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L-carnitina não acelera emagrecimento, mas pode ajudar na performance

A L-carnitina pode contribuir  para o rendimento nos exercícios de alta intensidade - iStock
A L-carnitina pode contribuir para o rendimento nos exercícios de alta intensidade Imagem: iStock

Diana Cortez

Colaboração para o VivaBem

15/07/2020 04h00

A L-carnitina, carnitina ou levocarnitina está na lista dos suplementos esportivos mais procurados por quem se preocupa com a estética, por conta do apelo de contribuir para a redução de gordura corporal.

Apesar de um dos papeis da L-carnitina no organismo ser participar da geração de energia pelas células a partir da gordura, não há comprovação científica de que o consumo do suplemento aumente a queima de gordura corporal. Porém, o produto pode ajudar em treinos intensos de outra forma. A seguir, respondemos as principais dúvidas sobre a substância.

O que é a L-carnitina?

Trata-se de uma substância produzida naturalmente no organismo pela metabolização de dois aminoácidos, a lisina e metionina, presentes nas proteínas animais (carnes, ovos, leite e derivados) e vegetais. Esse processo acontece principalmente nos rins e no fígado, mas também no cérebro, e cerca de 95% da l-carnitina fica armazenada nos músculos.

No organismo, a L-carnitina participa da geração de energia pelas células a partir da gordura. Justamente daí surgiu a ideia de que ingerir a substância isolada como suplemento poderia acelerar ou otimizar o processo de emagrecimento ou de perda de gordura corporal.

A L-carnitina emagrece?

Não. Apesar de o suplemento de L-carnitina ser vendido com esse apelo, estudos realizados com pessoas saudáveis que consumiram a substância e tiveram a alimentação controlada não apresentaram resultados em relação ao emagrecimento.

Um deles, conduzido aqui no Brasil e publicado nos Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, avaliou por 30 dias os efeitos do consumo da substância e não constatou nenhuma mudança na composição corporal ou na redução de peso dos participantes.

Uma das explicações para isso seria a de que um organismo saudável já possui estoques suficientes de L-carnitina nos músculos e, diante de doses extras, o corpo faz uma autorregulação, reduzindo a produção de L-carnitina e priorizando a síntese de outras substâncias.

Outra razão seria a de que as mitocôndrias —organelas que usam a L-carnitina para fazer a oxidação de gordura — possuem um limite na capacidade de receber a gordura e transformá-la em energia.LINK:

O suplemento pode ser considerado um termogênico?

Na prática, a L-carnitina não apresenta efeito termogênico. Essa também foi uma das conclusões do estudo brasileiro, que não demonstrou qualquer influência significativa no aumento da taxa metabólica de repouso, ou seja, na quantidade de calorias gastas pelo organismo para manter suas funções vitais, como respirar, manter a temperatura corpórea etc., como fazem os suplementos termogênicos.

A L-carnitina ajuda no desempenho físico?

Uma análise realizada na University of Nottingham Medical School, no Reino Unido, e publicada no Journal of Physiology, demonstrou que a alta concentração de L-carnitina circulatória e nos tecidos ajuda a melhorar a eficiência do metabolismo de carboidrato, diminuindo a concentração de lactato —substância associada à fadiga no exercício —, contribuindo para um melhor rendimento de atletas que realizam atividades físicas de alta intensidade.

É importante ressaltar que cada indivíduo tem uma reposta diferente, portanto alguns deles podem ter esse benefício somente quando a substância é usada por um tempo mais prolongado.

A L-carnitina ajuda na hipertrofia e no ganho de força?

Não há evidência científica concreta de que a L-carnitina contribua para o ganho de força e de músculos em humanos ou mesmo para evitar a sarcopenia —perda de massa muscular que acontece com o envelhecimento. Os estudos que mostram esses efeitos foram realizados em modelos animais, portanto, são necessárias mais pesquisas para confirmar esses resultados nas pessoas, conforme aponta a conclusão da análise publicada na Revista Nutrients.

O consumo adequado de proteína —entre 1,2 g a 1,8 g de proteína por quilo de peso corporal por dia — e a prática de exercício de resistência, como a musculação, continuam sendo as melhores maneiras de desenvolver massa muscular e força.

O suplemento de L-carnitina tem outras indicações de uso?

Segundo uma revisão de artigos também publicada pela Revista de Nutrição, a substância pode ser prescrita para alguns pacientes portadores de doenças renais e hepáticas que possuem a produção reduzida de L-carnitina no organismo, por conta do mal funcionamento desses órgãos. Nesses casos, o suplemento ajudaria a melhorar as condições clínicas desses pacientes, oferecendo melhor qualidade e maior expectativa de vida, além do aumento da tolerância ao exercício físico.

Mas a suplementação de L-carnitina também pode se indicada em situações específicas como parte do tratamento de alguns pacientes no momento de intervenções cirúrgicas no coração, por exemplo. Também há estudos que indicam seu possível uso em pacientes HIV positivos e com diabetes. Mas o médico deverá avaliar cada caso juntamente com um nutricionista para indicar como a substância deve ser consumida.

Como é vendida?

O suplemento de L-carnitina é vendido em cápsulas ou na forma líquida, que normalmente é acrescida de sabor.

Pode conter cafeína e óleo de cártamo?

Os suplementos de L-carnitina podem trazer outras substâncias misturadas na composição, como a cafeína e o óleo de cártamo com a proposta de "otimizar" seus efeitos. Mas, ainda assim, os resultados são pouco significativos para o emagrecimento.

