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Longevidade

Práticas e atitudes para uma vida longa e saudável


Menos solidão, mais repertório: convívio entre idosos e crianças só faz bem

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Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

03/02/2023 04h00

Embora a diferença de idade entre idosos e crianças seja grande, esses dois grupos etários têm muito o que agregar entre si. Se os mais velhos podem absorver a energia da molecada e se revigorar, os pequenos podem aprender com eles lições de vida valiosas, baseadas em sua trajetória, experiência e contribuição à sociedade. Mas isso é apenas uma pequena amostra.

Nos EUA, programas intergeracionais, de convivência entre idosos e crianças, já comprovaram diversos benefícios aos dois grupos. Tanto que por lá, existem pelo menos 100 centros desse tipo, uma realidade ainda distante do Brasil, onde esses espaços são novidade.

"São como creches 'fundidas' com casas de repouso, assim crianças e idosos se entrosam", explica Natan Chehter, geriatra da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia).

Daí a necessidade de reforçar sobre os ganhos de se promover a convivência intergeracional:

Para os idosos

Avô e neto pescando, idoso, velho, menino, garoto, criança, pesca - iStock - iStock
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  • Envelhecimento ativo

Quando prazeroso (bem diferente de uma situação de obrigação ou que demanda demais, a ponto de não conseguir gerenciar a própria vida), conviver com crianças, em especial os netos, pode dar ao idoso um sentido existencial, de utilidade.

O contato com os pequenos incentiva suas habilidades motoras e exercita seu cérebro, o que previne doenças neurodegenerativas.

"Idosos com algum grau de demência eventualmente também podem ter alguma melhora do ponto de vista funcional. São estimulados e podem ficar mais calmos", complementa Chehter.

  • Novos aprendizados

Idosos têm tendência natural à acomodação, assim os mais novos podem despertar neles o interesse pelo mundo moderno e os fazer reconhecer as inúmeras vantagens da tecnologia.

Crianças, por serem bastante participativas e curiosas, ainda são excelentes para ensinar e tirar dúvidas dos mais velhos sobre como se utilizar aplicativos de celular, computador, televisor.

  • Menos solidão e depressão

Com aposentadoria, diminuição do convívio social, perda de entes queridos de sua geração, enfermidades, o idoso pode se sentir sozinho e deprimido. Nesse contexto, crianças entram em cena como um antídoto.

Oferecem companhia, motivam passeios, preenchem ausências e podem levantar o astral do idoso com sua amizade, alegria, carinho, perguntas e brincadeiras.

"Há aumento da ocitocina, hormônio do afeto, serotonina, dopamina e endorfina, que são os hormônios da satisfação e do prazer, aliviando estresse, ansiedade e depressão", informa Lucy Carvalhar, psicóloga pela FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), em São Paulo (SP).

  • Maior autovalorização

Crianças também incentivam os idosos a relembrar do seu passado, que podem servir para passatempos, cantigas e historinhas. Com isso, eles ainda exercitam a memória, se esquecem, por momentos, dos problemas atuais e, ao perceberem o interesse alheio pelo que viveram, despertam para a gratidão, autovalorização de sua biografia e projetos que podem construir.

  • Reflexão sobre hábitos

Vícios em álcool e cigarro, mentiras, brigas com a vizinhança, falta de idas regulares ao médico, tudo isso o idoso pode acabar revendo quando se torna avô, afinal é importante dar exemplos e, para rever atitudes e ter a família por perto, ele deve ser lembrado disso. Crianças também ajudam muito no convencimento de forma amistosa a respeito do que pode fazer mal à saúde.

Para as crianças

Avô e neto, idoso, velho, menino, garoto, criança, intergerações - iStock - iStock
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  • Diálogos e socialização

Além dos pais, crianças podem, em companhia dos idosos (geralmente avós e tios), aprender a se "destravar" com outros adultos, da família, e conviver em sociedade. Quando o contato é prolongado e diário, algumas ainda acabam amadurecendo tanto do ponto de vista intelectual quanto do ponto de vista psicoemocional mais rapidamente do que outras da mesma idade.

  • Autoestima e confiança

"Idosos têm maior propensão a serem benevolentes com crianças e as encorajarem", explica Larissa Menezes, psicóloga da clínica Personal, da Central Nacional Unimed, em Salvador.

Para elas, sentir-se aceito, acolhido e seguro traduz-se em bem-estar, autoestima e estímulos que facilitam o aprendizado. Do contrário, sem apoio e sozinhas, exploram menos seu potencial e têm mais dificuldades para se desenvolverem e se relacionarem com os outros.

  • Dedicação aos mais velhos

Crianças criadas com e pelos avós, ao crescerem, compreendem melhor, em comparação às que não tiveram essa oportunidade, que os idosos exigem cuidados e devem ser tratados com respeito. Mas, para isso, é fundamental que quando menores os avós saibam dizer "não" para elas em momentos certos, sem ceder a caprichos, e fomentarem sua colaboração em tarefas.

  • Ampliação de repertório

Ter avós por perto pode significar notas altas na escola. São muitos os acontecimentos que eles acompanharam ao longo da vida e que agora rendem histórias marcantes, despertando nos netos a imaginação e a curiosidade para aprenderem mais. Os mais velhos também ajudam a ampliar o vocabulário e testar maneiras mais reais —e menos virtuais— de se divertir.

"Idosos, incluindo bisavós, têm muito a ensinar e dividir, e o melhor, com paciência e tempo", aponta Nelson Douglas Ejzenbaum, pediatra da AAP (Academia Americana de Pediatria).

  • Sucesso em conflitos

O conhecimento dos idosos adquirido de desavenças, brigas e disputas quando eram crianças pode ajudar as de agora a resolverem seus problemas com diálogo e perdão, sem partir para a violência. Ter vivido muito e saber que o tempo restante é menor, geralmente conduz nossos esforços para o que realmente importa e pode beneficiar e poupar a quem tão queremos bem.

"Ter isso em mente ajuda a desenvolver a tolerância, empatia, paciência e torna as crianças mais saudáveis emocionalmente, resilientes, amorosas e solidarias", conclui Lucy Carvalhar.