Pressão nas alturas

César aceitou o desafio de VivaBem (e do médico) para mudar hábitos e controlar a hipertensão sem remédio

Luiza Vidal De VivaBem, em São Paulo Guilherme Zamarioli

Equilíbrio. É isso que o publicitário César Bechara, 40, busca desde que descobriu ter hipertensão arterial, doença crônica e sem cura, chamada popularmente de "pressão alta".

O publicitário, que mora em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, já tentava levar uma vida mais saudável desde 2016, quando chegou a pesar 126 kg (ele tem 1,76 m). Passou a correr com frequência, fez acompanhamento com nutricionista e perdeu mais de 30 kg.

Mas a rotina cansativa de trabalho, a pandemia do coronavírus e lesões no joelho e no tornozelo atrapalharam a manutenção dos bons hábitos. Ele relaxou com a dieta, parou de fazer exercícios e voltou a engordar.

O diagnóstico de hipertensão veio em março de 2021 e foi o "empurrão" que precisava para retomar os cuidados com a saúde. César topou um desafio proposto pelo VivaBem e pelo cardiologista Edmo Atique Gabriel, nosso colunista: reajustar a rotina para controlar a pressão sem remédios.

A seguir, mostramos o que o publicitário fez para conseguir isso e como o tal do "equilíbrio" caiu bem na rotina de César.

Essa reportagem abre a campanha Fique Longe da Hipertensão, que faz parte de uma série de VivaBem em que traremos, ao longo de uma semana, conteúdos temáticos para contribuir para uma vida mais saudável.

Ele mede a pressão duas vezes ao dia: de manhã e à noite

'Minha pressão não era hiper, era ultra'

Diferentemente da maioria das pessoas, que não apresenta sintomas relacionados à hipertensão, o corpo de César deu sinais de que algo estava errado. O publicitário tinha, com frequência, fortes dores na nuca, além de um formigamento na parte de trás da cabeça e arritmia cardíaca (falta de ritmo dos batimentos do coração). "Parecia que minha cabeça ia explodir", lembra.

A confirmação do problema veio após a realização de um exame conhecido por Mapa (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial). A pessoa fica 24 horas com um aparelho conectado ao corpo, que mede a pressão de tempos em tempos, inclusive durante o sono.

"Descobrimos que minha pressão não era 'hiper', era 'ultra', principalmente nos picos de estresse. Em alguns momentos do dia, chegava a 21 por 13", conta. Fora dos períodos de grande tensão, a pressão do publicitário ficava em torno de 18 por 13 (180x130 mmHg), valor que também é bem alto —o índice considerado ideal é o popular 12 por 8 (ou 120x80 mmHg).

Dá para controlar hipertensão sem remédios, mas depende do paciente

Geralmente, pacientes de baixo risco, com valores de pressão igual a 14 por 9 e menor que 16 por 10, sem nenhuma complicação, podem tentar o tratamento só com mudança de estilo de vida durante um período de até três meses —e se não funcionar iniciam o uso de medicamento. "Mas a grande maioria dos hipertensos precisa de remédio, além da mudança de estilo de vida", diz Luiz Bortolotto, cardiologista, diretor do InCor e presidente da Sociedade Brasileira de Hipertensão

Há diversos remédios que auxiliam no controle da hipertensão, como diuréticos e betabloqueadores. Já o tratamento não medicamentoso envolve a adoção de hábitos saudáveis (que também são essenciais para quem controla a doença com o uso de remédios): dieta balanceada, reduzindo prioritariamente a quantidade de sal nos alimentos; prática regular de atividade física; emagrecer (se houver obesidade ou sobrepeso); e controle de gatilhos emocionais —que são, geralmente, momentos de estresse. Ou seja, cuidar da saúde mental também é essencial.

Claro que essa não é a realidade de boa parte da população brasileira devido aos fatores socioambientais. Muitos ainda não conseguem alterar seus hábitos alimentares, por exemplo, pela falta de dinheiro. Nesses casos, o remédio é fundamental para controle da hipertensão. Inclusive, alguns são oferecidos gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

No caso de César, mesmo com a pressão dele acima da recomendada para iniciar o tratamento sem medicamentos, o cardiologista Edmo Gabriel aceitou que o publicitário tentasse controlar a doença só com mudança de hábitos pois o paciente não apresentava nenhum acometimento grave em outros órgãos devido à hipertensão.

