévia negociação com o representante legal dos trabalhadores, o que foi descumprido nessa ação arbitrária da empresa. Por isso estamos parando", afirmou Gonçalves.

Já Aparecido Inácio, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, cidade onde a Chevrolet produz 800 veículos por dia, diz que o impacto ainda não está sendo sentido, mas será em breve. "Em mais dois ou três dias de greve, começa a impactar."

Em setembro de 2023, a Chevrolet vendeu cerca de 1.331 veículos por dia útil, margem não tão distante do que foi comercializado durante todo o ano de 2023: 1.263 emplacamentos diários. Isso significa que, a depender do estoque da marca, a produção de 950 carros diários fará falta. É bom ressaltar que a Chevrolet já paralisou algumas linhas de produção, com chamado layoff, para ajustes de estoque no decorrer do ano.

Davi Martins, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Mogi das Cruzes, afirma que a Chevrolet tem alegado aos trabalhadores que os pátios estão cheios de carros em estoque, até mesmo para justificar as demissões.

"A gente acredita que, na verdade, o motivo das demissões é puramente político. A GM quer forçar o governo a diminuir impostos. Por isso nós fizemos a greve, existe contradição entre os que os números de lucro divulgados e a redução de vendas que eles alegam. A empresa não vai sair do Brasil, porque aqui tem mão de obra barata e especializada. Nossas fábricas dão muito lucro", opina.

O que diz a Chevrolet

A marca não se posicionou sobre o número de funcionários demitidos ou a possibilidade de baixa nos estoques de carros. Disse, em nota, que foi aprovada pelos empregados, nesta segunda-feira, 23 de outubro, em assembleias realizadas pelos sindicatos dos metalúrgicos de São Caetano do Sul, São José dos Campos e Mogi das Cruzes a proposta de greve por tempo indeterminado.

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A marca afirmou ainda: "reiteramos que a queda nas vendas e nas exportações levaram a General Motors a adequar seu quadro de empregados nas fábricas de São Caetano do Sul, São José dos Campos e Mogi das Cruzes. Esta medida foi tomada após várias tentativas atendendo as necessidades de cada fábrica como, lay off, férias coletivas, days off e proposta de um programa de desligamento voluntário".

"Entendemos o impacto que esta decisão pode provocar na vida das pessoas, mas a adequação é necessária e permitirá que a companhia mantenha a agilidade de suas operações, garantindo a sustentabilidade para o futuro. A GM reforça que a segurança dos empregados é nossa prioridade", completou o comunicado.

As vendas caíram?

Não dá para negar que a Chevrolet não vive mais seus tempos de liderança absoluta. Entre 2015 e 2020, o Onix foi o líder indiscutível do mercado, atualmente, perde para a Fiat Strada e o Volkswagen Polo. Ainda assim, em terceiro lugar no ranking de participação de mercado, com 15,4% dos automóveis e comerciais leves, vendeu mais carros entre janeiro e setembro deste ano do que no mesmo período de 2022. São 236.309 emplacamentos, neste ano, contra 203.671 no ano passado.

De acordo com Cássio Pagliarini, sócio da consultora Bright Consulting e ex-executivo de marcas como Ford, Renault e Hyundai, a situação atual da GM parece estável.

"Pode ser que a expectativa de vendas deles fosse muito maior, o que significa uma grande diferença entre a ambição de conquista de mercado e a realidade. Ao que me parece, a GM já vinha protelando medidas de redução de equipes no estado de São Paulo", pondera o especialista.

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De fato, quando se analisa o período maior, é possível entender o efeito que a pandemia causou à marca. Para se ter uma ideia, entre janeiro e setembro de 2019, a Chevrolet vendeu 345.750 carros, quase 100 mil a mais do que neste ano. Na época, tinha 17,8% do mercado de automóveis e comerciais leves e a Fiat, hoje líder, 13,71%.

"A GM passou por uma série de situações nos últimos anos. Ficou meses sem produzir o Onix por falta de semicondutores, teve que parar a produção por reajuste de estoque e ainda está com uma estratégia global de eletrificação de 100% do portfólio. Acredito que essa redução no quadro de funcionários seja fruto dessa conjunção de fatores: adequação à estratégia da matriz e à situação econômica do país. Ela já passou por redução de custo na produção, agora chegou ao limite, o próximo passo é demissão", avalia o diretor da Jato Informações Automotivas, Milad Kalume.

Para Kalume, no entanto, não há espaço para temer o fechamento de fábricas no Brasil. "O que está acontecendo hoje é simplesmente um retrato dos últimos anos da GM no país. Não vejo o risco de acontecer como aconteceu com a Ford. Será preciso trabalhar de forma mais contundente, mas acredito que a marca conseguirá pensar em produtos de volume para o mercado brasileiros, isso está em sua essência", analisa.

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