Topo

Hipertensão causa danos cognitivos que podem ser confundidos com Alzheimer

Quadros afetam os microvasos cerebrais e podem causar alterações de memória, concentração e raciocínio - eggeeggjiew/iStock
Quadros afetam os microvasos cerebrais e podem causar alterações de memória, concentração e raciocínio Imagem: eggeeggjiew/iStock

Sarah Alves

Colaboração para VivaBem, em São Paulo

08/02/2022 04h00

Silenciosa, a hipertensão pode causar danos progressivos e é um dos principais fatores de risco para AVC (acidente vascular cerebral). Porém, as consequências também levam a quadros de declínio cognitivo, com alterações de memória, concentração e raciocínio.

Esses quadros causam danos aos microvasos e são chamados de demência vascular. Ela tem manifestação crônica, comprometendo lentamente a saúde e sem dar sinais. É diferente da manifestação aguda, que indica quando algo está errado —caso do AVC, que apresenta comprometimentos na fala, visão, perda de força e sensibilidade em um lado do corpo.

"Você vê alterações cognitivas, alteração de memória, apatia até quadros depressivos dependendo da localização [dos danos cerebrais]", comenta Feres Chaddad, neuromicrocirurgião, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e especialista em danos neurológicos. Por causa do quadro de esquecimento, alguns pacientes podem receber o diagnóstico equivocado de Alzheimer, conta o especialista.

O que acontece

Cérebro - Matthew Horwood/Colaborador Getty Images - Matthew Horwood/Colaborador Getty Images
Imagem: Matthew Horwood/Colaborador Getty Images

Para o declínio cognitivo, a hipertensão altera por anos os pequenos vasos cerebrais até que eles parem de funcionar, interrompendo ou bloqueando o sangue. Um estudo publicado na Nature em junho de 2021 apontou que a hipertensão é responsável por alterações patológicas nos microvasos cerebrais que danificam funções relacionadas ao funcionamento cognitivo, sobretudo em pessoas mais velhas. A pesquisa ainda indicou que o quadro pode intensificar a progressão do Alzheimer.

"Pequenas lesões isquêmicas podem acontecer sem sintomas e, quando elas se acumulam, podem levar ao declínio cognitivo, danificar áreas do cérebro que, ao longo do tempo e de uma maneira lenta e progressiva, deixam de funcionar", explica a neurologista Gisele Sampaio Silva, do Hospital Albert Eisntein (SP) e professora da Unifesp.

Identificação é desafio

Mesmo que as demências cognitivas sejam conhecidas, a identificação pode ser difícil. Isso acontece porque os sinais são gradativos e demoram para aparecer, além de se confundirem com outras condições neurodegenerativas.

Em alguns quadros, o esquecimento também é associado como algo "natural" em idades mais avançadas. "Hoje, o tema está muito em voga, porque, com o envelhecimento da população e o acesso ao diagnóstico por imagem, essas patologias estão sendo cada vez mais diagnosticadas", lembra Chaddad.

O especialista explica que o diagnóstico é feito com exame clínico e de imagem, preferencialmente ressonância. "Cada vez mais eu vejo a necessidade de uma avaliação neuropsicológica para a parte cognitiva, como memórias recente e antiga, e ressonância magnética da cabeça, porque, na maioria das vezes, isso passa despercebido na tomografia", afirma Chaddad.

Segundo ele, esses danos são mais comuns em pessoas idosas, com diabetes, sedentárias, que fumam e se alimentam mal.

Hipertensão é silenciosa

Remédio para hipertensão - iStock - iStock
Imagem: iStock

Monitorar a saúde é essencial para, inclusive, detectar quadros de hipertensão e controlá-los. Segundo a neurologista do Einstein, o problema pode progredir silenciosamente até apresentar sintomas como tontura e dores de cabeça —ela alerta que isso acontece apenas quando há quadros mais severos e descontrolados da doença.

Ao ser diagnosticada, é importante a pessoa manter uma rotina de cuidados para afastar complicações. "Para atacar um problema, você precisa conhecê-lo. E como a hipertensão é muito silenciosa, o primeiro passo é o paciente saber que é hipertenso. Depois, tratar de maneira adequada, ter adesão medicamentosa, já que não adianta tomar anti-hipertensivo apenas quando a pressão está alta", explica.

Também é necessário adequar outros hábitos, como alimentação e exercícios, assim como cuidados de fatores de risco associados. As recomendações são as mesmas caso ocorram impactos cognitivos, com tratamento focado no controle de condutas e condições preexistentes.

"Um fator importante é a atividade física aliada ao hábito alimentar saudável. Os exercícios aumentam o fluxo sanguíneo e baixam as taxas de glicose ecolesterol. Você consome essas estruturas e isso tira a viscosidade do sangue", atenta Chahhad. Com maior fluxo sanguíneo, o risco de entupimento dos vasos é reduzido.

Impactos pós-AVC

A demência vascular também pode acontecer em pessoas que tiveram AVC. "Em quadros assim, a lesão cerebral deixa o local sem função e, dependendo da região, podem existir mudanças cognitivas", diz a neurologista Analuiza Luna Sarmento, coordenadora de neurologia do Hospital do Coração de Alagoas.

Um dos tratamentos aliados é a reabilitação cognitiva conduzida por psicólogos que realizam testes e exercícios para estimulação da memória, explica a especialista.

Fique longe da hipertensão

Essa reportagem faz parte da campanha de VivaBem Fique Longe da Hipertensão, que quer ressaltar como a doença pode ser perigosa e os bons hábitos que podem nos manter bem longe dela.

Os conteúdos abordam a importância de mudar o estilo de vida, como controlar a pressão alta para além do remédio e os principais fatores de risco para essa doença. Mas tem muito mais. Confira todo o conteúdo da campanha aqui.

Essa é a quinta campanha de uma série de VivaBem que tem trazido conteúdos temáticos para auxiliar no combate a problemas que muitas pessoas enfrentam no dia a dia e contribuir para que você tenha mais saúde e bem-estar.

Relembre as campanhas anteriores: