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Internações por problemas cardíacos crescem 30% em São Paulo no inverno

Casos de infarto e insuficiência cardíaca aumentam nos meses mais frios - iStock
Casos de infarto e insuficiência cardíaca aumentam nos meses mais frios Imagem: iStock

Cristiane Bomfim

Agência Einstein

05/05/2020 11h11

Entre junho e agosto, meses marcados por temperaturas mais frias, as internações nos hospitais públicos da cidade de São Paulo por insuficiência cardíaca e infarto chegam a ser 30% maiores do que no verão. É o que mostra estudo inédito realizado por médicos da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.

A pesquisa, liderada pelo cardiologista Eduardo Pesaro, do Einstein, considerou todas as internações por insuficiência cardíaca (76.474 casos) e infarto agudo do miocárdio (54.561 casos) registradas em 61 hospitais públicos da capital paulista entre janeiro de 2008 e abril de 2015. Os dados fazem parte do Cadastro Nacional de Saúde, do Sistema Único de Saúde (SUS). Foram consideradas também as temperaturas mínima, máxima e média em cada período ao longo desses sete anos, registrados pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).

Outros dados da pesquisa mostram ainda que o número médio de internações por insuficiência cardíaca no inverno foi maior em pacientes com mais de 40 anos. Já as hospitalizações por infarto foram registradas em maior número em pacientes com idade superior a 50 anos.

As causas

De acordo com o cardiologista do Einstein, as causas do aumento do risco cardiovascular no inverno não estão diretamente ligadas à queda do ponteiro do termômetro, mas às condições ambientais e socioeconômicas de São Paulo. "Inverno não significa só frio, mesmo porque em São Paulo ele é ameno, com temperatura média de 18 graus e variação de apenas 5 graus. Ele também significa poluição aumentada, crescimento de epidemias provocadas pelo vírus da gripe, o Influenza, além do tempo seco", diz Pesaro. "Esses são fatores que elevam o risco de problemas do coração."

Com uma população de quase 12 milhões de habitantes e uma frota de 8,64 milhões de veículos (incluindo caminhões e ônibus), São Paulo fica mais poluída no inverno. A baixa umidade, chuva reduzida e as frequentes inversões térmicas (quando o ar frio é bloqueado por uma camada de ar quente e fica preso perto da superfície) são condições que impedem a dispersão de poluentes como monóxido de carbono (CO), dióxido de nitrogênio (NO2), dióxido de enxofre (SO2) e material particulável inalável (PM10). "Temperatura baixa, pouca umidade e alta poluição contribuem para uma maior incidência de doenças respiratórias e gripe, com o consequente aumento do risco cardiovascular", explica Pesaro.

Uma das hipóteses levantada no estudo é de que o aumento do risco de infarto e de insuficiência cardíaca no inverno está relacionado às condições socioeconômicas da população. De acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, na região metropolitana de São Paulo, 596.479 casas, ou 18,9% do total no Brasil, são consideradas subnormais. Trata-se de assentamentos irregulares, favelas, invasões, palafitas, comunidades com deficiência na oferta de serviços públicos básicos, como rede de esgoto e tratamento de água, coleta de lixo e energia elétrica. A capital paulista representa dois terços desse total ou 397.652 lares.

"Em São Paulo, uma população mais desamparada, com casas improvisadas ou sem aquecimento, mais exposta à poluição e ao frio pode apresentar mais risco de ter doenças cardíacas no inverno que uma pessoa que mora em um país de clima temperado, mas está mais protegida por ter calefação na residência e roupas melhores", diz Pesaro.

O que acontece com o coração

O frio faz os vasos se contraírem e eleva a liberação de adrenalina, o que sobe a pressão arterial. Além disso, o aumento da poluição contribui para doenças respiratórias que sobrecarregam o coração. Já o Influenza (vírus da gripe) é capaz de causar inchaço ou inflamação das coronárias, com a possibilidade de liberar as placas de colesterol nelas depositadas. As placas, por sua vez, podem causar bloqueios e interromper o fluxo sanguíneo.

"Investir em políticas públicas que melhorem a qualidade de vida das pessoas, como a vacinação contra a gripe, é um trabalho que pode reduzir o número de internações por problemas cardíacos durante o inverno", encerra Pesaro.