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Paula Gama

REPORTAGEM

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Cavalinho indomável: caminhões sem carga viram máquinas mortais em estradas

Colunista do UOL

12/12/2022 04h00

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Um dos veículos mais presentes nas estradas brasileiras, o caminhão trator pode se transformar em uma verdadeira máquina indomável nas mãos de seus motoristas quando desacoplados de carretas. É o que explicam os especialistas e mostra um vídeo que viralizou nas redes sociais, em que um caminhoneiro chega a rodar em uma saída, sem conseguir controle.

Conhecido popularmente como "cavalinho", o cavalo mecânico, ou caminhão trator, é responsável por tracionar carretas que pesam, pelo menos, 33 toneladas. Depois de adquirido por empresas e autônomos, é difícil que cavalo mecânico circule sem que uma carreta esteja acoplada. No entanto, é justamente quando ele ainda é considerado novo que está o perigo, de acordo com especialista.

Caminhão trator é responsável por tracionar carretas que pesam, pelo menos, 33 toneladas - Divulgação - Divulgação
Caminhão trator é responsável por tracionar carretas que pesam, pelo menos, 33 toneladas
Imagem: Divulgação

Rodolfo Rizzotto, coordenador do SOS Estradas, entidade de vítimas de trânsito, explica que, no Brasil, é permitido que esses veículos, ainda que zero-quilômetro, sejam entregues pelas montadoras aos seus donos rodando, ou seja, circulando pelas estradas desacoplados.

"Na Europa não é permitido que os cavalinhos circulem pelas estradas. No Brasil, algumas montadoras só utilizam pranchas para transportá-los, mas outras usam pranchas na Europa e aqui colocam motoristas para dirigir para economizar. Além do risco de acidentes, entregam para o cliente um produto completamente comprometido, pois as condições de trabalho são péssimas, e eles ainda baixam a calibragem dos pneus para rodar mais macio", explica.

Rodrigo Kleinubing, perito especializado em análises de sinistros de veículos pesados, explica que os cavalos mecânicos são fabricados para compor uma composição rodoviária, e não devem circular sozinhos.

"O condutor tem uma tendência a querer andar como em um automóvel, mas é um veículo pesado. Existe um risco porque ele tem muito mais peso na frente, uma instabilidade direcional, o que favorece a saída de traseira em velocidade", explica.

Outro detalhe que assusta é que, para uma rodagem mais macia, não é incomum que os condutores reduzam a calibragem dos pneus. "Nesse caso, tem-se um desgaste concentrado nos ombros dos pneus, ele se danifica e tem uma aderência menor, que é o que segura o veículo na pista", alerta.

Risco de tragédias

No fim de novembro, uma motorista perdeu o controle do "cavalinho" e colidiu com um paredão de pedra  - Divulgação/Corpo de Bombeiros Voluntários de Concórdia - Divulgação/Corpo de Bombeiros Voluntários de Concórdia
No fim de novembro, uma motorista perdeu o controle do "cavalinho" e colidiu com um paredão de pedra
Imagem: Divulgação/Corpo de Bombeiros Voluntários de Concórdia

Por ser um veículo novo, esses cavalinhos percorrem as estradas sem placas, tornando mais difícil a fiscalização e o controle de velocidade, por exemplo. Essa combinação, segundo Rizzotto, pode gerar verdadeiras tragédias. Em novembro, um acidente envolvendo um caminhão trator da Scania "zero-quilômetro", que estava sendo levado de São Bernardo do Campo (SP), sede da Scania, até São Borja (RS), sofreu um acidente.

Na BR-153, região de Concórdia (SC), o cavalinho colidiu com uma carreta que transportava máquinas agrícolas. Segundo apurou o site Estradas, a motorista perdeu o controle da direção em uma curva, após colidir com a carreta e na sequência chocou-se com um paredão de pedra. A condutora sobreviveu, mas teve que ser retirada das ferragens.

A coluna questionou a Scania sobre o caso, e perguntou se, na opinião da montadora, a circulação do cavalo mecânico desacoplado é segura, mas não obtivemos resposta até o fechamento desta reportagem.

Além do risco durante a circulação do veículo, Rizzotto afirma que também há o perigo de danos aos componentes do veículo, mesmo depois de acoplado a uma carreta.

"Quando um caminhão trator novo sai, por exemplo, de Curitiba (PR) até uma concessionária em Fortaleza (CE), terá rodado mais de 3% da vida útil do pneu de forma perigosa. Quando ocorrer o sinistro vão tentar responsabilizar o fabricante dos pneus e pedir o recall dos mesmos"

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