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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Sabia que a voz também envelhece? Para prevenir-se, cantar é uma boa opção

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Alexandre Raith

Colaboração para VivaBem

11/03/2021 04h00

Assim como outras partes do nosso corpo, que envelhecem à medida que os anos passam, a voz também sofre mudanças e perde volume e potência conforme a pessoa vai ficando mais velha. O envelhecimento da função vocal é chamado de presbifonia, que é específica da velhice.

A presbifonia causa alterações porque a laringe, onde é produzido o som por meio da vibração das pregas vocais e do ar que vem dos pulmões, é a principal estrutura afetada. Com isso, a voz perde flexibilidade, resistência e força, e fica mais fraca e rouca.

O fenômeno resulta do enrijecimento da musculatura laríngea. As cartilagens se tornam mais rígidas e os ligamentos, que promovem a articulação entre as diversas membranas e músculos da laringe, ficam endurecidos e desidratados.

Léslie Piccolotto Ferreira, professora do Departamento de Teoria e Métodos em Fonoaudiologia e Fisioterapia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e doutora em distúrbios da comunicação humana, explica que as modificações vocais e laríngeas decorrentes do processo de envelhecimento apresentam graus variados em cada indivíduo e dependem de condições genéticas, de saúde geral e de uso vocal ao longo da vida.

"Nos idosos, a laringe se posiciona em uma altura mais baixa no pescoço. As cartilagens tendem a se ossificar e as articulações sofrem desgaste das superfícies articulares e reduzem a amplitude de seus movimentos. Ainda há redução do muco que lubrifica a laringe e aumento de sua viscosidade", afirma a professora da PUC-SP.

"Essas características são mais frequentemente encontradas em homens, enquanto em mulheres há maior ocorrência de edema. As cordas vocais ficam com aspecto de inchadas. Essas modificações do organismo podem resultar em alterações de qualidade vocal e, consequentemente, na comunicação do idoso", complementa Ferreira.

Voz e corpo sadios

Parar de fumar - iStock - iStock
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Hábitos nada saudáveis intensificam ou estimulam o surgimento da presbifonia, sobretudo os que causam problemas na função respiratória. Por isso, o tabagismo é um dos principais fatores que pioram a qualidade vocal.

Doenças pulmonares obstrutivas, como bronquite e enfisema, causam perda de volume respiratório para inspiração e, portanto, prejudicam a emissão da voz, que sai com maior dificuldade e menos amplificada.

A ingestão de bebidas alcoólicas em excesso e o refluxo faringolaríngeo (regurgitação de ácido do estômago para laringe) também podem contribuir para o aparecimento mais precoce do envelhecimento da voz. Assim como doenças vasculares, musculares e neurológicas degenerativas, que diminuem a atividade neuromuscular da laringe e, consequentemente, provocam alterações vocais.

O controle do peso é outro importante fator para a saúde vocal. A obesidade dificulta a respiração —primordial para a produção do som com a passagem do ar pela laringe— e, portanto, compromete a qualidade da voz devido à sobrecarga laríngea.

"O fundamental é um bom exercício aeróbico, como caminhada, corrida e natação, para aumentar a capacidade respiratória pulmonar. O oxigênio estimula o funcionamento do sistema cardiorrespiratório e vascular. É a dica número um na prevenção da presbifonia", recomenda Roberto Campos Meirelles, professor da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e doutor em otorrinolaringologia.

"O envelhecimento das pregas vocais, que são músculos, é evidente em quem não faz atividade física."

Fica cansado só de falar?

Se você já passou dos 50 anos e costuma ter rouquidão, cansaço vocal e dificuldade para emitir sons, procure um otorrinolaringologista ou um fonoaudiólogo.

"O quadro clínico típico é a perda da potência e de volume da voz, soprosidade [presença de ar não sonorizado] e fadiga vocal. A pessoa, quando fala durante um período maior, como em uma palestra, por exemplo, começa a ter rouquidão, cansaço vocal e dor muscular no pescoço pelo excessivo esforço", afirma o professor da UERJ.

Meirelles ressalta que ainda existem sintomas secundários. "Pigarro ou sensação de corpo estranho prendendo na garganta também são consequentes à presbifonia."

Já os distúrbios hormonais podem repercutir na função laríngea e alterar a voz das mulheres na menopausa e dos homens na andropausa. Enquanto traumas emocionais são capazes de diminuir ou bloquear a função vocal. Porém, nenhum dos dois casos provoca presbifonia.

Entre os tratamentos está a fonoterapia, cuja finalidade é a de melhorar o processo de produção da voz. A técnica consiste, basicamente, em exercícios de reforço das estruturas e da musculatura laríngea, como os de emissão de tons agudos ou graves e de sustentação do tom vocal.

Em casos extremos, em que se nota a presença de atrofiamento das cordas vocais, são indicadas intervenções cirúrgicas na laringe, com a inclusão de substâncias como ácido hialurônico ou hidroxiapatita.

Solte a voz e cante, mas não grite

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Não tenha vergonha. Cante! O canto é uma das atividades mais recomendadas na prevenção do envelhecimento vocal. Mas sem gritar e sem exageros. Falar muito e berrando são hábitos prejudiciais para a voz.

"Cada voz é única, assim, as características vocais de cada indivíduo são diferentes. Uma boa dica para prevenir o envelhecimento vocal é a prática de canto, seja de forma individual ou em corais, especialmente quando há possibilidade de acompanhamento com um professor, que irá assegurar uma prática saudável", sugere Juliana Fernandes Godoy, professora do Departamento de Fonoaudiologia da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).

A presença do profissional de canto, como recomenda Godoy, é importante para garantir a correta realização de exercícios de aquecimento e desaquecimento vocal e evitar impactos negativos na voz.

Portanto, falar moderadamente, sem esforço e com uma boa emissão vocal, pode retardar a presbifonia. Evitá-la não é uma questão de vaidade para o idoso e, sim, de qualidade de vida. A manutenção de uma voz saudável garante os relacionamentos socioafetivos.

"A comunicação oral, seja ela utilizada presencial ou virtualmente, sempre será a melhor ferramenta de interação social entre os seres humanos", reflete a professora da UFRN.