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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Dormir com a luz acesa é nocivo para o organismo?

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Imagem: iStock

Patricia Bellas

Colaboração para VivaBem

04/02/2022 04h00

Algumas pessoas não conseguem dormir em um ambiente totalmente escuro, já outras se sentem desconfortáveis com qualquer intensidade de luz. Fatores emocionais como o estresse e o uso de determinados medicamentos podem desencadear distúrbios do sono —insônia, apneia, sonambulismo etc—, mas a exposição à luminosidade também pode ser prejudicial.

O dia foi cansativo e o sono chegou. Você entra no quarto, apaga a luz, mas logo desiste. Liga a televisão, visita as redes sociais e horas se passam. Vai ao banheiro e resolve deixar a luz do corredor acesa. O processo se repete até que o despertador toca. Hora de se levantar para trabalhar. Essa é a realidade de muitas pessoas que se mantêm ativas no trabalho, mas não conseguem se desconectar das atividades no horário de descanso.

"Isso pode acontecer por vários fatores, mas é mais comum que a dificuldade para dormir seja causada por distúrbios de sono já existentes e o uso de aparelhos eletrônicos à noite. Fatores psicológicos como ansiedade e depressão também interferem. No caso do idoso acamado ou com dificuldade de mobilidade, existe um agravante porque o hábito de deixá-lo em um quarto escuro durante o dia pode afetar o ciclo circadiano", explica Franco Martins, médico pneumologista e especialista em medicina do sono do Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo (SP).

Segundo o psiquiatra Marcelo Paoli, supervisor do ambulatório de neuropsiquiatria geriátrica e do programa de ativação comportamental da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o primeiro passo é avaliar o motivo pelo qual o paciente não consegue dormir com a luz apagada para saber se é necessário fazer uso de medicamentos controlados, o que não significa que a condição seja grave.

É bom ter em mente que o horário em que o paciente toma algum medicamento pode afetar a qualidade do sono em vista do pico de ação farmacológica e é importante verificar a interação com remédios para outras condições. Geralmente um simples ajuste é o suficiente para reequilibrar o organismo.

A avaliação médica é importante para que se possa solicitar exames, analisar a polifarmácia (uso contínuo de vários medicamentos) e verificar a possibilidade de outros tipos de terapia.

Influência da luz

Sono; abajur  - iStock - iStock
Imagem: iStock

Qualquer tipo de luminosidade, som ou movimento pode interferir na qualidade do sono, mas dormir com uma luz de intensidade baixa de forma indireta, ou seja, sem iluminar totalmente o quarto e nem estar próxima ao rosto, não causa prejuízo fisiológico ao organismo.

Para se ter a capacidade de inibir a produção da melatonina, hormônio responsável por regular o sono e proteger o organismo de determinadas doenças, é necessário uma exposição significativa. A luz branca, presente nos cômodos, tende a deixar o corpo em vigília, mas a luz azul, emitida por aparelhos eletrônicos (celular, TV e notebook, por exemplo), é a mais nociva, porque é a mais intensa e geralmente está mais próxima ao rosto, causando o aumento de radicais livres e processos inflamatórios.

A temperatura da luz também influencia na percepção se é noite ou dia, o que altera a liberação e redução de substâncias importantes ao funcionamento do corpo. A luz amarela, considerada mais quente, gera maior conforto para o descanso e as coloridas têm sido utilizadas na cromoterapia, prática incluída no SUS (Sistema Único de Saúde).

Luz embutida no rodapé incidindo no chão, luzes de emergência e luz amarela indireta podem proporcionar maior segurança ao idoso.

O que mais influencia no sono?

Sono; celular; cama - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Pessoas com experiências negativas noturnas e transtornos psicológicos podem ter mais dificuldade de relaxamento. Ansiedade e depressão podem se apresentar em forma de sonolência excessiva e insônia comórbida. Então, podem ter dificuldade para iniciar o sono, dormir além do necessário ou acordar mais cedo do que o esperado de forma espontânea. Estresse, burnout e TDAH também interferem na qualidade do descanso.

Sentir a necessidade de ficar conectado no celular durante a madrugada é outro fator preocupante e aumenta o risco de sedentarismo, obesidade e, consequentemente, de desenvolver apneia, que é a evolução do ronco, quando a respiração diminui a quantidade de oxigênio provocando a liberação de substâncias nocivas ao organismo. Em casos como esse, é necessário o uso de CPAP (Continuous Positive Airway Pressure), um compressor de ar que ajuda na respiração, mas não há política pública para fornecimento de forma gratuita.

O conteúdo de filmes, vídeos, jornais e redes sociais podem liberar adrenalina e cortisol, substâncias que devem estar ativas somente durante o dia em momentos de estresse, alerta e fuga e, se liberadas à noite, seja de forma comportamental ou medicamentosa, podem ser mais prejudiciais do que a iluminação. Após desligar os aparelhos, a substância ainda se mantém por algum tempo em circulação.

Complicações da covid-19

Pessoas que tiveram covid-19 podem desenvolver dificuldades no sono tanto por mudança de rotina quanto por sequelas neurológicas ou musculares. Após a alta do hospital, algumas pessoas necessitam de auxílio médico para readaptar o relógio biológico, em vista da luminosidade e dos despertares noturnos.

A maioria dos casos de pessoas que apresentaram sonolência diurna e insônia pós-covid já tinham algum distúrbio do sono em alguma época da vida e a covid-19 intensificou. O cansaço prolongado está associado à perda muscular, e não somente à porcentagem do pulmão comprometido.

Quando dormimos, os músculos do corpo entram em atonia, que é o grande relaxamento da musculatura, incluindo a respiratória. Em pessoas saudáveis, é o suficiente para respirar adequadamente, mas quando o músculo apresenta fragilidade pós-covid, não consegue suprir essa necessidade e ficam predispostas a desenvolverem distúrbios como a hipóxia, baixa concentração de oxigênio nos tecidos.

Higiene do sono

Café Padocaria SP - Keiny Andrade/UOL - Keiny Andrade/UOL
Evite a cafeína após as 19 horas
Imagem: Keiny Andrade/UOL

Para dormir de forma adequada é indicado adquirir novos hábitos com uma série de técnicas conhecidas como higiene do sono, que consistem em se expor à luz natural durante o dia, se distanciar de aparelhos eletrônicos duas horas antes de dormir, não fazer uso de substâncias estimulantes que contenham cafeína depois das 19 horas, usar a cama apenas para dormir e ter relações sexuais e, portanto, não utilizá-la para trabalho, alimentação e lazer, como assistir à televisão.

Ler um livro ajuda, mas somente sentado em uma cadeira e com o auxílio de um abajur, porque não reflete luz direta no rosto. Entretanto, é preciso atenção ao conteúdo para que, aos poucos, o organismo volte a entender que durante o dia deve estar ativo e à noite em descanso.

Fontes: Franco Martins, médico pneumologista, especialista em medicina do sono do Hospital Oswaldo Cruz (SP), e medical affairs na indústria farmacêutica GSK (GlaxoSmithKline); Rodolfo Augusto Bacelar, médico pneumologista, especialista em medicina do sono e presidente da Associação Brasileira do Sono em João Pessoa (PB); Marcelo Paoli, médico psiquiatra, especialista em geriatria, supervisor do ambulatório de neuropsiquiatria geriátrica e do programa de ativação comportamental da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo); e Rosa Hasan, médica neurologista, especialista em medicina do sono, pesquisadora e coordenadora do Asono (Ambulatório do Sono) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).