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Dor de cabeça é mais comum em mulheres; entenda por quê

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Imagem: iStock

Colaboração para VivaBem

02/03/2022 04h00

Ela começa como um incômodo e vai crescendo ao longo do dia até se tornar insuportável. A dor de cabeça já é uma velha conhecida de muita gente e pode surgir de forma pontual ou ainda ser uma condição crônica e que precisa de tratamento para não atrapalhar a rotina diária.

Dados da Sociedade Brasileira de Cefaleia indicam que cerca de 95% das pessoas têm dor de cabeça ao menos uma vez na vida.

"Estima-se que são em torno de 30 milhões de pessoas com dor de cabeça no Brasil", afirma o neurologista Alexandre Ottoni, do Centro de Bloqueio Neuroquímico do Hospital Israelita Albert Einstein (SP), e pesquisador do Centro de Pesquisa Clínica da mesma instituição. Segundo ele, as mulheres são as que mais sofrem: cerca de 20% delas apresentam o problema, contra apenas 6% dos homens.

Por que elas sofrem mais?

Os especialistas acreditam que a razão disso está no equilíbrio hormonal da mulher. "Na primeira fase do ciclo menstrual, chamada de folicular, o estrógeno está baixo e, conforme o folículo cresce, esse hormônio atinge seu pico e acontece a ovulação", explica Ana Karla Freitas, ginecologista e obstetra da Maternidade Escola Januário Cicco, da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).

"Na fase lútea, é a vez de a progesterona agir e preparar o útero para uma possível implantação de óvulo fecundado. É essa variação hormonal entre um ciclo e outro que parece favorecer a dor de cabeça", diz.

Essa tese ganha força também quando se nota que a dor de cabeça costuma aparecer justamente na adolescência, no período da primeira menstruação. "Por outro lado, a mulher tende a não sentir tanta dor na gestação justamente porque não há essa variação hormonal tão intensa", explica a médica.

Apesar de o ciclo menstrual de fato ser reconhecido como um importante motivo para a dor de cabeça, é simplista demais achar que a causa do problema se resume a isso. "Uma mulher que não tem enxaqueca ou não tem uma predisposição genética não vai ter crises na menstruação. Ao atribuir a dor a qualquer gatilho, aquela dor que era primária, ou seja, era a própria doença, passa a ser secundária, como se fosse um sintoma de algo. E isso não é verdade", alerta o neurologista Alexandre Ottoni.

Ou seja, não adianta atribuir uma causa específica à dor —como a ingestão de um determinado alimento ou bebida ou até algum hábito específico— achando que, dessa forma, irá se ver livre do problema. "Na verdade, a dor só vai aparecer se você tiver uma predisposição genética a ela", completa o especialista.

Dor de cabeça ou enxaqueca?

Uma dúvida bastante comum é entender a diferença entre a dor de cabeça comum e a enxaqueca, que costuma ter sintomas mais intensos. De fato, a dor de cabeça tensional costuma vir de forma leve a moderada, com sensibilidade maior na cabeça especialmente quando pressionada. A duração vai de 30 minutos a uma semana, e não há sensibilidade à luz ou piora durante atividade física.

Já a enxaqueca é diagnosticada após a detecção de um conjunto de três fatores. O primeiro é a frequência: é preciso ter cinco ou mais crises com duração de quatro a 72 horas em um intervalo de tempo indeterminado. O segundo é o tipo da dor, que precisa ser descrita com pelo menos duas das seguintes características: dor em apenas um lado da cabeça; sensação de latejamento com intensidade moderada a forte; e/ou que piora com atividade física.

Por fim, é preciso que a crise venha acompanhada de pelo menos um dos seguintes sintomas: náusea e/ou vômito; muita sensibilidade à luz; intolerância a barulhos e/ou cheiros.

Quando procurar ajuda médica?

Infelizmente, muita gente acha normal conviver com dor de cabeça. Mas isso não precisa ser assim. É importante saber que, quando a dor aparece mais de três vezes por mês durante três meses, ou quando surge sempre durante o período menstrual; e é incapacitante, é preciso buscar ajuda para entender o que pode estar acontecendo.

"Isso porque, hoje sabemos, quem sofre com oito dias de dor ao mês ou com dor crônica durante 15 dias têm o mesmo nível de impacto na qualidade de vida", afirma o neurologista Alexandre Ottoni.

Para entender melhor quando e como a dor aparece, a Sociedade Brasileira de Cefaleia orienta a manter um "diário da dor", anotando os marcadores mais importantes como data e horário da crise, intensidade, tipo e localização.

"Isso vai ajudar a entender se você faz parte do grupo de mulheres que têm dor sempre nos dois a três dias antes de menstruar, durante e até três dias após a menstruação, o que chamamos de cefaleia do período menstrual", diz o neurologista Hennan Salzedas Teixeira, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, e do Instituto de Ciências Neurológicas.

Os tratamentos costumam ser feitos com tipos específicos de medicamentos orais, geralmente de uso contínuo, ou injeções de anticorpos que ajudam a bloquear a ação do neurotransmissor envolvido na enxaqueca.

"Para as mulheres que só têm dor durante o período menstrual, podemos fazer uma versão menor do tratamento, usando uma medicação específica para enxaqueca dois dias antes da menstruação e até três dias depois", diz Ottoni.

Há ainda a recomendação de interromper a menstruação com o uso de anticoncepcional. No entanto, essa é uma decisão que deve ser muito bem orientada. "Geralmente, essa decisão leva em conta a menstruação como causa da dor, porém, ressalto que isso não é o que acontece. O bloqueio hormonal pode dar resultado quando bem indicado, mas não podemos perder de vista que a doença é a dor em si e ela precisa de atenção", adverte o neurologista.

No entanto, essa opção não é recomendada para quem tem a chamada enxaqueca com aura —um tipo de dor que apresenta uma espécie de luz, ou figuras flutuantes que ficam na visão, ou até formigamento que vai se espalhando pelo corpo, como sinal de uma disfunção focal que acontece no córtex cerebral.

"Nesses casos, existe associação com mais risco de doenças no cérebro, como AVC ou trombose venosa central, pois além da manifestação da dor existe uma mudança na capacidade vascular", explica Ana Karla Freitas. "Uma opção seria a pílula de progesterona isolada, que é composta apenas pelo hormônio progestina, uma forma sintética da progesterona", afirma.

E vale aqui uma ressalva: a automedicação, muito comum em quem tem dor de cabeça, pode piorar a dor. Isso porque o excesso no uso de analgésicos muda a percepção de dor no cérebro e pode, inclusive, torná-la uma doença crônica.

Antes de sair limpando o armário de casa, respire: ninguém está falando para jogar os remédios fora —até porque, esse tipo de medicamento pode, sim, ser usado em situações pontuais, desde que seja feito um uso racional e que a bula seja lida. Mas, se o remédio está sendo utilizado mais de 10 vezes no mês, isso já indica exagero —e aí é hora de investigar as causas do problema.