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Remédios para dormir podem prejudicar a saúde? Veja riscos e indicações

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Samantha Cerquetani

Colaboração para VivaBem

19/01/2022 04h00

Todo mundo já teve uma noite difícil por conta da insônia. Ficar se revirando na cama, pensando nos problemas ou esperando o sono chegar se tornou a realidade de muitos brasileiros, principalmente na pandemia. E depois de passar dias (ou semanas) sem conseguir dormir adequadamente é comum a busca por remédios para resolver o problema.

"Aumentou muito o consumo de medicamentos para dormir durante a pandemia, inclusive a automedicação. E pesquisas apontam que o uso independe da idade. Mas esses fármacos são indicados por pouco tempo e precisam de acompanhamento médico constante", alerta Célia Roesler, neurologista da ABN (Associação Brasileira de Neurologia).

De acordo com o CFF (Conselho Federal de Farmácia), de janeiro a maio de 2021, a venda de antidepressivos e estabilizadores de humor aumentou 13% em relação ao mesmo período do ano passado. Vale destacar que os antidepressivos sedativos podem ser prescritos em doses baixas para combater a insônia.

Quais são os riscos?

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Há diversos remédios prescritos para insônia que ajudam a induzir o sono ou fazem com que a pessoa durma por mais tempo. Os riscos e os benefícios variam de acordo com a classe de medicamento definida pelo especialista do sono ou psiquiatra.

Cada classe de medicação age ligando a receptores cerebrais, aumentando ou diminuindo os seus efeitos, causando sonolência e diminuindo a ansiedade. De acordo com Lucio Huebra, neurologista especialista em medicina do sono da ABS (Associação Brasileira do Sono), existem diversos estudos que atestam a segurança e a eficácia de medicações indutoras do sono.

"No entanto, há diversos efeitos colaterais relacionados ao uso de remédios para dormir. O evento indesejado mais frequente é a sonolência durante o dia, além de desatenção, prejuízo na produtividade e risco de acidentes de trabalho e no trânsito", completa.

Além disso, quando há o uso por longos períodos, podemos citar os riscos:

  • Aumento de quedas, principalmente nos idosos;
  • Dependência e abstinência com os hipnóticos (as chamadas drogas-Z), ou seja, a pessoa cria uma tolerância ao medicamento e necessita de doses cada vez mais altas para atingir o efeito desejado;
  • Alucinações e alterações de memória;
  • Sonambulismo, ou seja, quando a pessoa realiza atividades como andar ou comer sem estar completamente acordada;
  • Ganho de peso ou inchaços;
  • Queda da pressão arterial ao se levantar.

Apesar dos perigos apresentados, o uso dessas medicações é considerado seguro, quando indicado de forma individual, na dose recomendada e pelo período adequado.

"Quando comparamos a possibilidade de efeitos adversos das medicações com os malefícios de uma insônia não tratada, fica evidente o benefício do uso de fármacos para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas", completa Huebra.

Quem precisa usar

Se você tem problemas para pegar no sono ou não dorme adequadamente, o ideal é procurar ajuda profissional o quanto antes. Porém, isso não significa que o especialista prescreverá um medicamento controlado de imediato.

Inicialmente, será preciso identificar se o paciente está com o transtorno de insônia: se há dificuldade para iniciar ou manter o sono, se desperta antes do horário desejado ou sente insatisfação com a qualidade de sono.

"Esses sintomas devem acontecer no mínimo três vezes por semana por um período mínimo de três meses. E essa situação deve afetar a vida do indivíduo, atrapalhando o humor, trabalho, estudos e qualidade de vida", destaca o especialista.

Geralmente, quem sofre com a insônia recebe orientações para mudar a rotina. De acordo com Gustavo Leal, psiquiatra do Hupes-UFBA (Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia), a primeira abordagem não deve ser o uso de um medicamento, mas as mudanças de hábitos, ou seja, realizar a higiene do sono.

