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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Como combater terçol? Tratamento é simples, mas cuidado com aliança quente

Colaboração para VivaBem

19/02/2024 11h50Atualizada em 19/02/2024 11h50

Para combater o terçol, basta aplicar uma aliança quente no local? Esta é a receita da medicina popular para tratar o hordéolo, nome da infecção aguda nas extremidades das pálpebras. Ela, de fato, melhora com a exposição ao calor, mas os especialistas advertem: aproximar dos olhos um objeto quente e não esterilizado aumenta o risco de queimaduras ou reinfecções, e isso deve ser evitado.

O terçol é uma doença oftalmológica comum, que acomete homens, mulheres, crianças e idosos. No entanto, é mais frequente entre adultos devido à maior viscosidade das secreções produzidas pelas glândulas sebáceas e sudoríparas, e também entre pessoas com blefarite, acne rosácea, dermatite seborreica e até diabetes.

Para boa parte desses indivíduos, o terçol é autolimitado, isto é, se resolve sozinho e em poucos dias.

Quando o quadro não apresenta melhora ou se repete ao longo do tempo é preciso submeter-se a uma avaliação médica.

O tratamento é simples e se resume em orientações sobre higiene e aplicação de compressas mornas no local, que poderão ser combinadas —ou não— a medicamentos específicos. Para os casos mais graves, há ainda a opção da drenagem cirúrgica.

O que é terçol

Se trata de uma infecção bacteriana aguda que acomete as pálpebras. Na maioria das vezes, a bactéria mais envolvida nesse processo é a Staphylococcus aureus, seguida pela Staphylococcus epidermidis.

Doloroso, o terçol pode se manifestar nas partes inferior ou superior das pálpebras, e ainda pode aparecer nas regiões externa (a mais comum) ou interna, na linha dos cílios.

Por que isso acontece

As suas pálpebras possuem três tipos de glândulas. Duas delas se localizam na sua parte anterior —e são conhecidas por Zeiss e Moll; a terceira, situada na parte posterior, é chamada de glândula de meibômio.

Juntas, elas são responsáveis pela produção de parte dos componentes do filme lacrimal, cuja função é proteger a superfície dos olhos.

Quando o hordéolo é externo, ele decorre da infecção das glândulas Zeiss e Moll; quando é interno, ele é consequente à infecção da glândula de meibômio —que leva à formação de calázio, um nódulo pequeno e indolor.

Já a manifestação do terçol se caracteriza pela formação de uma bolinha avermelhada (abscesso), dolorosa, inchada, com aparência de uma espinha que pode se romper e gerar pus.

Outras causas e fatores de risco

O terçol também pode aparecer como consequência das seguintes condições:

  • Blefarite (crosta nos cílios, descamação da pele da pálpebra)
  • Doenças dermatológicas (como dermatites, acne rosácea)
  • Eczema da pálpebra
  • Dermatite de contato
  • Higiene ocular inadequada, especialmente após o uso de cosméticos
  • Estresse
  • Mudanças hormonais
  • Uso frequente ou compartilhamento de maquiagem
  • Uso de cílios postiços permanentes

Qual é a relação do terçol com o uso de máscaras

A oftalmologista Tatiana Nahas, especialista em doenças de pálpebras e Chefe do Serviço de Plástica Ocular da Santa Casa de São Paulo, afirma que houve um aumento de casos de terçol desde que se estabeleceu a necessidade do uso de máscaras durante a pandemia.

Ela explica que a razão para isso é que o ar expelido pelo nariz e pela boca contém micro-organismos e "enquanto falamos, tossimos ou espirramos, o ar sobe em direção aos olhos e pálpebras, e isso aumenta as chances de infecção e aparecimento do terçol".

Quem precisa ficar mais atento

O terçol pode acometer homens, mulheres, crianças e até idosos, mas tem sido mais frequente entre pessoas com idades de 30 a 50 anos.

Tem-se observado também que indivíduos com doenças crônicas apresentam risco aumentado para o problema, especialmente aquelas com blefarite, dermatite seborreica, diabetes e colesterol alto.

