Paula Gama

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Por que a GM está demitindo funcionários se está entre líderes do mercado

"A queda nas vendas levou a General Motors a adequar seu quadro de empregados. Por isso, comunicamos que a empresa decidiu pela rescisão do seu contrato de trabalho." Segundo o Sindicato de Metalúrgicos de São José dos Campos, foi com essa mensagem, enviada por telegrama, que milhares de trabalhadores das três fábricas da Chevrolet no país souberam de sua demissão desde o último sábado (21).

A marca não confirmou o número de funcionários demitidos, mas explicou que "a queda nas vendas e nas exportações levaram a General Motors a adequar seu quadro de empregados nas fábricas de São Caetano do Sul, São José dos Campos e Mogi das Cruzes". Mas o que está por trás da crise em uma das maiores montadoras do país?

Não dá para negar que a Chevrolet não vive mais seus tempos de liderança absoluta. Entre 2015 e 2020, o Onix foi o líder indiscutível do mercado, mas atualmente perde para a Fiat Strada e o Volkswagen Polo. Ainda assim, em terceiro lugar no ranking de participação de mercado com 15,4% dos automóveis e comerciais leves, a marca vendeu mais carros entre janeiro e setembro deste ano do que no mesmo período de 2022. São 236.309 emplacamentos contra 203.671 no ano passado.

Telegrama de demissão enviado pela General Motors
Telegrama de demissão enviado pela General Motors Imagem: Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos/Divulgação

De acordo com Cássio Pagliarini, sócio da consultora Bright Consulting e ex-executivo de marcas como Ford, Renault e Hyundai, a situação atual da GM parece estável.

"Pode ser que a expectativa de vendas deles fosse muito maior, o que significa uma grande diferença entre a ambição de conquista de mercado e a realidade. Ao que me parece, a GM já vinha protelando medidas de redução de equipes no estado de São Paulo", pondera o especialista.

De fato, quando se analisa o período maior, é possível entender o efeito que a pandemia causou à marca. Para se ter uma ideia, entre janeiro e setembro de 2019 a Chevrolet vendeu 345.750 carros, quase 100 mil a mais do que neste ano. Na época, tinha 17,8% do mercado de automóveis e comerciais leves e a Fiat, hoje líder, 13,71%.

"A GM passou por uma série de situações nos últimos anos. Ficou meses sem produzir o Onix por falta de semicondutores, teve que parar a produção por reajuste de estoque e ainda está com uma estratégia global de eletrificação de 100% do portfólio. Acredito que essa redução no quadro de funcionários seja fruto dessa conjunção de fatores: adequação à estratégia da matriz e à situação econômica do país. Ela já passou por redução de custo na produção, agora chegou ao limite, o próximo passo é demissão", avalia o diretor da Jato Informações Automotivas, Milad Kalume.

Para Kalume, no entanto, não há espaço para temer o fechamento de fábricas no Brasil. "O que está acontecendo hoje é simplesmente um retrato dos últimos anos da GM no país. Não vejo o risco de acontecer como aconteceu com a Ford. Será preciso trabalhar de forma mais contundente, mas acredito que a marca conseguirá pensar em produtos de volume para o mercado brasileiros, isso está em sua essência", analisa.

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Não faltaram sinais

De acordo com o posicionamento enviado pela GM ao UOL Carros, a medida foi tomada após "várias tentativas atendendo as necessidades de cada fábrica, como layoff, férias coletivas, days off e proposta de um programa de desligamento voluntário. Entendemos o impacto que esta decisão pode provocar na vida das pessoas, mas a adequação é necessária e permitirá que a companhia mantenha a agilidade de suas operações, garantindo a sustentabilidade para o futuro. A GM reforça que a segurança dos empregados é nossa prioridade".

Ainda em 2019 - período em que a Chevrolet dominava o mercado brasileiro - a direção da General Motors ameaçou deixar de produzir no Brasil caso não voltasse a ter lucro na operação. A ameaça movimentou o governo de São Paulo, na época comandado por João Doria, que apresentou um programa de incentivo ao setor que contou com a adesão da montadora, com descontos de até 25% no ICMS para empresas que apresentassem planos de investir pelo menos R$ 1 bilhão em São Paulo e gerar no mínimo 400 empregos.

Outro especialista no mercado automotivo entrevistado pela coluna, que preferiu não se identificar, argumenta que as demissões "chamativas" podem ser mais uma estratégia para chamar atenção do governo. "Dificilmente, o governo não irá dar atenção e até mesmo atender aos anseios da marca. Acredito que foi mais um alerta de insatisfação, talvez, contra os incentivos do Nordeste", pontua.

Greve por tempo indeterminado

Após as demissões, cerca de 12 mil trabalhadores das três fábricas da GM no Brasil entraram em greve, de acordo com o Sindicato de Metalúrgicos de São José dos Campos. O pleito principal é a reintegração dos funcionários demitidos, sob o argumento de existir um acordo de estabilidade assinado pelas partes.

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"Em São José dos Campos, a GM tem um acordo firmado com o sindicato de que não realizaria demissões ou adotaria outras ações sem prévia negociação com o representante legal dos trabalhadores, o que foi descumprido nessa ação arbitrária da empresa. Além disso, pelo acordo do layoff, aprovado em junho, todos os operários da planta deveriam ter estabilidade no emprego durante a vigência da suspensão de contratos. Cerca de 1,2 mil trabalhadores entraram em layoff em julho", diz a entidade.

O sindicato também afirma que a General Motors não passa por uma crise econômica. "No primeiro trimestre de 2023, por exemplo, a companhia divulgou que teve lucro líquido global de 2,4 bilhões de dólares. No Brasil, a empresa teve crescimento de 42% em suas vendas nos três primeiros meses deste ano, se comparado ao mesmo período de 2022".

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