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'Vivo chapada de beleza', diz mulher capaz de enxergar 100 milhões de cores

Artista australiana diz que sua condição a faz enxergar a natureza de outra forma. - Reprodução/Concetta Antico Youtube
Artista australiana diz que sua condição a faz enxergar a natureza de outra forma. Imagem: Reprodução/Concetta Antico Youtube

Colaboração para o UOL

09/02/2022 10h26Atualizada em 09/02/2022 19h15

A pintora australiana Concetta Antico, hoje moradora dos Estados Unidos, vê o mundo de uma maneira diferente da maioria das pessoas e, por isso, vive "chapada de vida e beleza", como ela mesma define, em entrevista ao jornal britânico The Guardian. Tal diferença mora nas cores que se mostram para ela no dia, em mais de 100 milhões de variações, graças a uma condição rara que carrega consigo desde a infância.

Antico é uma tetracromata. Ou seja, a retina dela possui quatro células receptoras de cor, conhecidas como cones, uma a mais do que geralmente as pessoas têm. Nos casos comuns, quando há três cones, é possível distinguir cerca de 1 milhão de cores. Se uma pessoa é tetracromata, o número sobe consideravelmente, algo estimado em 100 milhões.

Para uma pintora, a condição tem potencial de ser uma aliada, como de fato é no caso da australiana. A peculiaridade de sua visão influenciou diretamente no seu estilo e suas escolhas artísticas. Em alguns casos, ela até flerta com uma estética levemente psicodélica, sem influência, contudo, de meios externos para alterar a consciência. Segundo Antico, o tetracromatismo é o suficiente para elevar seu espírito.

"Eu sou tão antidrogas, e tenho certeza que as pessoas pensam que eu estou chapada de alguma coisa a todo momento, mas eu, na verdade, estou chapada de vida e da beleza que nos rodeia. Eu também penso comigo, como poderíamos ser infelizes neste mundo? Apenas sente em um parque. Apenas vá e olhe para um arbusto ou uma árvore. Não há como não apreciar o quão magnífico isso é", disse a pintora ao Guardian.

Pintora - Divulgação/Concetta Antico Youtube - Divulgação/Concetta Antico Youtube
Tetracromatismo influenciou estilo de arte desenvolvido pela pintora.
Imagem: Divulgação/Concetta Antico Youtube

Quando criança, a artista gostava de pintar o cabelo com cores brilhantes e combinava carpetes verde-esmeralda com cortinas verde limão em seu quarto. Boa parte de seu tempo era dedicada a apreciar a natureza perto de um campo de golfe. Naquela época, ela não sabia de sua condição.

"Eu não sabia que não estava experimentando o mundo como as outras pessoas estavam. Para mim, o mundo era simplesmente muito colorido", lembra. "Eu sempre me senti vivendo em um mundo mágico. Eu sei que crianças dizem isso, mas para mim foi como se tudo fosse hiper maravilhoso. Eu queria pintar tudo o que eu via".

Antico se mudou para os Estados Unidos após terminar a faculdade e ficou em San Diego, onde virou artista e professora de arte, especializada em pinturas coloridas paisagens, flora e fauna. Foi só em 2012, entretanto, que recebeu o diagnóstico, depois que um de seus alunos, um neurologista, levantou a suspeita.

O aluno mandou a ela um artigo científico que a deixou intrigada, pois, alguns meses antes, sua filha havia sido diagnosticada com daltonismo. No texto, estava escrito que mulheres com potencial para tetracromatismo também têm potencial para ter filhas daltônicas. O gene do tetracromatismo, inclusive, está presente em cerca de 15% das mulheres, mas isso não é o suficiente para desenvolver a condição.

"No caso de Concetta, uma coisa que acreditamos é que, como ela pinta continuamente desde os sete anos de idade, ela realmente aproveitou esse potencial extra e o usou. É assim que a genética funciona: ela te dá o potencial para fazer coisas e, se o ambiente exigir que você faça isso, então os genes entram em ação", explica Kimberly Jameson, cientista da Universidade da Califórnia.

Concetta - Reprodução de vídeo/Concetta Antico Youtube - Reprodução de vídeo/Concetta Antico Youtube
Concetta Antico é a capaz de enxergar mais que cores que a maioria dos seres humanos
Imagem: Reprodução de vídeo/Concetta Antico Youtube

Mais tarde, Antico descobriu ainda que sua mãe, morta quando ela tinha 12 anos, também era tetracromata. Assim que soube, tudo fez sentido. "Ela tinha luzes vermelhas e azuis na piscina na década de 60, apenas para fazer ficar violeta. Coisas que ninguém estava fazendo, bizarras, e a casa dela tinha cores incomuns".

Muito habituada às cores da natureza, a australiana tem problemas com iluminações artificiais em alguns locais, como em grandes shoppings, por exemplo. Nesses casos, o mundo se torna um pouco mais feio para ela, mas apenas por alguns instantes. "Vou continuar pintando meus pássaros, meus animais, minhas árvores. Quero descrever o que estou vendo na natureza porque é uma janela, de certa forma, para coisas que outras pessoas não estão vendo."