Saiba reconhecer os sintomas

Na maioria das vezes o terçol se apresenta como uma pequena espinha (abscesso) com pus (pústula) em alguma das margens das pálpebras inferior ou superior.

São comuns também as seguintes manifestações:

  • Inchaço local (edema)
  • Vermelhidão (rubor ou eritema)
  • Dor
  • Coceira (prurido)
  • Crostas ou secreção nos cílios

Quando é hora de procurar ajuda médica

A oftalmologista Maria Cristina Nishiwaki Dantas, professora do Departamento de Oftalmologia da Unifesp, afirma que, em geral, os quadros de terçol são autolimitados, isto é, eles se resolvem de forma espontânea no período de 3 a 5 dias.

Mas há alguns indivíduos que apresentam hordéolos de repetição porque têm como fator associado quadros de blefarite ou rosácea, que também precisam ser tratados, justamente para evitar que o terçol reapareça. Por isso, nessas situações, a médica sugere que se consulte um especialista para que seja feita uma avaliação oftalmológica completa.

"O mesmo é indicado nos casos em que o hordéolo é muito grande. Além disso, fique atento a um terçol que não melhora: ele pode indicar quadros mais graves como uma infecção do tecido orbital (celulite orbital), ou mesmo um tumor maligno (carcinoma)", acrescenta Nishiwaki Dantas.

O que esperar da consulta

O médico vai ouvir sua queixa, levantar seu histórico de saúde e ainda fará o exame oftalmológico completo.
Esta prática permite a rápida observação do hordéolo e também ajuda a identificar outros sinais que indiquem a presença de blefarite, rosácea ou alguma outra alteração --nas pálpebras ou nos cílios-- que possam ser responsáveis pela origem do terçol.

Como não são necessários exames complementares, o diagnóstico é clínico.

Como é feito o tratamento

Seja o terçol externo ou interno, a estratégia terapêutica é idêntica. O objetivo do tratamento é acelerar a recuperação e controlar a infecção para que ela não avance. Em 90% dos casos, o problema é resolvido com a adoção das seguintes medidas:

  • Higiene local - indica-se a limpeza das pálpebras e cílios com a diluição de xampu infantil, pela manhã e à noite. Há também a alternativa de usar soluções apropriadas (compradas em farmácia) para a higienização dessas áreas. O objetivo é massagear delicadamente a região, retirar todo o tecido gorduroso acumulado nas pálpebras e cílios e prevenir a repetição do problema;
  • Compressas de gaze (mornas a quentes) - eles devem ser posicionadas sobre o terçol até aquecer a região. A ideia é dilatar os orifícios e amolecer a secreção para facilitar sua drenagem, o que pode ser feito por meio de movimentos delicados sobre o terçol em direção à margem da pálpebra. Quanto mais vezes fizer durante o dia, maiores são as chances de melhora;
  • Medicamentos - caso seja necessário, às práticas acima descritas pode ser aliado o uso de pomadas ou colírios oftalmológicos específicos que contenham antibiótico e/ou corticoide. Caso essas medidas não tenham o efeito desejado, o médico ainda poderá indicar o uso de antibiótico por via oral.

"Quando ocorre a falha desse tratamento clínico, a conduta é adotar a drenagem cirúrgica, um procedimento que esvazia o conteúdo purulento da glândula obstruída, e evita que a infecção se dissemine para outras glândulas", acrescenta a oftalmologista Cristina Baracuhy, coordenadora do Serviço de Plástica Ocular, Órbita e Vias Lacrimais do HC-UFPE.

Quais são as possíveis complicações?

Embora o terçol tenha a aparência de uma espinha, ele nunca deve ser manipulado com a intenção de retirada da secreção ali acumulada. Isso poderia não só agravar a infecção, como os seus sintomas.

Por outro lado, geralmente a evolução do terçol é benigna. Mas podem acontecer infecções concomitantes por outros micro-organismos, alterações nos cílios que levam à modificação da textura dos fios, queda ou triquíase (os cílios nascem virados para dentro), além do espessamento da pálpebra.

