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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Você retém muito líquido? Saiba por que e veja dicas para combater incômodo

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Heloísa Noronha

Colaboração para VivaBem

09/11/2020 04h00

Pés inchados, sensação de peso nas pernas, canelas tão volumosas que, ao apertá-las, a marca dos dedos fica visível e a região da pressão, esbranquiçada. De sapatos difíceis de calçar a dores, os incômodos da retenção de líquidos são bem chatinhos. Para neutralizá-los, primeiro é preciso entender por que surgem e identificar se são o sintoma de algo a mais em seu organismo.

Os nossos vasos sanguíneos não são impermeáveis: eles contam com poros que permitem a saída e a entrada de células, bactérias, proteínas e água. A retenção —edema, na linguagem médica— é o extravasamento de líquidos que saem dos vasos sanguíneos e vão para os tecidos subcutâneos, levando a um acúmulo entre as células. Nosso corpo é preparado para que haja uma manutenção dos líquidos nos vasos sanguíneos e, por motivos diversos, há uma mudança nesse processo que leva ao edema.

Todo esse processo se torna perceptível através do inchaço, principalmente nas pernas, que costuma ser notado no final do dia. Esse acúmulo de líquido acontece da seguinte maneira: ao ficarmos em pé ou sentados, devido à força da gravidade, pode ocorrer um certo extravasamento de água de dentro dos vasos sanguíneos das pernas para os tecidos ao redor.

Essa "perda" de líquido dos vasos transmite um sinal aos rins que, no intuito de repor o líquido "perdido", passa a reter sódio e água, aumentando a quantidade de água corporal.

Algumas situações podem causar edema. Uma delas são os dias muito quentes, quando a dilatação dos vasos sanguíneos favorece a saída de líquidos. Outra condição pode ser um quadro inflamatório local —a inflamação faz com que haja aumento da permeabilidade dos vasos sanguíneos, perdendo assim líquidos para o tecido subcutâneo. Certos medicamentos, reações alérgicas, sedentarismo, obesidade, dietas ricas em sal e carboidratos também favorecem o quadro.

Sintoma de doenças

Rins - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

É importante saber que algumas doenças costumam causar retenção hídrica —por isso todo e qualquer inchaço merece uma consulta médica. As principais são insuficiência cardíaca, problemas renais, síndrome nefrótica, hipotireodismo e cirrose hepática, quando há falência do fígado.

Os exames a serem feitos dependem não só do quadro de edema, mas também de outros sintomas que aparecem junto com o inchaço e que podem apontar uma hipótese diagnóstica. Exames de urina, hemograma, ecocardiograma e ultrassom do fígado ajudam no diagnóstico dessas patologias e devem ser solicitados apenas se houver necessidade.

O tratamento varia conforme o caso, mas, em geral, são recomendados a redução do consumo de sal e a ingestão de diuréticos prescritos pelo médico quando a causa for alimentar. Se o motivo for de origem medicamentosa, provavelmente será necessário trocar ou suspender a medicação. Para alternações hormonais, como a menopausa, ao tratar a causa o edema também é solucionado.

Dependendo da quantidade de líquido que fica retida no tecido subcutâneo e do local ou órgão onde isso ocorre, o edema pode se tornar um quadro generalizado e atingir coração, pulmões e rins. Outro risco é o de trombose.

Quando a retenção de líquido não é decorrente de alguma doença, ela não oferece risco algum à saúde. A quantidade de água retida pode chegar a 3 litros em alguns casos, o que provoca um certo desconforto, porém não há nenhuma consequência ao funcionamento normal do organismo.

Mulheres são mais suscetíveis ao problema

pernas de mulher - SrdjanPav/iStock - SrdjanPav/iStock
Imagem: SrdjanPav/iStock

As mulheres possuem vasos capilares sanguíneos mais permeáveis ao extravasamento de líquido, fator relacionado às questões hormonais particulares do sexo feminino —daí o fato de elas apresentarem com maior frequência o problema.