"Geralmente, a má qualidade do sono está associada a hábitos ruins. Com a pandemia, tivemos o aumento de insônia, principalmente associada aos transtornos de ansiedade e depressão. As rotinas mudaram bastante com o home office, ocorreu menos exposição solar, falta de exercícios e maior uso de computador e celular", explica.

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Dentre as medidas recomendadas para melhorar a qualidade do sono, estão:

  • Atividade física regular;
  • Regularidade nos horários de dormir e acordar;
  • Dieta balanceada com refeições leves próximas ao horário de dormir;
  • Evitar uso de alimentos ou substâncias estimulantes no período do fim da tarde ou à noite como o café;
  • Reduzir exposição luminosa no horário de dormir. É importante evitar o uso de celulares, computadores e televisão no período noturno.

"O sono é um comportamento essencial para a manutenção de um bom estado de saúde e bem-estar. É importante perceber se está dormindo bem, manter hábitos saudáveis e procurar ajuda médica, caso reconheça a presença de distúrbios do sono", aconselha Andrea Bacelar, neurologista e presidente da ABS.

Sem medicamentos, sem sono

Dormindo poucas horas por noite, Larissa Camargo, 26, sentiu os efeitos da insônia na sua rotina de trabalho e no dia a dia. "Faço tratamento para depressão e a qualidade do meu sono é bastante ruim. Fico horas me revirando na cama e, às vezes, só consigo dormir às 4h da manhã", afirma.

Além do antidepressivo, a atendente de call center também usava um tipo de medicamento para induzir o sono. Mas, por conta da correria, não conseguiu retornar ao psiquiatra para pegar uma nova receita. "Ao deitar, não paro de pensar nos acontecimentos do dia, meu cérebro fica sobrecarregado e sinto dor de cabeça, além de náuseas e falta de ar."

No dia da entrevista, Larissa se desequilibrou no banheiro da empresa em que trabalha e não conseguia parar de chorar. "É um conjunto de fatores: estou sem terapia, sem remédios e sem dormir. Passo o dia com sono, quando durmo tenho pesadelos. Preciso dos medicamentos para dormir, pois meu corpo não desliga. Acredito que ganhei tolerância e talvez precise aumentar a dose ou trocar a medicação", conclui.

Cuidado com a automedicação

mulher escolhendo remédios - AlexanderFord/iStock - AlexanderFord/iStock
Imagem: AlexanderFord/iStock

É bastante comum que a pessoa com insônia recorra a um medicamento "emprestado" de algum familiar ou amigo. Essa atitude, que parece inofensiva, retarda ou prejudica o diagnóstico do distúrbio do sono.

Além disso, em alguns casos, provoca interações medicamentosas e expõe o indivíduo ao risco de efeitos adversos indesejáveis, pelo uso em horários inapropriados, doses incorretas ou quantidade abusiva de remédios.

"Apenas um profissional consegue identificar o tipo de distúrbio do sono pelos sintomas e sinais apresentados e quais fármacos são adequados. A automedicação de remédios para induzir ao sono traz diversos efeitos adversos e a pessoa pode usar mais do que deveria e ter intoxicações", explica Rodrigo Schultz, neurologista e professor do curso de medicina da Universidade Santo Amaro.

E os remédios fitoterápicos?

Facilmente encontrados em farmácias, os fitoterápicos são produtos considerados mais naturais, já que a matéria-prima é de origem vegetal. De acordo com os especialistas consultados por VivaBem, eles contribuem com quadros de insônia leve ou moderada. Entre os mais comuns para essa finalidade estão a valeriana e a melissa.

Acredita-se que essas substâncias controlem a ansiedade e aumentem a sonolência, mas não existem comprovações científicas que constatem esses benefícios.

E assim como ocorre com qualquer medicamento, o uso do fitoterápico para insônia deve ser acompanhado por um profissional de saúde. Se a pessoa utiliza outras drogas, o uso por conta própria pode interferir na sua eficácia e comprometer o tratamento.