Alguns produtos ainda podem conter substâncias ilegais que estimulam o metabolismo, mesmo sem ter qualquer menção no rótulo e, assim, causar reações indesejadas, como taquicardia e aumento da pressão, colocando a saúde em risco. Por isso é importante consumir suplementos somente de origem confiável, sob orientação de um nutricionista ou médico qualificados no assunto.

Como tomar a L-carnitina?

A maioria dos suplementos de L-carnitina indica a ingestão diária de 2 a 6 g da substância por dia em qualquer horário, inclusive, junto às refeições que incluam carboidrato. Isso porque a substância depende da insulina para ser melhor absorvida pelos músculos.

A L-carnitina pode causar efeitos colaterais?

Na literatura científica não há relatos de que a L-carnitina pura provoque efeitos colaterais, como desconfortos gástricos, enjoos ou vômitos. Por outro lado, o suplemento consumido por períodos prolongados pode causar quadros de diarreia em algumas pessoas por alterar o perfil das bactérias que vivem no intestino.

O consumo de L-carnitina por tempo prolongado pode trazer algum prejuízo?

Apesar de não haver um consenso, o consumo excessivo ou por tempo prolongado de L-carnitina poderia atrapalhar (ou anular) o efeito inflamatório do treino que leva ao ganho de massa muscular. Por isso, é importante ter orientação de um nutricionista especializado no assunto para indicar como e por quanto tempo consumir suplementos para obter melhores resultados.

L-carnitina tira a fome?

Esse suplemento não possui o efeito nos mecanismos de fome e saciedade. Caso isso aconteça, há grandes chances de haver outras substâncias com essa ação misturadas na fórmula. Fique de olho!

Pode afetar o sono ou dar sono?

A L-carnitina também não interfere no sono. Portanto, se a pessoa ficar em estado de alerta após consumi-la, pode ser um indicativo de que o produto tem cafeína ou alguma outra substância estimulante na fórmula.

A L-carnitina pode ser consumida com creatina?

Não há nenhuma contraindicação em ingerir esses dois suplementos juntos. Mas, lembre-se que a creatina possui comprovações científicas de resultados para o ganho de massa muscular, enquanto, a suplementação com L-carnitina em pessoas saudáveis não apresenta efeitos no emagrecimento e precisa de mais pesquisas para confirmar algum efeito na hipertrofia. Portanto, pode ser um investimento desnecessário.

L-carnitina pode ser consumida em jejum?

Não há contraindicação em consumi-la com o estômago vazio, no entanto, algumas pessoas podem sentir um desconforto pelo aumento da secreção gástrica estimulada pela ingestão do suplemento. É o caso de pessoas que têm quadros de gastrite, por exemplo.

O suplemento faz urinar mais?

Não existe qualquer relação entre o consumo do suplemento de L-carnitina e o aumento da diurese, mas outras substâncias que possam estar escondidas na fórmula podem causar esse efeito.

A L-carnitina faz mal ao coração, rins e estômago?

Os estudos realizados até o momento não demonstram existir nenhum risco em consumir a L-carnitina, uma vez que o excesso da substância é excretado pelo organismo. Inclusive, ela é indicada para alguns pacientes com problemas renais, hepáticos e cardíacos.

O suplemento faz cair o cabelo?

Como a L-carnitina não age com os hormônios, não apresenta qualquer efeito em relação à queda de cabelo. Caso isso aconteça, pode se tratar de um produto que possua outras substâncias misturadas na composição.

Pode dar alergia?

Em geral, a substância não tem potencial de causar alergia. Mas alguns suplementos trazem corantes e aromatizantes que podem desencadear reações alérgicas em pessoas que tenham predisposição.

Hipertensos podem consumi-la?

Não existe contraindicação do consumo de L-carnitina por pacientes com pressão alta, inclusive, pode haver indicação do suplemento para pessoas que passaram por uma cirurgia cardiovascular. No entanto, é importante lembrar que ele só deve ser consumido se tiver indicação de um médico ou nutricionista especializado no assunto.

A L-carnitina pode ser consumida por pessoas com diabetes?

A substância parece contribuir para o tratamento daqueles que apresentam neuropatia diabética —danos nos nervos que surgem em cerca de 60% desses pacientes — e diminuir o estresse oxidativo causado pela doença por conta do seu efeito antioxidante. Mas é importante que o paciente consuma o suplemento como parte de seu tratamento, somente com indicação de seu médico ou nutricionista.

Grávidas e mulheres que amamentam podem consumir a L-carnitina?

Apesar de não existir uma contraindicação do consumo desse suplemento por gestantes e lactantes, o ideal é que elas não consumam nenhum produto que não seja específico para esses períodos, já que as substâncias passam para o bebê. Fora que as chances de alergias existem por conta de corantes e outros aditivos que possam estar presentes nessas composições.
Essas mulheres só devem consumir suplementos que tenham indicação de um médico ou nutricionista que as acompanham.

Fontes: Antonio Herbert Lancha Junior, coordenador do Laboratório de Nutrição e Metabolismo da Escola de Educação Física e Esporte da USP (Universidade de São Paulo); João Felipe Mota, professor doutor da UFG (Universidade Federal de Goiás) e coordenador do laboratório de investigação em nutrição clínica e esportiva (LABINCE); Matheus Meneguzzi Brambilla, nutricionista pela USP, com especialização em nutrição esportiva pela Unesp (Universidade Estadual Paulista).