Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Bebê morre após engolir bateria de lítio no PR; veja como evitar acidente

A bateria de lítio é considerada a mais potente e perigosa - iStock
A bateria de lítio é considerada a mais potente e perigosa Imagem: iStock

Do VivaBem, em São Paulo

04/02/2023 17h12

Uma bebê de um ano morreu após engolir uma bateria de lítio, também conhecida como "pilha botão", em Foz do Iguaçu (PR). O caso foi registrado na última quarta-feira (1º), após a menina ser levada a uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), onde foi internada, mas não resistiu.

Comumente encontradas em brinquedos e acessórios como relógios, calculadoras e fones de ouvidos, as baterias de lítio são tóxicas tanto para o meio ambiente quanto para humanos. Se ingeridas, elas liberam ácidos que podem queimar o esôfago e causar asfixia.

A Polícia Civil do Paraná afirmou que apura o caso e aguarda laudos complementares que determinem a causa da morte da criança, mas a suspeita dos médicos é de que os componentes da bateria tenham causado uma "lesão química" seguida de hemorragia no aparelho digestivo.

O que acontece no corpo ao engolir bateria?

  • A bateria de lítio é considerada a mais potente e perigosa, independentemente da voltagem.
  • Sua ingestão é classificada como uma situação de urgência médica. Ou seja, a criança deve ser levada imediatamente ao pronto-socorro para a retirada do objeto.
  • Isso porque, assim que a bateria reage com a saliva, uma solução alcanina se forma e vai corroendo o tecido do esôfago.
  • Além disso, em função do lítio, também há liberação de conteúdo tóxico no trato digestivo.

"A lesão no êsofago começa em 15 minutos após a ingestão da bateria e a necrose do tecido acontece em poucas horas", afirma Saramira Bohadana, otorrinolaringologista e coordenadora do Programa Aerodigestivo do Sabará Hospital Infantil (SP).

Se a lesão provocada pelo metal ultrapassar as paredes do esôfago, o risco de hemorragia, como ocorreu no caso da bebê que morreu no Paraná, é alto, conforme explica a gastropediatra Giovana Stival, do Hospital Pequeno Príncipe (PR).

O esôfago é um órgão que é "vizinho" de vários vasos sanguíneos, inclusive vasos de grande calibre, como as artérias brônquicas e ramos da artéria aorta. Por isso, se você rompe a parede do esôfago e entra em contato com esses vasos, o que chamamos de fístula, pode ocorrer uma grande hemorragia que dificilmente é controlada. Giovana Stival, gastropediatra do Hospital Pequeno Príncipe (PR).

Quais são as consequências?

  • Quanto antes o dispositivo for retirado, menor será o prejuízo.
  • Mas mesmo após a retirada da bateria o corpo ainda pode sofrer com os danos do lítio. Por isso, geralmente o paciente fica internado em observação por algumas horas.
  • O resultado das lesões ou rupturas ainda pode trazer consequências permanentes para a vida da criança. Uma delas, cita Stival, é a redução do calibre do esôfago, processo tecnicamente chamado de estenose.
  • "É como se fosse uma cicatriz que faz um repuxamento da mucosa e isso estreita o calibre [diâmetro] do esôfago, fazendo com que a criança tenha dificuldades para se alimentar e, dependendo do caso, fique impossibilitada até mesmo de ingerir líquidos", explica a gastropediatra.
  • Tais casos demandam uma série de procedimentos médicos para tentar "alargar" o órgão.
  • Se houver hemorragia, o risco de óbito é alto.

O que fazer se uma criança engolir bateria?

Pequenas, redondas e brilhantes, as baterias de lítio podem ser muito atraentes para bebês e crianças, que podem facilmente confundi-las com doces e acabar colocando-as na boca.

Se os pais acreditarem que o filho engoliu uma bateria, a orientação é ligar para a emergência ou procurar um pronto-socorro imediatamente.

  • Se a criança ingerir o objeto e estiver consciente, a recomendação é levar para o pronto atendimento mais próximo.
  • Caso não esteja consciente é importante manter a calma e ligar para o Corpo de Bombeiros (193), ou para o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), pelo número 192.
  • Não é recomendável tirar o objeto com as próprias mãos. O risco dessa atitude é acabar empurrando o item ainda mais para dentro da via aérea e piorar a situação.

Mel pode ser aliado. A médica Saramira Bohadana, do Sabará Hospital Infantil (SP), cita ainda um estudo publicado em 2018 na revista científica Laryngoscope, segundo o qual ingerir mel depois de engolir uma pilha de botão pode reduzir a lesão causada pelos metais tóxicos.

"O mel tira a criança do risco de vida, porque neutraliza o pH e consequentemente impede a progressão da lesão. A recomendação é dar 10 ml de mel a cada 10 minutos até chegar no hospital. Esta já é uma 'lei' nos EUA, todo mundo sabe e faz", diz ela.

No hospital, se a criança engoliu o item, irá passar por endoscospia digestiva. Se aspirou, o procedimento para retirá-lo é a broncoscopia.

Veja sintomas de que uma criança engoliu corpo estranho

Segundo as especialistas ouvidas pelo VivaBem, os sintomas mais comuns de ingestão de baterias e de corpos estranhos são:

  • Tosse;
  • Salivação excessiva;
  • Vômitos;
  • Dificuldade para respirar;
  • Dores no pescoço ou no tórax;
  • Inchaço no tórax.

Veja orientações para evitar esse tipo de acidente

  • Respeitar o selo do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) e a faixa etária de cada brinquedo;
  • Não dar brinquedos com pilhas para crianças menores de cinco anos, para evitar que coloquem o item na boca;
  • Manter baterias em locais trancados e de difícil acesso às crianças;
  • No caso de objetos como controle remoto, verificar se o compartimento da bateria está bem parafusado e, mesmo se estiver, colocar uma fita adesiva para lacrá-lo e diminuir o risco de a bateria sair caso o dispositivo caia no chão.

Caso não é isolado

De acordo com dados do Ministério da Saúde e do DataSUS (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil), a principal causa de mortes por acidentes em crianças menores de um ano é a asfixia, uma vez que o material engolido pode comprimir e pressionar a laringe.

A médica Saramira Bohadana, do Sabará Hospital Infantil, considera que a ingestão de corpos estranhos é "um problema de saúde pública no país".

  • Segundo ela, entre 2014 e 2017, só no hospital foram atendidos 668 casos de ingestão acidental de corpos estranhos, entre eles baterias, brinquedos, sementes e miçangas.
  • Mais de 70% das crianças tinha entre 1 e 4 anos.

Giovana Stival da Silva, do Hospital Pequeno Príncipe, também afirma que os casos são muito frequentes no meio pediátrico brasileiro, principalmente durante as férias escolares.

Toda semana a gente tem de um a dois casos de ingestão de corpos estranhos no hospital. Infelizmente ainda é muito frequente, principalmente com a maior disponibilidade de dispositivos eletrônicos de procedência duvidosa, que não têm selo de segurança do Inmetro. Giovana Stival da Silva, gastropediatra.