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Flavia Pavanelli diz que 'pulava corda' com braços; como isso é possível?

Guilherme Arantes/UOL
Imagem: Guilherme Arantes/UOL

Do VivaBem*, em São Paulo

19/08/2022 12h02

Encostar o dedo indicador no dorso da mão e girar o punho em 360º ou "pular corda" com o os próprios braços sem sentir dor alguma: essas ações podem até parecer impossíveis, mas são comuns entre as pessoas que têm uma condição conhecida como hipermobilidade articular.

A atriz Flavia Pavanelli, 24, é uma delas. "Quando era criança, pulava corda com o braço. Tem um dedo meu que encosta no dorso da mão. Minha flexibilidade é muito boa, mas não tanto quanto a da Gracyanne Barbosa, confesso", disse ela nos stories do Instagram, em referência ao vídeo em que Barbosa "se dobra" ao meio.

"Além da hipermobilidade, meu punho direito vira 360º. Não sei como vou explicar essa loucura, mas é real. Não dói, não sinto nada", disse Pavanelli.

O que é hipermobilidade articular?

A mobilidade articular é a capacidade que as articulações do corpo têm de se movimentar adequadamente, dentro do esperado. Por exemplo, virar a cabeça de um lado a outro, dobrar os joelhos e cotovelos, abrir e fechar as mãos e assim por diante.

Agora, quando a flexibilidade de determinada articulação ou de um conjunto delas está alterada, o movimento gerado vai muito além do normal, tratando-se de uma hipermobilidade articular.

Bailarinos, professores de ioga e ginastas são alguns dos que podem se beneficiar com essa condição e, por conta da rotina de atividades específicas e alongamentos associados a exercícios de tensão, resistência muscular e aeróbia, desenvolvem também maiores amplitude e liberdade de movimentos, tornando as articulações mais maleáveis.

Mas qualquer pessoa pode apresentar hipermobilidade articular. A maioria pode não ter problemas e, espontaneamente, com o desenvolvimento e o avançar dos anos ter o quadro diminuído progressivamente, principalmente se adotar exercícios corretos e regulares. Outra parcela, entretanto, tende a ser afetada e com efeitos que prejudicam o desempenho das atividades diárias. Os motivos nesse caso tendem a ser mais sérios e exigem investigação médica.

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Imagem: iStock

O que causa a condição?

Segundo Alexandre Stivanin, ortopedista especialista em cirurgia de joelho pela SBCJ (Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho) e do Hospital Samaritano (SP), a hipermobilidade articular familiar é a mais comum — como é o caso de Flavia Pavanelli, que relatou ter a condição desde a infância— e afeta várias articulações.

Havendo relação com doenças, aparecem principalmente as síndromes de Ehlers-Danlos (em que diferentes mutações genéticas afetam a quantidade, a estrutura ou o conjunto dos diferentes colágenos) e Marfan (distúrbio raro do tecido conjuntivo e que pode atingir olhos, coração e cérebro), além de osteogênese imperfeita, também conhecida popularmente como doença dos "ossos de vidro", pois prejudica a formação dos ossos e os torna muito frágeis.

Tem problema ser hiperflexível?

Quem tem hipermobilidade articular pode apresentar mais outros sinais com o passar do tempo. São eles: dores, tendinites, luxações e predisposição maior a ter lesões pós-atividades de impacto.

Nos joelhos, a hipermobilidade pode provocar condromalácia, um amolecimento da cartilagem do osso frontal denominado patela. A queixa mais comum é o desconforto que piora ao subir ou descer escadas, mas também pode não ser nada agradável nessa condição ter que se sentar com as pernas cruzadas, agachar ou ajoelhar.

A hipermobilidade articular ainda pode predispor ou vir acompanhada de tensão muscular e fadiga, pois os músculos acabam tendo que trabalhar mais; rigidez articular por acúmulo de líquido dentro da articulação, uma vez que o organismo tenta reparar as lesões provenientes da sobrecarga dos movimentos, ou devido à maturidade e perda da elasticidade das fibras de colágeno; estiramento ou rompimento dos ligamentos (entorses) nos tornozelos; e pé plano.

Hipermobilidade não se cura, mas os sintomas e complicações, caso estejam presentes, são possíveis de serem controlados ou amenizados. São alguns recursos: fisioterapia, exercícios de fortalecimento, alongamento e condicionamento da musculatura ao redor da articulação, natação, pilates, massagens, terapias térmicas, práticas de relaxamento, uso de analgésicos comuns e adoção de um estilo de vida saudável, o que inclui mudança no ritmo das atividades.

*Com informações de reportagem publicada em 27/09/2021.