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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Conheça (e entenda) as 10 doenças que mais matam mulheres no Brasil

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Carlos Madeiro

Colaboração para o VivaBem

06/03/2020 04h00

Em 2018, 581.913 mulheres morreram no Brasil, segundo dados preliminares do Ministério da Saúde. Mesmo tendo uma população um pouco maior que a dos homens, elas morrem em média 20% menos que eles por ano —em 2018 foram 732.935 óbitos masculinos.

Alguns fatores explicam isso: homens morrem bem mais por causas externas (como acidentes, assassinatos e suicídios) e vão menos ao médico para fazer um check-up, por exemplo.

Por conta disso, no Brasil, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a expectativa de vida para mulheres é de 79,4 anos contra 72,5 anos para os homens.

Entre as mulheres, as doenças respondem por mais de 90% dos óbitos. O VivaBem listou, de acordo com os grupos de causas listados no sistema de mortalidade do DataSUS, o que mais mata mulheres no país.

Assim como nos homens, as doenças cardiovasculares são as que mais matam as mulheres, que sofrem também com altas taxas de mortalidade por problemas como câncer, diabetes, hipertensão e gripe.

Na lista das 10 mais, apenas duas são exclusivas —ou quase isso— os cânceres de mama e do aparelho reprodutivo aparecem nas 9ª e 10ª posições de mortalidade, respectivamente.

Conheça agora um pouco os problemas que mais atingem as mulheres:

Coração, não faz assim...

Segundo Gláucia Oliveira, professora de cardiologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) editora-associada da ABC (Arquivos Brasileiros de Cardiologia) Cardiol da Sociedade Brasileira de Cardiologia, as doenças cardiovasculares seguem, não só no Brasil como no mundo, como as maiores causadoras de mortes entre homens e mulheres.

Ela conta que, de acordo com dados do DataSUS, 36% das mortes no país foram decorrentes das doenças cardiovasculares em 2016. "Há uma mortalidade proporcional semelhante nos homens e nas mulheres após a menopausa", diz.

A professora alerta para o problema das mortes de mulheres por doenças isquêmicas, e cita que problemas como o infarto do miocárdio, mesmo nas mais jovens, vem crescendo.

"Devemos implementar medidas de prevenção primária e conscientizar a população sobre os sinais e sintomas dessas doenças nas mulheres, que nem sempre se apresentam da forma clássica divulgada, especialmente nas mulheres mais velhas que são portadoras de diversas doenças como diabetes, hipertensão e obesidade, que mascaram os sintomas do infarto", afirma.

Para Oliveira, é preciso alertar para a necessidade de reconhecimento e prevalência dos fatores de risco clássicos como hipertensão, dislipidemia (que é o colesterol desregulado), diabetes, tabagismo, obesidade e sedentarismo.

"Isso vem crescendo nas mulheres mais jovens e tem resposta menos eficiente às diversas drogas. A maioria dos ensaios clínicos realizados para o tratamento das doenças cardiovasculares foram realizados com pouca representatividade de mulheres", explica.

A médica destaca que fatores de risco não clássicos são mais prevalentes nas mulheres do que nos homens. Entre eles, Oliveira cita o infarto associado com doença arterial não obstrutiva e cardiomiopatia induzida por estresse, entre outras. "E existem também fatores de risco específicos do sexo feminino, como doença hipertensiva da gravidez, eclâmpsia, pré-eclâmpsia, alterações causadas pela menopausa, entre outras", pontua.

Ainda segundo a professora, pesquisas provaram que o gênero tem um grande impacto na fisiopatologia e na manifestação clínica das doenças cardiovasculares. Entretanto, por anos a ciência desprezou isso.

Sobre a questão da hipertensão, ela ainda destaca que o uso de contraceptivo oral está associado a aumentos na pressão arterial e risco de eventos cardiovasculares. "O risco de desenvolver hipertensão induzida por contraceptivo oral aumenta com a idade, uso de tabaco, duração de uso e obesidade", explica. "Mas geralmente [os problemas são] reversíveis com descontinuação do medicamento".

A Sociedade Brasileira de Diabetes alerta que a doença é a 9ª causa de morte entre mulheres no mundo, causando 2,1 milhões de óbitos por ano. "As mulheres com diabetes tipo 2 são quase 10 vezes mais propensas a ter doença cardíaca coronária do que as mulheres sem a condição. As mulheres com diabetes tipo 1 têm um risco aumentado de aborto precoce ou ter um bebê com malformações", explica.

