Baiano diz que sofreu preconceito no Rio; o que faz alguém ser xenófobo?

A xenofobia é um sentimento de antipatia ou repulsa por estrangeiros ou pessoas de culturas diferentes. Ela pode se manifestar de várias formas, como comentários, olhares, indiferença, piadas, deboche etc. No Brasil, existe a chamada xenofobia regional, que é o preconceito entre pessoas de regiões diferentes, sobretudo por causa da vasta extensão territorial do nosso país.

Bruno Oliveira, 34, é um baiano que morou no Rio de Janeiro por dois anos. Ele trabalhou por lá como motorista de aplicativo e vivenciou o que é sofrer com esse tipo de discriminação. "Um dia peguei uma passageira no aeroporto, ela perguntou de onde eu era, por conta do meu sotaque, e a partir daí começou a me tratar com muita ignorância e desrespeito", explica.

Segundo Bruno, a mulher depreciou sua cultura e associou seu povo a termos pejorativos. "Disse ainda que eu deveria incorporar novos hábitos e não me lamentar, mas ficar feliz de ter ido embora de minha terra. Ouvir aquilo me deixou sem chão. Senti uma mistura de raiva, tristeza e indignação. Não podia acreditar que alguém fosse tão preconceituoso", continua ele.

A xenofobia vem do grego xénos, que significa estranho, mais phóbos, medo, e pode estar relacionada a diferenças sociais, econômicas, históricas, linguísticas, étnicas, religiosas ou culturais. No Brasil, pessoas do Norte e Nordeste costumam sofrer xenofobia de pessoas de outras regiões, especialmente do Sul e Sudeste, mas gente de fora do país também pode acabar virando alvo.

Miguel Martinez, 37, é argentino e mora no Brasil há oito anos. Veio para cá trabalhar como professor de espanhol e conta que ainda hoje ouve comentários preconceituosos e ofensivos de algumas pessoas. "Em uma ocasião, estava em um bar com amigos argentinos e, ao tentar ignorar alguns torcedores de futebol, eles nos cercaram e bateram na rua", conta.

A xenofobia pode afetar a saúde mental e o bem-estar das vítimas de várias formas. "O sujeito se sente hostilizado, difamado, rejeitado", afirma Mikkael Duarte, psiquiatra e professor da Afya Educação Médica, de Fortaleza. A exposição contínua a ela então acaba levando ao desenvolvimento de problemas sérios, como isolamento, baixa autoestima, transtornos de ansiedade, estresse pós-traumático, depressão, desejos suicidas.

O que faz alguém ser xenófobo?

Para além do medo do diferente ou desconhecido, outros fatores que podem explicar a xenofobia incluem etnocentrismo, que é a noção de que a própria cultura é superior à outra; ideias delirantes; generalização ou homogeneização de pessoas, como se fossem todas iguais; sentimentos de ameaça ou perda. "O xenófobo pode achar, por exemplo, que seus problemas sociais ou financeiros são causados pelos de fora", explica Wimer Bottura, psiquiatra e psicoterapeuta membro da Associação Brasileira de Psiquiatria.

Miguel Martinez é argentino e mora no Brasil há oito anos
Miguel Martinez é argentino e mora no Brasil há oito anos Imagem: Arquivo pessoal
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O meio (amigos, colegas, familiares também xenófobos) e o que é divulgado e ensinado sobre a história e a cultura do grupo discriminado também podem ser influências negativas. Nada escapa: seja seu modo de viver, de falar, sua aparência, crença, tudo isso pode acabar associado a estereótipos distorcidos, fomentando um ciclo vicioso e perigoso.

A xenofobia pode levar a atacar o outro de várias formas, com humilhações, segregação (no trabalho, escola), marginalização, violência física, moral ou psicológica, atos de terrorismo, vandalismo ou genocídio contra determinadas populações. É um grave problema que afeta a convivência pacífica entre as nações e os direitos humanos, por isso deve ser combatida.

É necessário usar armas certas

Educação, informação e diálogo, foi com essa abordagem que tanto Bruno como Miguel tentaram inicialmente rebater seus agressores. Como não funcionou, o primeiro pediu para que a passageira descesse de seu carro e decidiu que não deixaria ninguém mais o tripudiar. Já o segundo acionou a polícia e diz continuar no Brasil pelos seus objetivos e pessoas que ama.

A xenofobia é crime por aqui e pode ser punida com reclusão e multa. Para combatê-la, informe-se sobre seus direitos e denuncie às autoridades competentes, como pelo Disque 100 ou em qualquer delegacia.

"Em caso de sofrimento psíquico e emocional, busque apoio de familiares, amigos, profissionais de saúde mental ou grupos de ajuda e acolhimento", orienta Luiz Scocca, psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.

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É possível ainda participar de movimentos sociais que promovem a diversidade cultural e se engajar em campanhas e debates que defendam a inclusão e o respeito. Não deixe de educar as pessoas, compartilhe suas experiências e lembre-se que você não está sozinho nessa luta. Há muita gente solidária e que quer um mundo mais justo, tolerante e democrático.

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