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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


'Ia ao banheiro 20 vezes ao dia, tinha sangue nas fezes e medo de contar'

Reprodução/Instagram/@anandapaixao_
Imagem: Reprodução/Instagram/@anandapaixao_

Roseane Santos

Colaboração para VivaBem

21/05/2023 04h00

Durante três anos, a cantora Ananda Paixão consultou vários médicos para descobrir a causa de seus problemas intestinais: sangue, muco nas fezes e muitas evacuações por dia.

Ela venceu a vergonha e se abriu com um amigo que a aconselhou a procurar um gastroenterologista. O exame de colonoscopia revelou um câncer de reto —algo raro em alguém com apenas 23 anos.

Depois de uma cirurgia e várias sessões de radioterapia e quimioterapia, a doença entrou em remissão e ela está agora incentivando as pessoas com problemas semelhantes a superar o medo de falar.

"O único caso de câncer na minha família foi o da minha tia, foi câncer de mama e ela morreu aos 45 anos.

A minha alimentação sempre foi excelente, até porque fui atleta desde muito jovem, fiz balé clássico a minha vida inteira, e sempre comi muitos legumes e vegetais. Nunca tive nenhum problema de intestino até os sintomas começarem.

Ananda Paixão 1 - Reprodução/Instagram/@anandapaixao_ - Reprodução/Instagram/@anandapaixao_
Imagem: Reprodução/Instagram/@anandapaixao_

Em 2019, tinha 21 anos e, do nada, tive sangramento e muco nas fezes. Procurei vários médicos e não me pediram nenhum exame. Pela minha idade, acho que pensaram que poderia ser tudo, menos câncer.

Falavam para eu tomar banho de assento, porque deveria ser alguma feridinha. Os sintomas desapareciam e depois voltavam.

Só que em 2020, eles [os sintomas] chegaram com força. Era muito sangue, eu ia ao banheiro quase 20 vezes ao dia. Tinha medo, não falava para ninguém. Nessa época, viajei com meu melhor amigo, ele é médico e estava fazendo residência em oncologia. Ele viu o sangramento e me forçou a ir a um gastro.

Foi aí que descobri o câncer. Era um assunto difícil para mim, como falar que ia milhões de vezes no banheiro, tinha sangue nas fezes. Depois de dois anos indo a especialistas, uma gastro me pediu uma colonoscopia. Depois da biópsia, descobrimos que era um câncer avançado, tipo três.

No dia seguinte já estava no oncologista. Comecei a fazer quimioterapia oral junto com a radioterapia (28 sessões), depois a quimioterapia venosa (4 sessões), depois disso operei e retirei todo o reto.

Ananda Paixão 2 - Reprodução/Instagram/@anandapaixao_ - Reprodução/Instagram/@anandapaixao_
Imagem: Reprodução/Instagram/@anandapaixao_

Tive que colocar a bolsa de colostomia e fiz mais cinco quimioterapias, que foram as piores. Tive todos os sintomas, não podia encostar em superfícies geladas, o corpo às vezes ficava torto.

Em 2022, fiz minha última cirurgia para remover a bolsa e fiquei curada. Seis meses depois disso descobri uma metástase no fígado.

Tive que fazer um novo procedimento e agora graças a Deus estou há sete meses sem nada.

Sou cantora, compositora, bailarina e se não fosse pela música, acho que não teria aguentado.

No tratamento, os únicos momentos de felicidade eram quando estava no estúdio gravando. Os desdobramentos são bem difíceis. Entrei em menopausa precoce, senti todos os sintomas, como os fogachos. Precisei congelar os óvulos, porque não poderia ser mãe naturalmente."

Saiba mais sobre o câncer colorretal

O que é. O câncer do intestino grosso, também chamado câncer colorretal, é uma doença que pode se formar a partir de um pólipo e se desenvolver na parede do cólon (final do intestino grosso) ou do reto (que é a parte que liga o cólon ao ânus), que é composta de várias camadas.

Ele começa na camada mais interna (mucosa). Quando as células cancerígenas estão na parede do cólon ou do reto, podem crescer nos vasos sanguíneos ou vasos linfáticos e ir para os linfonodos próximos ou outros órgãos.

Prevenção. A maior prevenção é alimentação saudável rica em fibras e com diminuição na quantidade de sal, enlatados e embutidos, além de evitar bebidas alcoólicas e cigarro e praticar atividade física regular.

O check-up anual precisa fazer parte da vida de todo mundo com a realização anual do exame de sangue oculto nas fezes, principalmente para pessoas acima de 50 anos, passando por todas as especialidades médicas.

Doenças inflamatórias intestinais como a colite ulcerativa e a doença de Crohn devem ter atenção. Quem tem essas doenças precisa ter acompanhamento específico para detecção precoce do câncer.

Pessoas com um histórico familiar também devem consultar um médico para avaliar o risco e ter um bom acompanhamento.

Ananda Paixão 3 - Reprodução/Instagram/@anandapaixao_ - Reprodução/Instagram/@anandapaixao_
Ananda Paixão 4
Imagem: Reprodução/Instagram/@anandapaixao_

Sintomas. Alguns sinais ajudam na detecção precoce como diarreia ou prisão de ventre, sangue nas fezes, dor ou desconforto abdominal, além de sensação de cansaço ou até anemia.

Tratamento. Depende do estágio que o câncer é descoberto. Boa parte dos pacientes é diagnosticada quando o tumor ainda está contido. Geralmente, a cirurgia é essencial. Depois, de acordo com a biópsia, são avaliados fatores para ver o risco de já terem "caído" células para a corrente sanguínea (metástase). Em caso positivo, a quimioterapia é indicada.

Colostomia. Quando o tumor é localizado no reto, caso de Ananda, principalmente nos últimos dez centímetros, pode ser preciso ficar com uma colostomia por um período. A colostomia é uma ligação do intestino grosso diretamente à parede do abdome permitindo a saída das fezes para uma bolsa.

Existe também a utilização da bolsa de colostomia de forma definitiva, quando o tumor está muito perto do ânus. Em alguns casos, é realizada a radioterapia em conjunto ou não com a quimioterapia antes da operação.

Dados. Na população brasileira hoje, o câncer colorretal é o segundo colocado entre homens e mulheres. No caso das mulheres, só perde para o câncer de mama, e nos homens, para o câncer de próstata.

Fontes: Rodrigo Barbosa, cirurgião geral pela Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo e cirurgião do aparelho digestivo pela Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba, especialista em coloproctologia pelo Hospital Sírio-Libanês (SP) e mestre pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de S. Paulo e Renata D'Alpino Peixoto, médica oncologista, membro do Comitê de Tumores Gastrointestinais Baixo e representante da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia) na região Sudeste.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, o nome do dispositivo é bolsa de colostomia, e não colonoscopia. A informação foi corrigida.