Suplicy trata Parkinson com cannabis; como medicamento age no corpo

Eduardo Suplicy revelou ter sido diagnosticado com Parkinson no final do ano passado. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o deputado estadual de São Paulo disse também ter iniciado um tratamento com Cannabis medicinal.

"Eu não me dei conta de que tinha Parkinson. Só mais tarde, conversando com a doutora (neurologista do núcleo de cannabis medicinal do hospital Sírio-Libanês) Luana Oliveira, é que fui percebendo alguns sintomas. Eu estava com certos tremores nas mãos, especificamente na hora de comer, de segurar os talheres, de tomar uma sopa. Tremia um pouco. Tinha também dores musculares na perna esquerda", afirmou Suplicy, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.

Suplicy disse que importou um vidro de Cannabis industrializado em fevereiro, para iniciar o tratamento. O deputado toma cinco gotas do medicamento no café da manhã, cinco gotas à tarde e outras cinco no período noturno. Além da cannabis medicinal, o parlamentar também faz uso do Prolopa, remédio tradicional usado contra o Parkinson.

O Parkinson é uma doença que causa movimentos não intencionais ou incontroláveis, rigidez muscular e dificuldades de equilíbrio e coordenação motora. Não existe cura para a condição, e os tratamentos —incluindo o uso da Cannabis medicinal— tratam apenas dos sintomas.

Não somente relacionado ao Parkinson, o calcanhar de Aquiles no tema cannabis é justamente o baixo número de estudos clínicos —muito devido ao proibicionismo, que manteve a maconha longe da ciência por décadas— que comprovem sua eficácia. Ainda assim, existem produções científicas que validam o porquê de a cannabis ser usada para problemas como a doença de Suplicy.

Confira:

Produção científica sobre a cannabis

A doença de Parkinson está entre as condições que já possuem um certo nível de evidência de que a cannabis ajuda a tratar, mas que ainda precisam de comprovações científicas mais robustas. Além da doença de Suplicy, estão na mesma categoria o autismo, fibromialgia, TOC, síndrome de Tauret, enxaqueca, síndrome do intestino irritável e Alzheimer.

Segundo o anuário 2022 da Kaya Mind, empresa de dados do universo canábico, lançado em novembro, em torno de 187.500 pessoas se tratam com cannabis no Brasil hoje. No caso da doença de Parkinson, a Cannabis medicinal costuma agir principalmente nos sintomas como dores e psicoses.

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Segundo uma pesquisa publicada em 2022 na revista médica especializada em neurologia Acta Neurologica Scandinavica, da Noruega, pacientes com Parkinson que usaram Cannabis relataram que tiveram alívio de alguns sintomas relacionados à doença. Realizada por pesquisadores da Universidade de Oslo, a publicação norueguesa aponta que a melhora na função motora, no sono e na dor foram os benefícios percebidos com mais frequência entre os participantes do estudo.

Já um estudo de 2020 publicado pelo Journal of Parkinson's Disease demonstrou que quase 10% dos pacientes de Parkinson na Alemanha, onde a cannabis foi aprovada como tratamento para a doença desde 2017, usam cannabis para tratar os seus sintomas.

Diversos outros estudos também testaram o uso dos compostos da cannabis em grupos de pacientes com Parkinson. De maneira geral, as substâncias demonstraram a capacidade de atenuar alguns dos sintomas relatados.

Planta com mais de 600 compostos

A Cannabis tem mais de 600 compostos, entre eles cerca de 200 tipos de moléculas da família dos terpenos, que lhe dão o odor característico. Mas, principalmente, a planta carrega em torno de 120 canabinoides e esse grupo de substâncias em especial é que se torna alvo de pesquisas na medicina.

THC e CBD. Entre elas, se destacam o THC, sigla de tetrahidrocanabinol, e o CBD, o canabidiol. Essas são as substâncias mais estudadas. Enquanto o THC é o princípio psicoativo, ou seja, é capaz de provocar efeitos alucinógenos, o CBD não faz nada nesse sentido.

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Fontes: Rafael Pessoa, cirurgião geral e diretor médico da Cannect, empresa criada para facilitar o acesso aos medicamentos à base da planta; Camila Pupe, neurologista, membro do comitê médico da Cannect e professora da UFF (Universidade Federal Fluminense); Alex Lucena, diretor de inovação da companhia The Green Hub; Paula D'all Stella, neurologista e uma das maiores especialistas em cannabis no Brasil; e Amanda Medeiros, médica da Clínica Gravital.

*Com reportagens publicadas em 08/03/2022 e 11/05/2023

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