Durante pandemia, desinformação contribuiu para a depressão pós-parto
Uma pesquisa do Hospital das Clínicas de São Paulo sobre o aumento de casos de depressão pós-parto durante a pandemia da covid-19 apontou que 38% das mulheres relataram depressão após o nascimento dos filhos. O número é quase o dobro do padrão anterior à pandemia. O estudo acompanhou 182 pacientes, incluindo pessoas que tiveram covid-19 e que não tiveram, no Hospital das Clínicas e no Hospital Universitário.
Marco Aurélio Galletta, do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, responsável pelo estudo, conta que esse tipo de depressão é especialmente agravado durante a pandemia, por estar normalmente vinculado ao isolamento social, brigas domésticas, ansiedade e outras situações que foram intensificadas pela quarentena.
O estudo mostrou que as pacientes que procuraram mais notícias apresentaram casos mais graves de depressão pós-parto, que está comumente vinculada à ansiedade. A média dessas pacientes foi de 4,5 horas de busca de informação. Galletta também destaca o impacto da forma como as pacientes consumiam a informação. O grupo de pacientes que consumiam notícias por fontes mais confiáveis, como jornais, revistas ou televisão, não apresentou aumento nos casos de depressão pós-parto. Já as que consumiram informações por outros meios, especialmente por WhatsApp, apresentaram aumentos significativos.
O estudo concluiu que a desinformação é um dos principais fatores por trás da depressão pós-parto. "Informação inadequada faz mal à saúde", destaca Galletta, que conta que há especialistas da saúde que estudam a infodemia, epidemia de desinformação que prejudica a saúde mental da população. A insegurança econômica e a insegurança causada pela pandemia também estão entre as principais causas dessa doença.
Galletta conta sobre a dificuldade do diagnóstico da depressão pós-parto, causada pelo preconceito que leva as pessoas a considerarem que, por ter tido um filho, a mulher deve estar feliz. Segundo o especialista, muitas vezes a própria mulher não percebe que está depressiva ou, mesmo percebendo, não comunica a seu médico se ele não perguntar diretamente. A falta de um tratamento adequado pode fazer a doença durar ainda mais tempo e prejudicar o desenvolvimento da criança. "Esse cuidado no primeiro ano de vida é essencial para essa criança ser um indivíduo saudável", conta Galletta.
O tratamento de depressão pós-parto costuma durar de seis meses a um ano, mas o tempo varia para cada caso. Em casos leves, não é necessário o uso de medicação, que é recomendada em casos moderados e graves.
O artigo pode ser lido na íntegra aqui.
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