Topo

Paula Gama

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Sem fábricas no Brasil, Ford investe R$ 3,3 bi na Argentina por nova Ranger

O design da nova Ranger foi apresentado no Hannover, na Alemanha - Divulgação
O design da nova Ranger foi apresentado no Hannover, na Alemanha Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

24/04/2023 10h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Desde que deixou de produzir Ka e Ecosport no Brasil, a Ranger se tornou o principal produto da Ford no país. A picape, que mesmo prestes a receber uma nova geração entrega mais tecnologia que as rivais, teve grande influência nos últimos seis trimestres seguidos de lucratividade da marca na América do Sul. No entanto, a montadora quer mais: acaba de investir R$ 3,3 bilhões na nova linha de montagem do veículo, na Argentina, e mira em ameaçar o reinado do Toyota Hilux, líder do segmento de picapes médias.

Para provar o esmero dedicado à produção da nova Ranger, a Ford levou um grupo de jornalistas para conhecer a fábrica de General Pacheco, na Argentina. Desde 1996, mais de 1 milhão de unidades da picape já foram produzidas na planta e importadas para diversos países, entre eles, o Brasil.

Segundo a Ford, com o novo investimento, a fábrica se tornou revolucionária para a região e a tecnologia utilizada é essencial para chegar ao padrão de qualidade que esperam para a nova geração da caminhonete, que chega no segundo semestre.

Nova Ranger terá versão com motor V6 - Vitor Matsubara/UOL - Vitor Matsubara/UOL
Nova Ranger terá versão com motor V6
Imagem: Vitor Matsubara/UOL

Além de acompanhar detalhes da linha de produção, que realmente impressiona pelo alto nível de automação, durante a visita, pude chegar a alguns passos da picape que virá para o Brasil. O design já era conhecido, apresentado no Salão de Veículos Comerciais de Hannover, na Alemanha, em setembro do ano passado, mas pessoalmente chamou atenção pela mistura de robustez com elementos tecnológicos.

A frente quadrada e reta lembra a F-150, mas o conjunto óptico está mais "high tech", passando a sensação de uma picape mais moderna. O tradicional emblema oval azul foi substituído por um "Ford" estampado em letras garrafais. Atrás, as lanternas ficaram mais modernas e novamente se nota semelhanças com o restante da gama de picapes da marca americana.

A Ford ainda não confirmou o conjunto motor que será utilizado na picape que virá para o Brasil, mas mesmo a alguns metros de distância, pude ver o emblema "V6" no modelo topo de linha apresentado na fábrica de General Pacheco. O motor utilizado deve ser o 3.0 V6 que equipa a F-150. Rende 246 cv de potência a 3.750 rpm e 61,1 kgfm de torque entre 1.750 rpm e 2.000 rpm, ligado a um câmbio automático de dez marchas.

Nova fábrica tem impressiona pelo nível de automação  - Ford/Divulgação - Ford/Divulgação
Nova fábrica tem impressiona pelo nível de automação
Imagem: Ford/Divulgação

Também haverá versões mais acessíveis, provavelmente, com motor 2.0 diesel de quatro cilindros, nas variantes de um ou dois turbos, entregando entre 150 cv e 170 cv.

Na ocasião, não tive acesso ao interior, mas o UOL Carros já noticiou que a cabine mudou completamente em relação à geração atualmente vendida em nosso país. Além do acabamento de qualidade nitidamente superior, a Ranger ganhou em tecnologia e conectividade. O quadro de instrumentos é digital e a tela vertical da central multimídia de 12 polegadas traz a última geração do sistema de entretenimento Sync.

Nota-se um cuidado maior nos detalhes. Nos painéis de porta, por exemplo, a maçaneta fica "escondida" no puxador, resultando em um visual mais sofisticado e futurista. Os bancos possuem revestimento texturizado combinando com a cor externa do veículo.

Ford quer ter a melhor picape

Durante a visita à fábrica, a todo o momento, os executivos da Ford deixavam claro que a intenção de ter a melhor picape do segmento com a atualização da nova Ranger. Para isso, segundo eles, o foco será na qualidade de construção.

E há mentes brasileiras envolvidas no processo: segundo Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford América do Sul, boa parte do projeto foi construída na Bahia, onde a montadora mantém um Centro de Desenvolvimento e Tecnologia com cerca de 1.500 profissionais atuando em projetos globais, como carros elétricos, conectados e tecnologias autônomas.

Construída em uma área com mais de 1 milhão de metros quadrados, todo processo de manufatura da nova picape será realizado na planta, incluindo estamparia, carroceria, pintura e montagem final, além de uma unidade de motores e áreas administrativas.
A capacidade anual instalada foi ampliada em cerca de 70%, alcançando 110.000 veículos.

A linha de montagem ficou duas vezes e meia maior e conta com 2 quilômetros de novos transportadores aéreos automáticos, autônomos, conectados e controlados sem fio. A área de Estamparia recebeu uma nova linha de prensas de alta velocidade, quatro vezes mais rápida e com prensas com capacidade de até 2.500 toneladas - as anteriores chegaram a 1.200 t.

Na área de Carrocerias foram instalados 318 novos robôs inteligentes, que realizam 95% dos pontos de solda da carroceria automaticamente. Novos dispositivos geométricos garantem a aplicação da solda nos pontos exatos e também controlam a estabilidade dimensional da carroceria, com o auxílio de câmeras de alta precisão, capazes de detectar desvios da ordem de centésimos de milímetro.

As linhas de produção empregam mais de 1.000 câmeras e sensores, monitorados em tempo real, e usam inteligência artificial para garantir o padrão de qualidade do produto final.

Outras novidades incluem ainda um sistema automático de controle de ferramentas de torque, sistema de escaneamento 3D para o controle dimensional de peças e 81 dispositivos inteligentes para configuração e teste dos mais de 50 módulos eletrônicos que gerenciam o conteúdo tecnológico da picape. De acordo com a Ford, a quantidade de funcionários não foi reduzida por conta das novas tecnologias.