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Fantin: "Ouvia que tinha tudo, não havia motivo para estar com depressão"

Do VivaBem, em São Paulo

14/10/2020 18h18

A atriz Priscila Fantin revelou que sofreu com a falta de apoio pouco antes de seu diagnóstico de depressão, no segundo painel da Semana da Saúde Mental VivaBem, que aconteceu nesta quarta (14).

"Ouvi que eu tinha tudo, casa, família, trabalho, condições, amigos e que eu deveria estar com frescura por achar problema em tudo. Mas a gente começa a não ver mais prazer nas coisas, a não sentir. Eu cheguei a um estágio em que estava absolutamente estagnada e não sentia mais nada, não sentia emoções nem raiva nem tristeza nem angústia", lembrou ela.

Após essa percepção, a atriz buscou ajuda. Mas ela custou a achar que precisava, de fato, de um tratamento. "Era tudo pior porque era reconhecida na rua. Evitava pegar elevador ou sair de casa porque tinha medo de apontarem, de falarem de mim. Comecei a achar que estava com mania de perseguição, que era coisa da minha cabeça. Porque, aparentemente, não tinha motivo para estar com essa neurose".

Segundo Táki Cordás, coordenador da assistência clínica do IPq - HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e professor do departamento de psiquiatria da USP, nesse período os especialistas até orientam à família que ela não pode ajudar muito, mas pode atrapalhar bastante. "Eles costumam dizer para a pessoa sair dessa, que aquilo só depende dela, que ela tem que se esforçar. Mas você pedir para alguém com depressão sair e fazer as coisas é como pedir para alguém que está com a perna quebrada correr a São Silvestre. Há uma alteração biológica, não adianta falar para ela fazer alguma coisa".

O psiquiatra disse que há uma ideia social de que o cérebro não adoce como os outros órgãos. "Há uma dificuldade de entendimento de que tudo o que eu estou falando, sentindo é uma atividade cerebral". Portanto, esse adoecimento existe. "Nossa sociedade ainda tem uma ideia de que querer é poder. Se você não passa fome, tem dinheiro, não tem nenhuma razão para se comportar desse jeito, na visão deles".

Para o psicólogo clínico Rossandro Klinjey, o preconceito e o julgamento dos transtornos mentais estão, em parte, na falta de apontadores biológicos, ou seja, há uma dificuldade de se ter uma prova material, a não ser o próprio comportamento do paciente. "Não se pode pedir um exame de sangue e detectar uma neurose, psicose, fobia. É um comportamento. As pessoas tem muito mais pena de alguém que esta com o dedo machucado do que de alguém que esta com a alma, metaforicamente falando, sangrando."