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Menina de 2 anos viraliza falando palavras difíceis; habilidade é comum?

Alice conquista com seu jeito fofo de pronunciar as palavras - Reprodução/Instagram @morganasecco
Alice conquista com seu jeito fofo de pronunciar as palavras Imagem: Reprodução/Instagram @morganasecco

Luiza Vidal

Do VivaBem, em São Paulo

16/07/2021 10h19

Sucesso na internet, Alice, de apenas 2 anos, ficou famosa nas redes sociais após repetir diversas "palavras difíceis", como oftalmologista, proparoxítona, estapafúrdio e propositalmente. A dicção e a habilidade na hora de repeti-las deixaram os internautas apaixonados.

"Meu Deus do céu, posso ouvir esse vídeo em looping!", escreveu uma das seguidoras no Instagram da Alice —comandado pela mãe, Morgana Secco.

A criança também adora cantar e repetir histórias que os pais leem para ela. Por diversas vezes, a mãe comenta que Alice não tem contato com telas —celular, televisão ou computador— e que, muitas vezes, é ela quem pede para brincar com as "palavras difíceis". Os vídeos da menina viralizaram tanto que o perfil do Instagram já passou de 1,7 milhão de seguidores.

Com 2 anos, é esperado que as crianças já falem tão bem assim?

Segundo as especialistas consultadas por VivaBem, não. Na opinião delas, Alice é uma criança "fora da curva", ou seja, que apresenta a habilidade mais desenvolvida do que o esperado nesta idade.

"As crianças passam por um período de aprendizado da linguagem e, geralmente, é a partir dos 3 anos que ela apresenta uma fala mais adequada", explica Moema Lamori, coordenadora do serviço de fonoaudiologia do Hospital São Vicente de Paulo (RJ).

Antes disso, é comum que elas balbuciem as palavras, comecem a entender algumas sílabas e cometam alguns "erros" ao pronunciá-las.

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Família da Alice vive em Londres
Imagem: Reprodução/Instagram @morganasecco

Mas o aprendizado, assim como em outras áreas —como o ato de andar— pode variar de acordo com a criança, conforme esclarece Mariana Hipolyto, pedagoga e fonoaudióloga especialista em linguagem e dificuldade de aprendizagem.

"Não há como determinar uma data exata que sinalize a 'normalidade' da fala. Até porque a linguagem oral tem inúmeras particularidades. Algumas crianças têm um processo mais rápido, enquanto outras mais lento. Mas com 2 anos, a criança não apresenta vocabulário tão rico assim", conta.

E, claro, Alice convive em um ambiente com bastante estimulação. Ela faz aulas de música —que aguarda ansiosamente a semana toda—, adora ler gibis e livros, além da brincadeira de repetir palavras ou rimas.

Tudo isso é muito importante para o desenvolvimento da fala, e de outros aspectos cognitivos no geral, para os pequenos —principalmente nesta idade, na qual ocorre maior facilidade para aprender, de acordo com a pediatra Sandi Sato, da Maternidade Brasília (DF).

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Alice com a mãe Morgana
Imagem: Reprodução/Instagram @morganasecco

"Hoje em dia, a gente fala muito da saúde das crianças nos primeiros dias de vida até os 2 anos, quando ocorre maior estímulo cerebral positivo e, infelizmente, negativos também. Tudo que for positivo nessa idade vai levar a um melhor desenvolvimento da criança."

A médica cita ainda a importância do aleitamento materno, responsável por oferecer diversos benefícios às crianças. "Além de hábitos saudáveis como contar histórias, brincar, ouvir música e interagir com as pessoas, tudo isso ajuda no desenvolvimento cognitivo da criança."

Veja algumas dicas para estimular a fala dos pequenos:

  • Falar da maneira correta, mas não corrigindo, e sim usando a palavra certa. Mesmo sendo fofo de observar, a repetição "incorreta" atrapalha no entendimento delas. O legal é mostrar como é o jeito certo de pronunciá-la;
  • Ler livro ao lado delas, mostrando o que é cada imagem. Exemplo: "Olha essa árvore verde com maçãs vermelhas". Pergunte: "Qual a cor dessa casa?";
  • Conversar com a criança ao longo do dia. As que são muito solitárias tendem a ter um atraso na linguagem;
  • Estimular com brincadeiras ao ar livre;
  • Cantar, apresentar músicas que a(o) pequena(o) goste;
  • Evitar o uso de eletrônicos.

Evite o excesso de telas

Segundo a pediatra, antes, esse contato com os eletrônicos era visto como um auxílio para o desenvolvimento da parte cognitiva, mas hoje isso mudou.

"O contato com a tela tem esse efeito reverso e até promove um atraso do desenvolvimento cognitivo. Isso porque a tela não permite uma integração. O aprendizado da fala vem da convivência com a pessoa e com o ambiente", explica Sato.

O celular ou a televisão apenas transmitem a informação, mas não de uma forma que seja trabalhada com a criança. "É importante que o adulto faça essa ponte com a linguagem, ou seja, decifre-a para a criança: contando histórias, de forma lúdica, e nomeando os objetos", diz Lamori.

"O melhor a se fazer nessa fase, para que a criança vá adquirindo novas habilidades, como a linguagem, é que ela aprenda a socializar e fique o máximo possível afastada dos eletrônicos. Vá ao parquinho, à praia, conte histórias, leia livros", acrescenta a pedagoga e fonoaudióloga.

QI acima da média?

Segundo as especialistas, pode ser, sim, um sinal, mas ainda é muito cedo para afirmar algo. A facilidade e o interesse na fala de Alice podem ser apenas resultados de uma estimulação mais intensa da família, que é o que acontece mesmo.

"Existe toda uma metodologia que usamos para identificar se a criança apresenta altas habilidades (conhecido como superdotados). O fato de Alice falar diversas palavras além do esperado para a idade mostra que ela observa muito o ambiente e escuta muito bem as músicas, por exemplo. Essa é minha percepção", explica a pediatra da Maternidade Brasília.

"Isso mostra que ela tem uma alta aptidão, mas ainda é precoce para afirmar algo."