Além disso, César teve de prometer que seguiria todas as orientações. Os especialistas reforçam que a retirada de remédios só é indicada quando o paciente firma esse compromisso e faz acompanhamento adequado (constante e próximo) com o médico.

Como prevenir a hipertensão

  • Meça sua pressão pelo menos uma vez por ano

  • Caso tenha histórico na família, faça acompanhamento médico desde jovem

  • Pratique exercícios físicos com regularidade

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  • Evite alimentos gordurosos, ultraprocessados e ricos em sódio

  • Fique de olho no seu peso

    Leia mais
  • Cuide da sua saúde mental. Aprenda a gerenciar o estresse

  • Caso tenha outras doenças crônicas, como diabetes, trate corretamente

  • Evite o excesso de álcool e o tabagismo

César agora faz a própria comida; semanalmente, ele prepara as marmitas para todos os dias

Mudança de hábitos, sim, mas com equilíbrio

Em 2016, quando pesava 126 kg, César resolveu praticar atividades físicas e mudar os hábitos alimentares. Perdeu mais de 30 kg em 10 meses. Ele lembra que foi um período difícil, muito "radical", pois ficou obcecado em emegrecer.

"Fiquei viciado. Ia à praia para descansar e saía para correr antes de tomar café da manhã", conta. "Fiquei magro e louco."

Por isso, até como dica do cardiologista e nutrólogo, resolveu iniciar as mudanças aos poucos: diminuiu principalmente a quantidade de sal nas comidas, assim como o consumo de alimentos ultraprocessados ou mais gordurosos. Após mais de 8 meses, já sente as mudanças.

"Hoje, sou muito mais consciente. Sem 'enfiar o pé na jaca'. Nas festas de fim de ano, fui a um lugar com muita comida de boteco e consegui me controlar, evitando os alimentos embutidos ou fritos", diz.

Outro ponto positivo é que ele ama gastronomia, segue receitas de chefs e adora cozinhar. Por isso, começou a fazer suas próprias marmitas da semana. Quando viaja a trabalho —algo comum na rotina— faz um esforço. Nos restaurantes, geralmente self-service, opta pelas saladas, frango grelhado e verduras.

Depois do período de adaptação, o publicitário voltou aos exercícios físicos, mas sem loucuras. Faz caminhadas ao ar livre que duram de cerca de 40 minutos, ao menos seis vezes na semana.

O Brasil é um país com muito contraste e algumas pessoas não têm condições de trocar a linguiça, por exemplo, por peixe ou filé-mignon. Quando você percebe que o paciente não apresenta condições de mudar a alimentação, não adianta trabalhar apenas com esses outros fatores, porque é uma questão de sobrevivência. Neste caso, é preciso incluir imediatamente o remédio.

Edmo Atique Gabriel, cardiologista, nutrólogo e médico de César

Hipertensão não controlada aumenta o risco de:

Encontrei o equilíbrio entre o corpo e a mente, e a atividade física ajudou muito. Fazer caminhadas, por exemplo, funciona como um momento de meditação. Pelo que percebi, minha qualidade de vida, num geral, melhorou. Eu me sinto menos cansado, mais produtivo e consigo controlar melhor o estresse.

César Bechara, 40, publicitário

Busca por rotina com menos estresse

César sabia bem o que era: telefone tocando, mensagens a mil no WhatsApp, diversos emails e muitas demandas a resolver. Por isso, adotou algumas estratégias: "Tento deixar o celular de lado, quando dá, e vou fazer outra coisa, tipo pegar um café", diz.

Praticou meditação por um tempo, já fez terapia, mas hoje o que ajuda mesmo é sua caminhada diária, que é quando a mente consegue descansar. E não foi só isso.

Incluiu a higiene do sono, ou seja, evita principalmente as telas horas antes de dormir (quando dá, é claro). "Hoje, consigo ir para a cama mais cedo e não demoro tanto para adormecer. Acompanho a qualidade do sono por um app e notei que estou dormindo melhor."

Na pandemia, muitos pacientes deixaram de fazer o acompanhamento de forma regular, principalmente durante as ondas de covid. Ao controlar menos os níveis de pressão e os fatores de risco, houve um aumento dramático tanto no sistema privado de saúde como no público. São pacientes com insuficiência cardíaca e renal, AVC e infarto. Doenças graves que podem matar ou deixar sequelas graves.

Nivaldo Filgueiras, cardiologista e vice-presidente da Associação Bahiana de Medicina

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