Bebê morre após engolir bateria de lítio no PR; veja como evitar acidente
Uma bebê de um ano morreu após engolir uma bateria de lítio, também conhecida como "pilha botão", em Foz do Iguaçu (PR). O caso foi registrado na última quarta-feira (1º), após a menina ser levada a uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), onde foi internada, mas não resistiu.
Comumente encontradas em brinquedos e acessórios como relógios, calculadoras e fones de ouvidos, as baterias de lítio são tóxicas tanto para o meio ambiente quanto para humanos. Se ingeridas, elas liberam ácidos que podem queimar o esôfago e causar asfixia.
A Polícia Civil do Paraná afirmou que apura o caso e aguarda laudos complementares que determinem a causa da morte da criança, mas a suspeita dos médicos é de que os componentes da bateria tenham causado uma "lesão química" seguida de hemorragia no aparelho digestivo.
O que acontece no corpo ao engolir bateria?
- A bateria de lítio é considerada a mais potente e perigosa, independentemente da voltagem.
- Sua ingestão é classificada como uma situação de urgência médica. Ou seja, a criança deve ser levada imediatamente ao pronto-socorro para a retirada do objeto.
- Isso porque, assim que a bateria reage com a saliva, uma solução alcanina se forma e vai corroendo o tecido do esôfago.
- Além disso, em função do lítio, também há liberação de conteúdo tóxico no trato digestivo.
"A lesão no êsofago começa em 15 minutos após a ingestão da bateria e a necrose do tecido acontece em poucas horas", afirma Saramira Bohadana, otorrinolaringologista e coordenadora do Programa Aerodigestivo do Sabará Hospital Infantil (SP).
Se a lesão provocada pelo metal ultrapassar as paredes do esôfago, o risco de hemorragia, como ocorreu no caso da bebê que morreu no Paraná, é alto, conforme explica a gastropediatra Giovana Stival, do Hospital Pequeno Príncipe (PR).
Quais são as consequências?
- Quanto antes o dispositivo for retirado, menor será o prejuízo.
- Mas mesmo após a retirada da bateria o corpo ainda pode sofrer com os danos do lítio. Por isso, geralmente o paciente fica internado em observação por algumas horas.
- O resultado das lesões ou rupturas ainda pode trazer consequências permanentes para a vida da criança. Uma delas, cita Stival, é a redução do calibre do esôfago, processo tecnicamente chamado de estenose.
- "É como se fosse uma cicatriz que faz um repuxamento da mucosa e isso estreita o calibre [diâmetro] do esôfago, fazendo com que a criança tenha dificuldades para se alimentar e, dependendo do caso, fique impossibilitada até mesmo de ingerir líquidos", explica a gastropediatra.
- Tais casos demandam uma série de procedimentos médicos para tentar "alargar" o órgão.
- Se houver hemorragia, o risco de óbito é alto.
O que fazer se uma criança engolir bateria?
Pequenas, redondas e brilhantes, as baterias de lítio podem ser muito atraentes para bebês e crianças, que podem facilmente confundi-las com doces e acabar colocando-as na boca.
Se os pais acreditarem que o filho engoliu uma bateria, a orientação é ligar para a emergência ou procurar um pronto-socorro imediatamente.
- Se a criança ingerir o objeto e estiver consciente, a recomendação é levar para o pronto atendimento mais próximo.
- Caso não esteja consciente é importante manter a calma e ligar para o Corpo de Bombeiros (193), ou para o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), pelo número 192.
- Não é recomendável tirar o objeto com as próprias mãos. O risco dessa atitude é acabar empurrando o item ainda mais para dentro da via aérea e piorar a situação.
Mel pode ser aliado. A médica Saramira Bohadana, do Sabará Hospital Infantil (SP), cita ainda um estudo publicado em 2018 na revista científica Laryngoscope, segundo o qual ingerir mel depois de engolir uma pilha de botão pode reduzir a lesão causada pelos metais tóxicos.
"O mel tira a criança do risco de vida, porque neutraliza o pH e consequentemente impede a progressão da lesão. A recomendação é dar 10 ml de mel a cada 10 minutos até chegar no hospital. Esta já é uma 'lei' nos EUA, todo mundo sabe e faz", diz ela.
No hospital, se a criança engoliu o item, irá passar por endoscospia digestiva. Se aspirou, o procedimento para retirá-lo é a broncoscopia.
Veja sintomas de que uma criança engoliu corpo estranho
Segundo as especialistas ouvidas pelo VivaBem, os sintomas mais comuns de ingestão de baterias e de corpos estranhos são:
- Tosse;
- Salivação excessiva;
- Vômitos;
- Dificuldade para respirar;
- Dores no pescoço ou no tórax;
- Inchaço no tórax.
Veja orientações para evitar esse tipo de acidente
- Respeitar o selo do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) e a faixa etária de cada brinquedo;
- Não dar brinquedos com pilhas para crianças menores de cinco anos, para evitar que coloquem o item na boca;
- Manter baterias em locais trancados e de difícil acesso às crianças;
- No caso de objetos como controle remoto, verificar se o compartimento da bateria está bem parafusado e, mesmo se estiver, colocar uma fita adesiva para lacrá-lo e diminuir o risco de a bateria sair caso o dispositivo caia no chão.
Caso não é isolado
De acordo com dados do Ministério da Saúde e do DataSUS (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil), a principal causa de mortes por acidentes em crianças menores de um ano é a asfixia, uma vez que o material engolido pode comprimir e pressionar a laringe.
A médica Saramira Bohadana, do Sabará Hospital Infantil, considera que a ingestão de corpos estranhos é "um problema de saúde pública no país".
- Segundo ela, entre 2014 e 2017, só no hospital foram atendidos 668 casos de ingestão acidental de corpos estranhos, entre eles baterias, brinquedos, sementes e miçangas.
- Mais de 70% das crianças tinha entre 1 e 4 anos.
Giovana Stival da Silva, do Hospital Pequeno Príncipe, também afirma que os casos são muito frequentes no meio pediátrico brasileiro, principalmente durante as férias escolares.
Toda semana a gente tem de um a dois casos de ingestão de corpos estranhos no hospital. Infelizmente ainda é muito frequente, principalmente com a maior disponibilidade de dispositivos eletrônicos de procedência duvidosa, que não têm selo de segurança do Inmetro. Giovana Stival da Silva, gastropediatra.
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