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Saúde mental de jovens: é preciso mais acolhimento e menos estigma

Lia Rizzo

Colaboração para VivaBem

22/10/2021 04h00

O Brasil foi o país que manteve escolas fechadas por mais tempo durante a pandemia. E além de trazer mudanças significativas para a rotina de crianças, adolescentes e suas famílias, esse fato também chamou atenção para o necessário debate sobre saúde mental dos mais novos.

Tristeza, medo, angústia, crises de choro: mais da metade dos jovens brasileiros disse ter sentido um ou vários desses sintomas ao longo dos últimos 18 meses. Por isso a conversa que encerrou a 2ª Semana de Saúde Mental realizada por VivaBem na última semana teve como tema "Saúde mental dos jovens: como identificar e falar sobre o problema".

Elânia Francisca, psicóloga e colunista de VivaBem, mediadora do painel, lembrou em sua abertura como adultos costumam encontrar mais acolhimento que os mais jovens ao manifestar sintomas de ansiedade, depressão e outros que podem caracterizar um transtorno mental.

"As emoções das crianças e dos adolescentes são estigmatizadas, resumidas a birra ou culpa da adolescência", alertou. "Mas imagina acordar um dia e ver o corpo todo mudando, espinhas no rosto, vivendo a pressão por ser aceito pelos amigos ou se enquadrar num grupo social. Imagina ter que entender e, ao mesmo tempo, aprender a controlar todas essas emoções", questionou Elânia, que também é mestre em educação sexual.

Elânia Francisca, colunista de VivaBem - Mariana  - Mariana
Elânia Francisca, psicóloga e colunista de VivaBem, foi a mediadora do painel
Imagem: Mariana

Falar é difícil, mas ajuda

A atriz Duda Reis, 20, compartilhou sua experiência durante o período em que enfrentou uma pesada depressão. Contou a seu favor o fato de seus pais serem médicos e muito abertos a ajudá-la.

"Mas quando descobri estar deprimida, não foi fácil falar e aceitar que precisava de ajuda", conta ela, que sofreu ainda de anorexia, transtorno de imagem e crises de pânico. Influenciadora digital com mais de 9 milhões de seguidores, ela escondia o momento difícil dos seguidores.

Hoje entendo que quanto mais falamos a respeito, mais próximos ficamos da cura e mais ajudamos outras pessoas. Duda Reis

Elânia Francisca destacou que muitos pais classificam certos comportamentos como naturais e decorrentes de de fases da vida da criança ou jovem. De acordo com Thais Basile, educadora parental, psicanalista e escritora, de fato o desafio que os jovens encaram quando sentem necessidade de entender sua personalidade e individualidade para além da estrutura familiar, levam a uma internalização e a busca por mais contato com o grupo e menos com a família.

"Porém, o alerta para os pais deve soar quando há prejuízos grandes na interação, no sono, na alimentação ou um abuso de substâncias", explica

O equilíbrio no cuidar

Gustavo Estanislau, psiquiatra da infância e adolescência, faz uma ressalva em relação às dificuldades que os pais ou cuidadores possam sentir para se aproximar nas situações em que algo pareça estar errado. E a chave, ele acredita, é haver equilíbrio no cuidar.

"Os extremos do cuidado acabam sendo problemáticos. Seja quando há negligência ou pelo excesso. Isso gera prejuízos que, com o tempo, podem se converter em transtornos mentais para o jovem", diz o médico.

Gustavo alertou ainda para o fato de hoje vivermos em uma cultura que cobra perfeição e promove uma sensação de nunca nos sentirmos suficientes, padrões alimentados principalmente pelas redes sociais.

"E são as redes também que acabam distraindo o jovem, o impedindo de desenvolver habilidades em outros focos de autoestima. Como esportes, dança, esse tipo de atividade", refletiu. "De novo, é preciso que os pais ou cuidadores estejam atentos. E tentem encontrar estratégias para promover mais conversas olho no olho."

Saúde mental em foco

A 2ª Semana da Saúde Mental VivaBem tem como objetivo estimular que as pessoas falem abertamente sobre transtornos mentais, pois esse é o primeiro passo para tratar esses problemas e trilhar o caminho do equilíbrio. Ela começou no último dia 14 de outubro, com um evento ao vivo, que debateu em 5 painéis temas como o impacto da pandemia na saúde mental do brasileiro, luto, depressão, ansiedade, saúde mental dos jovens e como o preconceito aumenta o risco de transtornos.

O evento pode ser assistido na íntegra aqui. A 2ª Semana da Saúde Mental VivaBem tem o patrocínio de Libbs Farmacêutica.