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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Adolescentes que dormem pouco têm mais risco de sofrer com insônia depois

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Imagem: iStock

Bruna Alves

Do VivaBem, em São Paulo*

19/02/2022 15h15

Um estudo publicado na revista americana Pediatrics, no último dia 17 de fevereiro, mostrou que crianças e adolescentes que dormem pouco têm mais riscos de terem insônia ao se tornarem jovens adultos.

De acordo com o resultado, crianças de 9 anos que dormiam pouco têm duas vezes e meio mais risco de ter insônia futuramente, quando chegarem aos 24. Já entre adolescentes, com idade média de 16 anos, o risco subiu para cinco vezes e meio, em comparação com aqueles que dormiam normalmente.

De acordo com os autores do estudo, essa é a primeira pesquisa realizada a longo prazo, que descreve as trajetórias de desenvolvimento dos sintomas de insônia na infância até a idade adulta, por medidas subjetivas e objetivas.

"Com base em estudos anteriores nossos e de outros, não esperávamos que os sintomas de insônia persistissem em cerca de 40% dessas crianças de aproximadamente 9 anos de idade até a idade adulta jovem", disse à CNN, por e-mail, o pesquisador Júlio Fernandez-Mendoza, principal autor do estudo, psicólogo clínico certificado em medicina comportamental do sono e diretor do programa de Medicina do Sono Comportamental da Penn State Health e da Penn State College of Medicine.

"Essa é uma proporção muito maior do que se acreditava anteriormente", ressaltou Fernandez-Mendoza. "Não devemos esperar que os sintomas de insônia na infância desapareçam (remissão), pelo menos em uma proporção significativa de crianças. Devemos considerar a adolescência um período crítico de desenvolvimento para que os sintomas de insônia piorem em uma condição clínica crônica", alertou o especialista.

Como foi feito o estudo?

Um total de 502 crianças com 9 anos de idade foi avaliado durante 7,4 anos. Depois, como adolescentes, na faixa dos 16 anos; e 15 anos depois como adultos, aos 24 anos.

Os especialistas avaliaram o sono por meio de relato dos pais, autorrelato dos próprios entrevistados e exames, na infância e adolescência.

Durante a primeira visita ao laboratório dos participantes, entre 2000 e 2005, e a segunda visita entre 2010 e 2013, os pesquisadores monitoraram seu sono de "luzes apagadas" das 21h às 23h e com as até "luzes acesas" das 6h às 8h.

Eles avaliaram o sono com polissonografia, um teste que registra as ondas cerebrais, o nível de oxigênio no sangue, a frequência cardíaca, a respiração e os movimentos das pernas e dos olhos durante o sono.

Na terceira pesquisa, que ocorreu entre 2018 e 2021, todos os participantes atingiram a idade adulta e relataram que geralmente dormiam entre 03h30 e 11 horas diárias.

Por fim, os sintomas de insônia foram verificados como dificuldades de moderadas a graves para iniciar e/ou manter o sono nos 3 períodos da vida que foram estudados.

Vulnerabilidade do sono em períodos de transição

Segundo os autores do estudo, os sintomas persistentes de insônia na transição para a adolescência foram determinados principalmente por fatores comportamentais ou por serem mais biologicamente vulneráveis durante o período de desenvolvimento da adolescência.

Pessoas com insônia tendem a passar muito tempo na cama ou fazer outras coisas nela, além de dormir. "E esses comportamentos, provavelmente, foram aprendidos desde cedo", lembrou Fernandez-Mendoza.

"No entanto, um dos principais mecanismos da insônia é a hiperexcitação, entendida como uma desregulação biológica dos sintomas de estresse e dos centros cerebrais que controlam a excitação/vigília", explicou.

A fase da adolescência é conhecida por ter esse tipo de hiperexcitação, além de outros fatores como sexo, raça ou etnia e condição socioeconômica, que também podem influenciar com os sintomas de insônia.

Por que esse estudo é importante?

Para os especialistas, o estudo enfatiza a necessidade de abordar os problemas de insônia durante a infância e buscar alternativas de tratamento, inclusive, para problemas de saúde mental.

"Vemos a insônia não apenas com desafios físicos, mas também com desafios de saúde mental", destacou Robin Lloyd, médico pediátrico de medicina do sono da Clínica Mayo, que não esteve envolvido no estudo.

"Tem uma relação bidirecional, em que as pessoas que têm mais problemas de saúde mental tendem a ter mais problemas de sono; pessoas que têm mais problemas de sono tendem a ter mais problemas de saúde mental", disse.

Vale ficar atento ao sono das crianças e, principalmente, dos adolescentes, para perceber alterações que indique um distúrbio que precisa de tratamento médico.

"(Existem) terapias comportamentais seguras e baseadas em evidências que são eficazes e podem ser implementadas com a supervisão de um médico treinado para fazer seus filhos dormirem de forma independente, sem resistência na hora certa e sem a necessidade de um pai dormir no quarto", explica Fernandez-Mendoza, o principal autor do estudo.

Já para adolescentes, um tratamento normalmente indicado é a terapia cognitivo-comportamental. "É o tratamento de primeira linha para o transtorno de insônia. Muitos de nós, cientistas-clínicos, tratamos a insônia em adolescentes usando essa terapia com adaptações mínimas", acrescentou Fernandez-Mendoza. "Quanto mais cedo tratarmos, melhor. Medicamentos para dormir devem ser um tratamento de segunda linha".

Mas afinal, quanto precisamos dormir?

A depender da idade, podem ser necessárias as seguintes horas de sono:

  • Idosos (65 +): 7 a 8 horas;
  • Adultos (26-64 anos): 7 a 9 horas;
  • Adolescentes (14-17 anos): 8 a 10 horas;
  • Crianças em idade escolar (6-13 anos): 9 a 11 horas;
  • Crianças (3-5 anos): 10 a 13 horas;
  • Crianças pequenas (1-2 anos): 11 a 14 horas;
  • Recém-nascidos e bebês: 14 a 17 horas.

Há como prevenir a insônia?

Os estímulos luminosos interferem na liberação do hormônio melatonina, exatamente o responsável por regular o nosso sono. Portanto, quanto maior a exposição a luz, menor o sono - iStock - iStock
Os estímulos luminosos interferem na liberação do hormônio melatonina, exatamente o responsável por regular o nosso sono. Portanto, quanto maior a exposição a luz, menor o sono
Imagem: iStock

Uma das dicas mais importantes é controlar o tempo de tela para que a melatonina, o hormônio do sono, não seja prejudicado. A higiene geral do sono é outro ponto importante para crianças e adultos jovens. Isso inclui manter um horário de sono consistente, bem como um quarto silencioso, escuro e com temperatura agradável.

Também é importante evitar cochilos durante o dia, pois isso pode reduzir a qualidade do sono noturno. Evite também estimulantes de qualquer natureza, como café, alguns chás e energéticos. E se você pratica alguma atividade física, realize os treinos nos horários da manhã ou tarde. Durante a noite, o estímulo que os exercícios causam no corpo pode agravar a insônia.

*Com informações da reportagem publicada em 14/07/2020.