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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Por que achamos que comprar pode aliviar tristeza, como Felipe Neto?

Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Bruna Alves

Do VivaBem, em São Paulo*

03/01/2022 13h26

O youtuber Felipe Neto, 33, contou no Twitter que foi ao shopping afogar as mágoas e fazer compras para tentar se sentir melhor. O jovem empresário, porém, disse que sua tentativa falhou. "Spoiler: não me senti melhor".

No último final de semana, Neto fez outro desabafo nas redes sociais. Ele falou da luta contra a depressão, revelou que está "no fundo do poço" e segue contando com a ajuda de familiares, amigos e medicamentos.

Mas o seu comportamento não é isolado, já que muitas pessoas usam as compras como forma de aliviar sentimentos como angústia, tristeza, tédio, raiva, frustração e dor de cotovelo. Tudo isso pode acionar a compra impulsiva como forma de compensação, para atenuar o que faz mal.

É uma estratégia potencialmente perigosa que pode se tornar uma dependência, já que em pouco tempo a sensação de prazer gerada pelo consumo acaba e a pessoa se torna refém do vício.

Dicas para combater: conscientize-se de que o deleite experimentado pela compra (física ou online) é momentâneo e busque atividades reconfortantes que tenham um efeito benéfico prolongado, como ver uma série, ler um livro, praticar exercícios ou telefonar para amigos.

Em casos extremos, a coisa pode piorar e virar uma dependência: a compra compulsiva funciona como uma pílula de prazer para quem está sofrendo. Mas o ato acarreta em prejuízos, e o prazer, na verdade, dura pouco.

"Ao longo do tempo, a proporção dos gastos se torna algo absurdo, influenciando não só a vida do consumidor, como também de sua família", diz Tatiana Filomensky, psicóloga e coordenadora do Grupo de Oniomania do IPq (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

A especialista conta que já tratou pessoas que gastaram herança de quase um milhão de reais em apenas três meses, indivíduos que tinham 19 cartões de crédito, gente que passou por um processo criminal ou que perdeu a guarda dos filhos.

"As pessoas podem perder tudo, mas quando se trata de um comportamento de consumo que todo mundo tem, é difícil. Poucos procuram ajuda e ninguém próximo a eles dá o apoio necessário, acham que é alguém desequilibrado", diz Filomensky.

Os motivos para o surgimento da oniomania ainda não são claros, mas existem hipóteses, sendo uma delas, justamente, a fragilidade emocional do indivíduo, que busca na compra um reforço do seu ser, de sentir parte e estar inserido em um contexto.

É comum a oniomania vir acompanhada de aspectos depressivos ou ansiosos. Como tratamento, alguns psicólogos recomendam que o paciente canalize a vontade de consumo em outra coisa, como praticar exercícios físicos. Mas Filomensky diz que essa tática funciona apenas provisoriamente. A ideia, na verdade, é entender a real função do consumo e aprender a ter outros tipos de prazeres, não só substituir os desejos de propósito.

Hermano Tavares, professor associado do Departamento de Psiquiatria da USP e coordenador do Pro-Amiti (Programa Ambulatorial Integrado dos Transtornos do Impulso), diz que o tratamento é o mesmo de quem tem dependências comportamentais no geral: medicações que diminuem as fissuras, tratar comorbidades como depressão, ansiedade ou outras dependências comportamentais, e psicoterapia.

Segundo ele, é como uma reeducação alimentar. O indivíduo reeduca os hábitos de consumo, pensando no que é essencial e quais as motivações que o levam a comprar aquilo que não é necessário ou que sua situação financeira não comporta.

Fazendo o tratamento adequado, em cerca de seis meses já é possível notar uma melhora, mas também pode levar um ano, dois anos ou até mais.

*Com informações de reportagens publicadas em 03/04/2020 e 16/10/2020.