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'Pior inferno', relembra Thaila Ayala sobre aborto; como elaborar o luto?

Thaila Ayala sofreu aborto em 2021; hoje, ela é mãe de Francisco, de 8 meses - Instagram
Thaila Ayala sofreu aborto em 2021; hoje, ela é mãe de Francisco, de 8 meses Imagem: Instagram

De VivaBem*, em São Paulo

07/08/2022 10h39

A atriz Thaila Ayala compartilhou, neste sábado (6), o que definiu como um dos momentos mais difíceis da sua vida: a perda de um bebê, que aconteceu em fevereiro de 2021. Hoje, ela é mãe de Francisco, de oito meses.

Na época, ela mandou um áudio de três minutos para a também atriz Julia Faria, sua amiga, dando a notícia do aborto. Muito emocionada, Thayla começou o áudio assim

"Oi, maridinha. Passando para avisar que estou aqui na perinatal. Não, não é para parir um filho. Não foi desta vez. Não tinha parado para falar antes porque, você me conhece, quando o bicho pega mesmo, eu vou para dentro da concha. Prefiro passar pelas coisas sozinha. E perdi o neném, passei pelo pior inferno na vida. A gente achou que ia sair normal, aí não saiu".

A atriz já havia falado sobre essa perda em outubro, mas com menos detalhes. A revelação veio ao responder uma caixa de perguntas do Instagram. A questão era se ela tinha muito medo de enfrentar problemas no início da gestação de Francisco.

Luto precisa ser reconhecido

Muitas vezes, o luto após um aborto ou a perda de um bebê pode não ser validado. Para qualquer "objeto de amor" que é perdido —um emprego, um pet ou uma pessoa— haverá sofrimento. Até porque, muitas vezes, o bebê passa a existir muito antes de ser concebido ou de nascer.

"O bebê existe nos sonhos e nos planejamentos de vida. Ao longo da gestação, é comum que ele passe a existir no discurso dos pais, sendo nomeado, por exemplo. Ele já existe no imaginário e no simbólico dos pais", explica Monica Venâncio, psicóloga do Hospital Universitário da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e responsável pelo ambulatório do luto da instituição.

Segundo ela, é por essa existência que é necessário e válido que o luto diante da perda desse bebê idealizado possa ser acolhido, reconhecido e que encontre condições de ser elaborado.

Como elaborar o luto? Há formas de "superar"?

De acordo com as especialistas, o verbo "superar" não é o mais indicado, mas sim "conviver" ou, então, "elaborar" esse luto. "Quando eu ouço que o luto precisa ser 'superado' tenho a impressão de que é necessário esquecer a perda e seguir adiante. O que na maioria das vezes não é possível. Trata-se de uma exigência quase impossível de ser cumprida", afirma a psicóloga da UFBA.

De acordo com ela, é necessário entender que o luto é um processo que envolve fatores inconscientes. "É preciso viver o luto para, adiante, conviver com a ausência do bebê perdido, por exemplo", diz.

O primeiro passo é se permitir ficar triste, com raiva ou qualquer outra sensação que apareça. É entender que isso faz parte do processo. "Ter consciência disso já é libertador", diz Tania Alves, psiquiatra e coordenadora do Ambulatório de Luto do IPq (Instituto de Psiquiatria) do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

"Assim como mudamos quando nos apaixonamos, é esperado ficar assim neste momento de luto. Você está agindo dentro das expectativas, não é nenhum tipo de 'enlouquecimento''', explica Alves.

Até porque a perda de um bebê é também a perda, em potencial, "daquilo que poderia ser e nunca será possível ter acesso". "Por isso, os pais vão precisar desvendar o que se perdeu com a morte daquele bebê. E isso é muito singular", afirma Venâncio.

Há formas de vivenciar esse luto de uma forma saudável, com algumas estratégias. Uma delas é criar rituais para esse momento. Às vezes, dependendo do casal, um velório para o bebê pode ajudar no processo.

É possível ainda escrever uma carta para ele ou fazer um diário sobre o ocorrido. Uma outra opção é entrar em grupos de pessoas que passaram pelo mesmo. A sensação de pertencimento, a partir de relatos semelhantes, pode auxiliar na elaboração do luto.

Mas quando os sintomas se intensificam ao longo do tempo, trazendo prejuízos na vida profissional, pessoal, além de negligências com a saúde, é preciso procurar ajuda especializada.

"O sofrimento humano não pode ser lido sempre como uma patologia. Tristeza, medos, angústias fazem parte da vida humana. Por isso, é muito importante o diagnóstico diferencial entre luto e depressão. Profissionais especializados, como psicólogos e psiquiatras, podem fazer esse diagnóstico diferencial e avaliar a ajuda necessária em cada situação", explica a psicóloga da UFBA.

* Com informações de reportagem publicada em 10/11/2021.