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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Ter corpo hiperflexível nem sempre é habilidade; saiba causas e o que fazer

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Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

27/09/2021 04h00

É chamada de mobilidade articular a capacidade que as articulações do corpo possuem de se movimentar adequadamente, dentro do esperado. Por exemplo, virar a cabeça de um lado a outro, dobrar os joelhos e cotovelos, abrir e fechar as mãos e assim por diante.

Agora, quando a flexibilidade de determinada articulação ou de um conjunto delas está alterada, então o movimento gerado vai muito além do normal, trata-se de uma hipermobilidade articular.

"Os principais fatores envolvidos na presença da hipermobilidade são características anatômicas inerentes à articulação e estruturas periarticulares", explica Márcio Diego Teixeira, ortopedista especialista em cirurgia do ombro e cotovelo do serviço de ortopedia e traumatologia do Hospital Português da Bahia, em Salvador.

Bailarinos, professores de ioga e ginastas são alguns dos indivíduos que podem se beneficiar com essa condição e, por conta da rotina de atividades específicas e alongamentos associados a exercícios de tensão, resistência muscular e aeróbia, acabam por desenvolver também maiores amplitude e liberdade de movimentos, tornando as articulações mais maleáveis.

Mas qualquer pessoa pode apresentar hipermobilidade articular. A maioria pode não ter problemas e, espontaneamente, com o desenvolvimento e o avançar dos anos ter o quadro diminuído progressivamente, principalmente se adotar exercícios corretos e regulares.

Outra parcela, entretanto, tende a ser afetada e com efeitos que prejudicam o desempenho das tarefas diárias. Os motivos nesses casos tendem a ser sérios e exigem investigação médica.

Por que tanta elasticidade?

Ginasta brasileira Rebeca Andrade em na olimpíada de Tóquio - Athit Perawongmetha/Reuters - Athit Perawongmetha/Reuters
Ginasta brasileira Rebeca Andrade na Olimpíada de Tóquio
Imagem: Athit Perawongmetha/Reuters

Não sendo você contorcionista, que assim como os profissionais citados está sujeito à hipermobilidade articular de maneira adquirida e que geralmente atinge articulações específicas, estimuladas frequentemente, pode estar por trás dessa característica fatores genéticos hereditários, relacionados a alguma anormalidade na produção de colágeno ou doença rara.

"A hipermobilidade articular familiar é a mais comum e afeta várias articulações", afirma Alexandre Stivanin, ortopedista especialista em cirurgia de joelho pela SBCJ (Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho) e do Hospital Samaritano (SP).

Havendo relação com doenças, aparecem principalmente as síndromes de Ehlers-Danlos (em que diferentes mutações genéticas afetam a quantidade, a estrutura ou o conjunto dos diferentes colágenos) e Marfan (distúrbio raro do tecido conjuntivo e que pode atingir olhos, coração e cérebro), além de osteogênese imperfeita, também conhecida popularmente como doença dos "ossos de vidro", pois prejudica a formação dos ossos e os torna muito frágeis.

Porém, vale destacar que, no caso dessas síndromes, o sujeito apresentará outros sintomas além da hipermobilidade, que por si só não configura uma doença. Ela pode ainda ter relação com artrose, principalmente se houver alteração no formato dos ossos, assim pode ocorrer um aumento na amplitude de movimentos que a articulação realiza; excesso de peso, então a sobrecarga afeta as articulações; ligamentos fracos ou distendidos; traumas; cirurgia e doenças inflamatórias, como a artrite reumatoide, podendo ser amplificada pelos treinamentos físicos.

Podem acompanhá-la...

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Ser todo "molinho", a ponto de se conseguir virar demais a mão para trás e até encostar o polegar no antebraço chama a atenção, principalmente entre as crianças, pois se a causa for hereditária a habilidade é percebida desde a infância.

Entretanto, quem tem hipermobilidade articular pode apresentar mais outros sinais com o passar do tempo. São eles: dores, tendinites, luxações e predisposição maior a ter lesões pós-atividades de impacto.

Nos joelhos, a hipermobilidade pode provocar condromalácia, um amolecimento da cartilagem do osso frontal denominado patela. A queixa mais comum é o desconforto que piora ao subir ou descer escadas, mas também pode não ser nada agradável nessa condição ter que se sentar com as pernas cruzadas, agachar ou ajoelhar.

"Se atingir a coluna, a hipermobilidade também tem grandes chances de ocasionar espondilolistese, pelo escorregamento das vertebras", explica Michel Kanas, ortopedista do Hospital Israelita Albert Einstein e do Instituto Cohen.

A hipermobilidade articular ainda pode predispor, ou vir acompanhada de tensão muscular e fadiga, pois os músculos acabam tendo que trabalhar mais; rigidez articular por acúmulo de líquido dentro da articulação, uma vez que o organismo tenta reparar as lesões provenientes da sobrecarga dos movimentos, ou devido à maturidade e perda da elasticidade das fibras de colágeno; estiramento ou rompimento dos ligamentos (entorses) nos tornozelos; e pé plano.

Diagnóstico e tratamentos

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A hipermobilidade articular é identificada por meio de perguntas e exame físico que consiste em avaliar a flexibilidade de dedos, joelhos, cotovelo e coluna. "A avaliação de um ortopedista é necessária tanto para aliviar a dor, como para prevenir e tratar as complicações", informa Teixeira.

São consideradas quantas articulações hipermóveis o paciente tem, se sente dor crônica nessas articulações e outros danos, como luxações, lesões, frouxidões e instabilidades.

Quanto às doenças genéticas que apresentam hipermobilidade, para cada uma delas existem critérios clínicos e de avaliações genéticas muito bem traçadas. Por isso, os tratamentos também variam e são individualizados.

Por ser uma manifestação mais comum antes da idade adulta —e em mulheres—, crianças e jovens são orientados a possíveis consequências de práticas esportivas e de rotina, com intuito de se evitar consequências negativas no futuro.

Hipermobilidade não se cura, mas os sintomas e complicações, caso estejam presentes, são possíveis de serem controlados ou amenizados.

São alguns recursos: fisioterapia, exercícios de fortalecimento, alongamento e condicionamento da musculatura ao redor da articulação, natação, pilates, massagens, terapias térmicas, práticas de relaxamento, uso de analgésicos comuns e adoção de um estilo de vida saudável, o que inclui mudança no ritmo das atividades.