A oftalmologista Pérola Grupenmarcher Iankilevich, professora da Escola de Medicina da PUC-PR, diz que a mais temida e rara complicação é o avanço da infecção promovida pelo terçol para além das pálpebras, atingindo todos os tecidos ao redor, dentro e na parte posterior do olho.

Tal condição é conhecida como celulite orbital, e tem como sintomas a projeção do globo ocular e a extrema sensibilidade à luz. "Por vezes, a depender das condições de saúde do paciente, há necessidade de internação para uso de antibiótico pela via venosa", completa a médica.

Calázio e terçol são a mesma coisa

Não. O terçol é uma infecção das glândulas localizadas nas pálpebras (externas ou internas). Já o calázio, na maioria das vezes, é consequente ao bloqueio da drenagem das glândulas de meibômio. Trata-se de um processo inflamatório que leva à formação de um nódulo (granuloma) indolor nas pálpebras. A explicação é da oftalmologista Tania Schaefer, presidente da Soblec (Sociedade Brasileira de Lentes de Contato).

Posso passar o terçol para outra pessoa

Não. Embora ele seja uma infecção ocular, o terçol não pode ser transmitido para outra pessoa ou mesmo para o outro olho. No entanto, é possível ter dois hordéolos ao mesmo tempo —na mesma pálpebra ou em pálpebra distinta.

Os especialistas sugerem cuidado para que a infecção, em si, não aumente. Esteja mais atento à higiene das mãos, além de evitar o compartilhamento de maquiagem, toalhas ou máscara de dormir.

Dá para prevenir

Sim. E a principal providência é caprichar na higiene diária das pálpebras, dos cílios, das lentes de contato, além das mãos. Além disso, coloque em prática as seguintes medidas:

  • Use xampu neutro infantil pela manhã e à noite para lavar as pálpebras e os cílios. Caso prefira, utilize gaze ou hastes flexíveis para massagear delicadamente a região;
  • Evite dormir com maquiagem, compartilhá-la ou usar produtos para esse fim que estejam vencidos;
  • Visite um especialista para que ele possa orientá-lo para o tratamento de acne rosácea ou dermatite de contato que poderiam desencadear quadros de terçol;
  • Fale com o oftalmologista para que ele indique o uso de colírios antialérgicos caso seus olhos tendam a irritações e coceiras;
  • Faça compressas mornas com maior frequência para evitar obstruções. Essa indicação é específica para quem tem blefarite;
  • Prefira usar lápis de olho na região externa das pálpebras. Ao usá-lo na parte interna, você aumenta a chance de obstrução do orifício de drenagem das glândulas palpebrais;
  • Capriche ainda mais na limpeza das lentes e na troca do soro, caso você use lentes de contato;
  • Troque a máscara ao perceber que ela está úmida. Ambientes quentes e úmidos propiciam a proliferação de micro-organismos;
  • Esteja atento à higiene bucal ao usar máscaras. Ao agir assim, você reduz a chance de acesso de bactérias orais à região dos olhos. Caso prefira máscaras de pano, higenize-as adequadamente.

Fontes: Maria Cristina Nishiwaki Dantas, médica oftalmologista, professora do Departamento de Oftalmologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e especialista do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia); Cristina Baracuhy, médica oftalmologista e coordenadora do Serviço de Plástica Ocular, Órbita e Vias Lacrimais do HC-UFPE/Ebserh (Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco/Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) e preceptora da residência médica da mesma instituição; Tania Schaefer, oftalmologista, presidente da Soblec (Sociedade Brasileira de Lentes de Contato) e parceira da Zeiss; Tatiana Nahas, oftalmologista especialista em doenças de pálpebras e chefe do Serviço de Plástica Ocular da Santa Casa de São Paulo; Pérola Grupenmarcher Iankilevich, médica oftalmologista e professora da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), responsável pelo Serviço de Pediatria do Hospital Pequeno Príncipe (Curitiba). Revisão técnica: Maria Cristina Nishiwaki Dantas e Cristina Baracuhy.

Referências: Ministério da Saúde; Willmann D, Guier CP, Patel BC, et al. Stye. [Updated 2021 Jul 18]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK459349/.