Cânceres que mais matam

Na lista das 10 mais letais, três tipos de cânceres aparecerem como os mais mortais entre as mulheres. O mais mortal entre elas é o câncer no aparelho digestivo, que inclui neoplasias em esôfago e estômago e intestino, por exemplo. Nesse caso, a mortalidade é alta para ambos os sexos, apesar das mulheres levarem vantagens em pelo menos dois dos casos.

Segundo a Sociedade Brasileira da Cancerologia, no caso de esôfago, a taxa de mortalidade é 7,01 para cada 100 mil homens, mas de 1,9 entre mulheres. No caso de estômago, a taxa de mortalidade estimada é o dobro entre homens: 10,19 e 5,06 por 100 mil habitantes, respectivamente, para homens e mulheres.

Apenas no câncer colorretal, há uma igualdade de casos entre os sexos.

"Fatores hormonais explicam a menor incidência na mulher, sendo que o fato de ter muitos filhos ainda em idade precoce também é um fator protetor. A dieta e os fatores ambientais estão fortemente relacionados com o câncer gástrico", diz artigo da entidade. Já no caso dos cânceres tradicionalmente femininos, o Brasil ainda enfrenta uma série de problemas para reduzir a mortalidade".

Neila Maria de Góis Speck, professora do departamento de ginecologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e presidente da Comissão Especializada do Trato Genital Inferior da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), aponta que o Brasil falha em prevenção.

Segundo ela, existe uma preocupação grande com o câncer de colo de útero, um dos raros casos em que se pode fazer a prevenção e evitar o surgimento da doença.

A professora explica que a atuação preventiva se divide em três etapas. "A primeira é evitar a infecção pelo HPV, que causa lesões pré-malignas. O que falta é a aderência à vacina, acabar com as fake news. A secundária seria um diagnóstico em uma fase bem inicial, com o papanicolau (exame que colhe células do colo do útero). Muitas vezes as mulheres não procuram a unidade de saúde, e outras sofrem com a falta de assistência. Nesse caso, um dos problemas é que ele pode falhar, pode ter uma qualidade ruim e não acertar o diagnóstico. E o terceiro item é o tratamento da sua doença em fase precoce —aí se trata da falta de assistência de saúde", explica.

Para Renato Zocchio Torresano, mastologista e também membro da Febrasgo, o câncer de mama ainda tem uma mortalidade alta, que chega a 25% dos casos. Ele explica que a expectativa de cura é ligada ao estágio em que a doença é descoberta. "No Brasil, em torno de 40% a 50% dos casos são são avançados, e aí as taxas de curas são muito menores", conta.

Para ele, existem desigualdades regionais do exame de mamografia que também preocupam. "O número de mamógrafos é adequado no país, mas eles estão concentrados nos grandes centros, e principalmente nas regiões Sul e Sudeste. No Norte e Nordeste estão muito nas capitais. Além disso, temos um problema de qualidade de mamografia, que vão desde software a técnicos qualificados, qualidade de equipamentos e na emissão de laudo", explica.

O mastologista diz que o Brasil deveria adotar um rastreamento organizado, como é feito em muitos países. "O objetivo é, mesmo que elas não sintam nada, mas estão numa faixa de maior risco, buscar para fazer o exame. Não temos aqui essa busca ativa: faz quem tem condição financeira, ou tem um plano, ou mora onde o sistema público tem", diz.

Segundo ele, um detalhe que chama a atenção no Brasil é que a doença atinge mulheres mais jovens que em locais como EUA e Europa. "A Febrasgo orienta que após os 40 anos a mamografia deve ser feita anualmente", esclarece.

Respiração afetada

Outro problema que está no top 10 de mortes entre mulheres são as doenças respiratórias, normalmente causadas por agentes infecciosos. O grupo gripe e pneumonia e as doenças crônicas das vias aéreas inferiores aparecem nas terceira e oitava colocações, respectivamente.

Ricardo Martins, professor de pneumologia da UnB (Universidade de Brasília), afirma que não há distinção entre homens e mulheres no caso de mortalidade por doenças respiratórias. "Elas são uma grande causa de morte, principalmente nas faixas extremas, abaixo de dois anos e acima de 60, mas é indistinto entre homem e mulher", explica.

Segundo os dados do DataSUS, a gripe e a pneumonia mataram um pouco mais de mulheres que de homens (41 mil x 39 mil) em 2018. "Nesse aspecto, credito ao fato de, como as mulheres morrem mais tardiamente, há um número absoluto maior em face de termos mais mulheres que homens com 70, 80 anos", explica.

Martins ainda assegura que, apesar de serem infecções, as doenças têm algumas formas possíveis de prevenção. "Destaco fazer atividade física, ter atenção com a arcada dentária e com a musculatura da faringe e evitar maus hábitos como álcool e cigarro; além, claro, da vacinação", completa.