O ciclo menstrual das mulheres altera a quantidade de hormônios circulantes pelo seu organismo e, de acordo com a fase, a permeabilidade dos vasos sanguíneos aumenta e o extravasamento de líquido acaba ocorrendo. Isso é mais comum durante a TPM (tensão pré-menstrual) e nos dias de menstruação propriamente dita, em especial na faixa etária que vai dos 25 aos 30 anos.

Os hormônios da menopausa também causam inchaço e devem ser relatados ao ginecologista, que pode checar a necessidade de uma reposição hormonal para atenuar esse e outros sintomas.

Já na gravidez, conforme o bebê vai crescendo acaba comprimindo os vasos sanguíneos localizados na região pélvica, o que impossibilita a circulação correta do sangue nas pernas e que deve retornar ao coração. Essa resistência da circulação faz com que as paredes dos vasos sanguíneos extravasem, causando um inchaço no local.

Como evitar o problema?

Mulher com meias de compressão, trombose - iStock - iStock
Imagem: iStock

Quem trabalha sentado por muitas horas deve usar meias elásticas de compressão. Elas ajudam a bombear o sangue dos pés para cima, amenizando o inchaço. Movimentar-se a cada duas horas também é uma boa sugestão.

Repousar é preciso. À noite, é bom ficar deitado ou numa posição em que as pernas fiquem esticadas. Ao estarem niveladas ao coração, há melhor distribuição do líquido no organismo.

Cuidado com diuréticos. Em excesso e sem orientação médica, eles podem alterar o funcionamento normal do rim e causar uma nefropatia difícil de resolver e que pode se converter numa insuficiência renal. Diuréticos geralmente não são indicados para quadros leves de retenção hídrica e só devem ser utilizados através de prescrição médica, pois podem levar à perda de eletrólitos fundamentais como o potássio, que, em níveis muito baixos, provocam arritmias cardíacas graves.

Consumo de álcool deve ser moderado. O inchaço provocado pela bebida deve-se à vasodilatação dos vasos sanguíneos, que aumentam de calibre e faz com que uma quantidade maior de sangue extravase para os pés. O corpo, então, sente a dificuldade de drenar o sangue de volta para o coração, provocando o inchaço.

É primordial manter uma alimentação saudável. É bom evitar os embutidos, enlatados, queijos amarelos, molho tipo shoyu e fast-food. O excesso de carboidrato consumido que não é utilizado como "combustível" é estocado na forma de glicogênio. Cada grama de glicogênio armazenado carrega 3 gramas de água, o que pode se reverter em inchaço.

Já a ingestão de sal em grande quantidade aumenta a retenção de líquido, pois nosso corpo precisa manter a proporção de sódio e água constante. Vale a pena consumir frutas com alto poder diurético, como melancia, melão, abacaxi e pera. E probióticos como iogurtes melhoram a flora intestinal, que absorve melhor os nutrientes diminuindo o inchaço. Para quem é obeso, eliminar o excesso de peso faz com que o sistema venoso seja menos exigido.

Mexa-se! O exercício, além de promover a perda de líquido via sudorese, estimula a circulação sanguínea, diminuindo o represamento, principalmente nas pernas. É importante não esquecer de ingerir água após a atividade para evitar a desidratação.

Fontes: Josenildo Alves Pereira, endocrinologista da Santa Casa de Mauá, em São Paulo (SP); Maria Fernanda Barca, doutora em endocrinologia pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e membro da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), da ESE (European Society of Endocrinology) e da The Endocrine Society (EUA); Mario Kedhi Carra, endocrinologista e presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica ); Rafael Pergher, endocrinologista da Endoclínica São Paulo, na capital paulista; e Thiago Santos Hirose, pediatra, endocrinologista pediátrico, educador em diabetes pela ADJ Diabetes Brasil e pela SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes) e membro do Departamento de Endocrinologia da SPSP (Sociedade de Pediatria de São Paulo).