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Por que pessoas casadas têm menos risco de doenças que as solteiras?

Getty Images
Imagem: Getty Images

Janaína Silva

Colaboração para o VivaBem

14/06/2022 04h00

Você já pensou que os relacionamentos podem ou não fazer bem à saúde? Com certeza, conhece casais que engordaram após casarem ou percebeu indícios de problemas em outros que passavam por situações tóxicas ou abusivas. Até mesmo os que se divorciam ou ficam viúvos passam por momentos que afetam as condições salutares.

Há algum tempo cientistas tentam estabelecer a relação entre estado civil, enfermidades e mortalidade. Diversos estudos já mostraram que ter um parceiro pode reduzir o risco de diversos tipos de problemas de saúde.

Protege do câncer e de problemas no coração

Um artigo publicado em 2018 na revista médica britânica Heart, por exemplo, usou dados de 34 estudos e dois milhões de participantes de vários países da Europa, América do Norte, Escandinávia, Oriente Médio e Ásia. Os resultados mostraram que indivíduos divorciados, viúvos ou que nunca se casaram tinham até 55% mais risco de doença cardíaca, derrame e morte relacionada ao coração do que adultos casados.

Em 2013, a Revista de Oncologia Clínica, da Asco (Sociedade Americana de Oncologia Clínica), publicou estudo que mostrou que pacientes solteiros, incluindo viúvos, apresentam risco maior de câncer metastático, subtratamento e morte por câncer do que pacientes casados. O casamento foi associado a uma redução relativa na morte por câncer, variando de 12% a 33%.

Outro estudo do Centro Alemão de Insuficiência Cardíaca em Würzburg (DZHI), apresentado no Congresso de Insuficiência Cardíaca 2022, analisou 1.022 pacientes cardíacos que estiveram internados entre 2004 e 2007. Dos 1.008 que informaram o estado civil, 63% eram casados e 37% relataram ser solteiros no momento da internação, sendo 195 viúvos, 96 nunca casados e 84 separados ou divorciados.

Durante o período de 10 anos, 67% dos pacientes cardíacos morreram. Os solteiros tiveram um risco maior de morte por todas as causas e morte cardiovascular. Os pacientes viúvos apresentaram o maior risco de mortalidade, para todas as causas e morte cardiovascular, em comparação com o grupo casado.

Apoio na saúde e na doença

Mas qual a relação entre ter um parceiro e o menor risco de adoecer? Autor do estudo alemão, o médico Fabian Kerwagen explica que a ligação entre casamento e longevidade ilustra a importância do apoio social para quem já tem alguma doença, como insuficiência cardíaca. Os cônjuges podem apoiar a ingestão correta e regular de medicamentos, fornecer motivação e atuar como modelo no desenvolvimento de comportamentos saudáveis, o que gera aumento da expectativa de vida.

No caso de quem não está doente, o parceiro tem outro papel importante: a manutenção da saúde mental. "A experiência do casamento tem impacto positivo na saúde dos cônjuges ao proporcionar o desenvolvimento e a realização pessoal dos envolvidos. Isso só é possível quando o querer e o conceder de ambos os cônjuges estão preservados por eles mesmos e se apresentam a partir de ações constantes e disponíveis a todo e qualquer tempo", afirma Paulo Tessarioli, psicólogo e presidente da Abrasex (Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde, Educação e Terapia Sexual).

Além disso, pessoas em relacionamentos felizes têm uma função imunológica mais forte do que aquelas que não são. Estudos ainda mostram que o cortisol —hormônio do estresse que em alto nível pode prejudicar a função imunológica— tende a ser liberado em menor quantidade em pessoas casadas em comparação com as solteiras.

O malefício do casamento: peso

Enquanto em relação às enfermidades, os casais contam com o apoio mútuo para a superação das dificuldades, os benefícios do casamento não incluem um IMC (Índice de Massa Corporal) mais saudável.

Uma pesquisa publicada em 2018, na Alemanha, analisou 20.950 indivíduos, que tinham entre 19 e 100 anos, com o objetivo de examinar como as mudanças no estado civil afetam o IMC ao longo do tempo. O resultado foi um ganho de peso significativo em homens e mulheres relativo ao casamento. Já o IMC após a separação é comparável ao de antes do enlace. Exercícios, alimentação saudável e tabagismo não atenuaram o efeito das alterações do status amoroso no IMC.

Na opinião de Camille Borges, psicóloga, sexóloga e terapeuta de casais, é importante observar a configuração e planejamento da vida desse casal. "Atentar se dividem as tarefas do lar para não sobrecarregar uma das pessoas, os hábitos alimentares que cada um tinha antes da união e a prática regular de atividade física antes do matrimônio são alguns dos fatores para observar", diz.

Estudos já mostraram que os hábitos de saúde são "contagiosos" em casais, e a melhora em um dos cônjuges geralmente ocorre depois que o parceiro faz uma mudança saudável.

Por que a viuvez e o divórcio estão no meio?

Nos processos de separação, segundo Borges, existem casais em que a decisão é unilateral e a outra pessoa não aceita, sofrendo por motivos diferentes: adaptação, julgamento e cobranças sociais ou nova configuração familiar.

O declínio da saúde entre os que ficam viúvos e os que se separam requer atenção. "É uma situação que não foi escolhida e chegam a apresentar um quadro clínico que necessita cuidados, principalmente se a morte dos parceiros ocorreu de forma inesperada", pontua.

"A dor da perda é superada a partir de um conjunto de ações, como a aceitação da realidade e a adaptação ao mundo sem a pessoa que se foi. São tarefas difíceis de serem praticadas e demandam acompanhamento psicológico", orienta Tessarioli.

Quando faz mal

Apesar de o casamento ter seu lado positivo, é bom considerar também os níveis de estresse, principalmente após os períodos de isolamento social devido à pandemia. Segundo Tessarioli, certo nível de estresse nas uniões é inevitável e útil para o desenvolvimento das pessoas. Porém, períodos muito longos de estresse são capazes de gerar doenças psicossomáticas.

Outro ponto são as situações abusivas que implicam às vítimas prejuízos sociais, ao serem afastadas de pessoas significativas, e os danos à saúde mental, que podem perdurar por longos períodos. "Dificuldades para confiar em outras pessoas, para identificar comportamentos abusivos e questões sobre a autoestima são alguns dos possíveis infortúnios", lista a sexóloga.

Para ela, os relacionamentos saudáveis são uma excelente forma de se ter uma vida prazerosa quando aquilo que se deseja é viver uma vida a dois. Mas isso não significa que não é possível ter uma qualidade de vida ao estar solteiro. É fundamental encontrar sentido nos dois ou mais formatos. Acreditar que só se é feliz nos momentos em que se está acompanhado amorosamente é muito restrito. "Relacionamento precisa valer a pena. Se não vale, contradizendo Tom Jobim, é possível ser feliz sozinho."