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Médicos italianos dizem que coronavírus está menos letal. Será?

Médicos italianos afirmaram que o novo coronavírus está perdendo força; declaração é refutada por especialistas - iStock
Médicos italianos afirmaram que o novo coronavírus está perdendo força; declaração é refutada por especialistas Imagem: iStock

Danielle Sanches

Do VivaBem, em São Paulo

02/06/2020 14h44

Enquanto países como Estados Unidos e Brasil ainda lutam para controlar o número de casos do novo coronavírus (SARS-CoV-2), a Itália já vê o número de pacientes e mortes em declínio após enfrentar um dos piores cenários da pandemia. O país já acumula mais de 233 mil casos diagnosticados e 33.4 mil mortes, de acordo com levantamento feito pela Johns Hopkins University.

Esse cenário promissor levou dois respeitados médicos italianos a declararem, de forma polêmica e sem nenhuma prova ou evidência científica, que o vírus estaria perdendo potência e se tornando menos letal em terras italianas.

"Na realidade, o vírus clinicamente não existe mais na Itália", afirmou Alberto Zangrillo, chefe do Hospital San Raffaele em Milão, na região norte da Lombardia, uma das regiões mais afetadas pelo vírus na Itália.

"Os testes com swabs nasais realizados nos últimos 10 dias mostraram uma carga viral em termos quantitativos absolutamente infinitesimais em comparação com as realizadas há um ou dois meses", disse ele à rede de televisão RAI, de acordo com a Reuters.

Matteo Bassetti, chefe da clínica de doenças infecciosas do hospital San Martino, na cidade de Gênova, também disse à agência ANSA que acredita no enfraquecimento do vírus. "A força que o vírus tinha há dois meses não é a mesma força que tem hoje", disse. "Está claro que hoje a doença de COVID-19 é diferente."

Zangrillo foi ainda mais longe e disse que alguns especialistas foram muito "alarmistas" ao falar de uma segunda possível onda de contaminação, "aterrorizando o país" de forma desnecessária. "Precisamos voltar ao normal", declarou.

Falta de evidências vai contra afirmações

Embora seja exatamente o que gostaríamos de ouvir neste momento, as duas declarações têm zero embasamento científico — e, portanto, não mudam em nada a situação atual da pandemia.

O próprio governo italiano pediu "cautela" neste momento e colocou em xeque as declarações afirmando que elas não possuem nenhuma evidência científica. "Eu convidaria todos os que acreditam nisso [no vírus ter desaparecido] a por favor não confundirem os italianos", disse Sandra Zampa, subsecretária do Ministério da Saúde italiano.

João Prats, infectologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, concorda que a falta de estudos que comprovem qualquer alteração na forma como o vírus age no corpo ou na evolução do quadro dos pacientes impede que as declarações dos médicos sejam confirmadas.

Para ele, há outras hipóteses que explicariam, por exemplo, a carga viral menor detectada atualmente em pacientes. "Podemos estar fazendo a testagem mais cedo, quando o número de vírus ainda não é tão grande", afirma. "Mas isso é uma suposição. Qualquer hipótese precisa ser analisada com estudos antes de virar afirmação", diz.

Ele lembra ainda que a queda no número de casos se deu, em parte, pela curva natural de contágio em toda pandemia. "Em qualquer epidemia, é normal que exista uma queda de casos após a contaminação de um grande número de indivíduos em determinada região", afirma.

Pós-doutoranda no Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein e trabalhando com a equipe dedicada às pesquisas do novo coronavírus no Hospital San Raffaele em Milão, a bióloga Rafaela Rosa-Ribeiro também acredita que não há dados que justifiquem a afirmação de que o vírus tenha perdido letalidade ao longo dos meses.

Para ela, há outros elementos que explicam a redução no número de mortes pela covid-19. "Após todo esse tempo, os médicos já conhecem os sintomas e estão mais bem preparados", acredita. "Já há protocolos estabelecidos, diferente de quando fomos atingidos inicialmente sem entender praticamente nada sobre a evolução da doença", diz.

Ela, que atua diretamente nas análises do vírus, afirma que, até agora, não houve uma taxa de mutação significativa para explicar um suposto "sumiço". "Não detectamos nada para que possamos dizer que o vírus enfraqueceu", afirma.