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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Você conhece as pessoas mesmo? 5 dicas para não projetar expectativas nelas

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Imagem: iStock

Diego Garcia

Colaboração para o VivaBem

30/01/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Não conhecemos as pessoas totalmente como elas são, pois a imagem que temos do outro faz parte de nossas fantasias, expectativas e interesses
  • Observar o jeito do outro, como pensa e se comporta, fazer perguntas para descobrir mais a respeito, ajuda a projetar menos e conhecê-lo melhor
  • Tentar equilibrar nossas expectativas é a chave para um relacionamento saudável com quem quer que seja

É comum quando convivemos com uma pessoa, depois de certo tempo, imaginarmos que a conhecemos. A gente passa a presumir o que a pessoa pensa, fará ou dirá e, de repente, a pessoa age de forma diferente e ficamos frustrados, pois descobrimos que não conhecíamos a pessoa como ela de fato é, mas o que mentalmente projetamos dela.

Achou confuso? Freud explica: a razão está subordinada a processos mentais inconscientes decorrentes de desejos pessoais, ou seja, "é como se nossa mente fosse uma casa cujas janelas não são totalmente transparentes, pois seus vidros são turvos, de modo que nossas 'janelas mentais' distorcem o que vemos com base em nossos traumas, interesses, desejos e estados afetivos", explica Eduardo Name Risk, psicólogo e professor adjunto do Departamento de Psicologia da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).

Segundo Risk, cada um de nós lida com o ambiente a partir de interesses, expectativas, desejos e estados afetivos particulares. É como se estivermos pensando em comprar um apartamento ou uma casa. Passaremos a reparar em vários imóveis à venda em nosso bairro que anteriormente não havíamos percebido. Por mais que estivessem lá há algum tempo, não faziam parte do nosso campo perceptivo de interesses ou expectativas.

Em algumas ocasiões o sujeito pode projetar no outro tendências que lhes são desconhecidas, ou seja, características dele que ele não percebe ter. Assim, em determinadas ocasiões, tendemos a projetar no outro e nele localizar sentimentos, desejos e qualidades que nos são desconhecidas ou que recusamos em nós mesmos.

Realidade x imaginação

"A frustração é um caminho fundamental para o acesso à realidade", afirma Tiago Ravanello, psicólogo e psicanalista, professor associado da Faculdade de Ciências Humanas da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). De acordo com ele, nosso objetivo inicial costuma ser o de evitar frustrações a todo custo, mas, "isso pode ser um remédio mais prejudicial do que a própria doença", analisa.

Frustrar-se faz parte da vida. Acontece com nossos amigos, colegas de trabalho, com nossos familiares, com as pessoas que nos relacionamos afetivamente, ou seja, em todas as nossas relações. E isso acontece porque os outros nem sempre correspondem ao que imaginamos ou almejamos.

Não posso e não devo almejar que alguém seja como eu quero ou como eu acho que esta pessoa deveria ser. Do mesmo modo é também um ato de crueldade quando digo a alguém 'minha vida está em suas mãos', 'sem você eu não sou nada', pois coloco no outro a responsabilidade pela minha própria existência física e psicológica Eduardo Name Risk, psicólogo e professor adjunto da UFSCar

Em todas as fases da vida, desde o nascimento até a velhice, somos confrontados com a frustração e deveríamos aprender a lidar com essas situações, umas mais dolosas e outras menos, mas nem sempre isso acontece. Risk considera que encarar a frustração, assim como os sentimentos que a acompanham, em vez de anestesiar ou fugir, é parte da vida e um ato de coragem.

Analise mais, imagine menos

Linniker Moura, psicólogo, explica que nossa visão de mundo não é um retrato 100% fiel e estático da realidade. Segundo Moura, nós criamos a realidade e interpretamos os fatos de acordo com nossa história, conhecimento, sentimentos e desejos e quando lidamos com pessoas, não é diferente. "há a nossa visão das pessoas, como elas realmente são e como elas se veem, veja só quantas realidades diferentes".

Não existe uma fórmula para mudar isso, mas, podemos chegar mais perto de conhecer o outro, projetando menos de nós nele, com algumas dicas:

- Busque conhecer as pessoas como elas realmente são: faça perguntas, se tiver mais intimidade com ela, tente desenvolver uma amizade baseada em trocas de experiências. Assim você poderá alinhar suas expectativas ao que mais se aproxima do que a pessoa é;

- Habitue-se a ter um diálogo interno: fale consigo sobre suas expectativas, lembrando sempre que aquilo que você espera nem sempre corresponde ao real. Tentar equilibrar as expectativas é a chave para um relacionamento saudável com quem quer que seja. Se for possível expressar o que espera para essa pessoa, melhor ainda, pois assim ambos podem encontrar equilíbrio entre o que se quer e o que há;

- Observe o jeito da pessoa: cada um de nós deve ser capaz de estabelecer limites entre nossas expectativas e aquilo que alguém nos pode oferecer. Conforme vamos conhecendo alguém, prestar atenção no modo como costuma agir e pensar é uma boa dica, já que essas são características que costumam ser relativamente estáveis;

- Faça uma análise do seu passado: o melhor caminho para evitarmos expectativas irreais e entrarmos em contato com pessoas de uma forma mais humana e duradoura é o de prestar contas com a nossa própria história. Desatar os nós do passado, resolver situações em relação às pessoas que transitaram em nossas vidas, estar em dia com nossos próprios valores e ser honesto em relação ao desejo pessoal são, provavelmente, as indicações mais seguras para não termos que repetir relações malsucedidas ou reviver sofrimentos desnecessários;

- Separe o que são suas expectativas daquilo que o outro possa realmente oferecer: isso é desafiador, mas, discernir nossas expectativas, interesses e fantasias daquilo que alguém tem condição de nos oferecer em cada vínculo que temos, seja no trabalho, na família ou nos relacionamentos, nos separa da outra pessoa e nos permite enxergar mais o que é do outro do que é nosso em relação ao outro.

Ravanello avalia que esse processo nem sempre é simples e na maioria das vezes uma escuta capacitada nos permite ter uma ideia mais razoável a respeito do que está sendo repetido ou o que não estamos conseguindo sequer pensar, muito antes de termos a oportunidade de resolver. "Justamente por esse motivo que os atendimentos psicológicos tendem a ser dolorosos em seu princípio: eles nos convocam a despir os outros e a nós mesmos de fantasias e a viver nossas frustrações em sua integralidade", complementa.