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Tripofobia: conheça transtorno que provoca aversão a 'buraquinhos'

Não usamos na reportagem fotos de objetos que geram aversão em quem tem triptofobia, para não gerar gatilhos   - ljubaphoto/iStock
Não usamos na reportagem fotos de objetos que geram aversão em quem tem triptofobia, para não gerar gatilhos Imagem: ljubaphoto/iStock

Flávia Santucci

Colaboração para o VivaBem

04/11/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Ainda não reconhecida pelo DSM 5, tripofobia causa desconforto e repulsa a pequenos buracos agrupados
  • Transtorno pode estar relacionado a ansiedade e sintomas obsessivos compulsivos
  • Sinais de identificação vão de arrepios e coceiras à falta de ar e alteração dos batimentos cardíacos
  • Tratamento consiste em técnicas de relaxamento, respiração e, em alguns casos, uso de medicamentos

Algo em comum em colmeias, formigueiros, favos de mel, esponjas do mar, romãs partidas ao meio ou sementes da flor de lótus pode despertar sentimentos extremamente repugnantes em algumas pessoas.

Esses pequenos buracos agrupados, muitas vezes em forma de figuras geométricas e muito comuns na natureza, são responsáveis por uma fobia ainda muito pouco falada, mas cada vez mais levada em consideração: a tripofobia. Saiba mais sobre ela seguir:

Para não causar aversão em pessoas com tripofobia, não usamos fotos que geram repulsa em quem tem o transtorno. Caso você não sofra com o problema e queira visualizar as imagens para entender melhor a condição, veja nos links exemplos de imagens de um favo de mel, uma flor de lótus e uma tampa de bueiro com buraquinhos.

O que é tripofobia?

Definida basicamente como uma aversão fora do comum, repulsa ou nojo de buraquinhos agrupados de maneira simétrica ou não —exatamente como são colmeias e favos de mel—, a tripofobia (do grego trýpa, que significa buraco, e phobos, fobia) ainda não é classificada como uma fobia específica no DSM 5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais).

O transtorno começou a ser mais frequentemente citado de 15 anos para cá, na internet. Um dos primeiros estudos sobre o tema, realizado em 2013 pelos pesquisadores Geoff Cole e Arnold Wilkins, da Universidade de Essex, na Inglaterra, já apontava que 16% dos participantes sentiam certo desconforto ao se deparar com pequeninos buracos juntos. E cada vez mais, as redes sociais trazem mais relatos de pessoas com o mesmo problema.

No entanto, pesquisas sobre o assunto têm evoluído bastante nos últimos anos, demonstrando que mais pessoas do que se imagina convivem com esse tipo transtorno.

Que tipo de aversão é essa?

Geralmente, as fobias são transtornos associados a comportamentos, contextos sociais e o tempo que estão inseridos. A tripofobia, por exemplo, pode se tratar de um transtorno comportamental e estar relacionada a sintomas obsessivos compulsivos. Ela se difere das demais fobias por despertar muito mais a sensação de nojo do que de medo.

Uma das linhas de investigação aponta que essa aversão possa estar ligada à associação inconsciente de que imagens de buracos pequenos remetem a algo infeccioso (como as bolinhas de catapora, sarampo ou varíola), venenoso (como os anéis azuis do polvo da espécie Hapalochlaena maculosa) ou perigoso (como cobras, jacarés e até algumas espécies de aranha).

Principais sintomas de quem sofre de tripofobia

A pessoa que tem tripofobia pode apresentar desconforto aversivo que a faz evitar contato visual com coisas e objetos em formato de buracos agrupados. Entre os sintomas mais comuns, estão:

  • Arrepios
  • Tremores
  • Tonturas
  • Falta de ar
  • Náuseas
  • Coceiras
  • Formigamento

Em casos mais graves, os sintomas podem chegar a ansiedade, vômitos, ataques de pânico, alterações nos batimentos cardíacos e desmaios.

Como saber se você sofre de tripofobia?

O diagnóstico é feito por um profissional de saúde, geralmente um psicólogo ou um psiquiatra, por meio de análise clínica, levantamento do histórico, sintomas frequentes e testes de tripofobia (nos quais imagens de buracos agrupados são expostas ao paciente para avaliar suas intensidades de reação). Em alguns casos, patologias associadas, como ansiedade, também são analisadas.

A paralisação e a perda da racionalidade diante de pequenos buracos são os sinais mais importantes de que a pessoa precisa de ajuda.

Como é o tratamento?

O tratamento é individualizado e, assim como outras fobias, exige completo envolvimento do paciente para alcançar os resultados desejados. A exposição gradativa, que consiste na aproximação segura e progressiva do objeto temido, é uma das formas mais eficazes.

O método consiste em se criar um ambiente seguro para colocar o paciente em contato com o objeto que tem medo em diferentes níveis a partir do mais leve (por meio de imagens e vídeos) até os mais intensos (realidade virtual e exposição ao vivo).

Exercícios de respiração também podem ajudar a pessoa a tranquilizar corpo e mente em situações de estresse causadas pela tripofobia. Outro exercício bastante eficaz no tratamento é a técnica de relaxamento muscular progressivo, na qual o paciente aprende a contrair e relaxar grupos musculares, diminuindo a tensão e ajudando-o a enfrentar seus medos.

Em casos de aversão mais severa, onde a pessoa evita sair de casa, ver televisão, ler revistas ou jornais com medo de encontrar imagens de pequenos buracos agrupados, o uso de medicamentos pode ser necessário para controle dos sintomas mentais.

Fontes: Camila de Cássia Ribeiro, psicóloga da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo; Nataly Martinelli, psicóloga clínica especialista no tratamento de fobias e transtornos de ansiedade; Luciana Siqueira, psiquiatra do Programa de Ansiedade do IPq/USP (Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo).