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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Herpes genital: quais os sintomas, como evitar e tratar essa IST incurável

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Imagem: iStock

Léo Marques

Colaboração para o VivaBem

17/11/2019 04h00

Causado pelo vírus do herpes simples (HSV), o herpes genital é uma IST (Infecção Sexualmente Transmissível) que ataca a pele e/ou as membranas mucosas dos genitais de homens e mulheres. Uma vez que a pessoa é infectada, o vírus se esconde nas células nervosas e permanece no corpo para sempre. A infecção mais comum para a região genital ocorre pelo chamado tipo 2 (HSV-2). Já o tipo 1 (HSV-1) é mais associado a infecções de lábios, boca e face, inclusive olhos. Altamente infecciosos, não é difícil que ocorra uma contaminação cruzada entre esses vírus.

"Hoje em dia, o que difere esses dois tipos é apenas a localização. A mudança de hábitos sexuais da população tem aumentado a prática de sexo oral, favorecendo a troca de vírus genital e labial", aponta Julio Bissoli, urologista do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo).

Segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), divulgados em 2015, existem no mundo mais de 3,7 bilhões de pessoas com menos de 50 anos infectadas com o HSV-1, ou seja, quase 50% da população do planeta. Desses, a entidade calcula que 140 milhões de pessoas entre 15 e 49 anos estão infectadas com esse tipo do vírus na região genital, principalmente nas Américas, na Europa e no Pacífico Ocidental. Já o HSV-2 atinge cerca de 417 milhões de pessoas nessa mesma faixa etária.

Uma das formas mais comuns de contágio do herpes genital é através da relação sexual, seja oral, anal ou vaginal, que aconteça sem o uso da camisinha com uma pessoa infectada e normalmente em crise. Porém, a ginecologista Barbara Murayama, coordenadora da Clínica da Mulher do Hospital 9 de Julho, em São Paulo, alerta que muitas vezes essa crise pode não ser visível ou estar em um estágio tão inicial que não seja percebida. "A transmissão é mais comum quando a lesão está ativa, por meio do contato com ela, onde há grande quantidade de vírus. Mas há estudos que relatam transmissão sem lesão ativa com menor frequência", aponta.

O urologista Julio Bissoli explica que apesar de poder aparecer em outras regiões do corpo, como ânus, coxa, períneo e até mesmo barriga, os grandes lábios (na mulher) e haste peniana/glande (no homem) são os locais preferenciais de infecção. "Por isso dizemos que o herpes genital não é apenas sexualmente transmissível, nem evitável somente com preservativos, já que pode ser transmitido a partir do contato com a região manifestada", diz.

Sintomas

Muitas pessoas contaminadas podem passar anos sem que a doença apareça, o que costuma ocorrer diante de uma baixa no sistema imunológico, devido a estresse, infecções ou alterações hormonais. Porém, a primeira manifestação costuma ser a mais violenta e ocorrer de dois a dez dias depois do contágio.

"A apresentação inicial pode ser grave, com úlceras dolorosas em toda área dos genitais e ao redor do ânus. Podem ocorrer sintomas como dor para urinar, ardência, febre e dor de cabeça", aponta Barbara Murayama. Além desses sintomas, falta de apetite e dores musculares também são comuns nesses casos. Com o passar do tempo, outras manifestações podem ocorrer, porém bem menos violentas e com duração menor.

O infectologista do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, Luís Fernando Aranha Camargo, explica que além da baixa imunidade e do alto nível de estresse, existem outros fatores desencadeadores da infecção. "Elas podem se manifestar, por exemplo, pelo excesso de sol, menstruação —no caso das mulheres— ou mesmo intenso contato físico, derivado de relações sexuais muito frequentes e intensas. Neste último caso, os cientistas acreditam que tem a ver com uma estimulação do terminal nervoso, local onde o vírus está alojado", explica.

Geralmente a infecção é precedida por formigamento e cria bolinhas de água (vesículas), que ao romperem-se formam feridas, com crostas dolorosas durante toda sua evolução até a cicatrização e desaparecimento.

No caso dos homens, podem causar feridas no pênis, saco escrotal e até mesmo na uretra. Já nas mulheres, acometem tanto a vagina como a vulva e o colo do útero. "Em termos de características e sintomas, não há diferença entre os sexos. O que difere é que na mulher muitas vezes essa manifestação ocorre internamente, o que não permite, visualizando externamente, a detecção da doença", aponta Camargo.

Apesar de raro, o vírus também pode afetar outros órgãos. "Esse tipo de complicação ocorre em uma minoria de pacientes que apresentam infecção primária pelo vírus herpes simples. Na literatura médica, há relatos raros de meningite, retenção urinária por disfunção do sistema nervoso da região sacral e lesões cutâneas distantes", ressalta a ginecologista Barbara Murayama.

A médica ainda alerta para outro importante impacto da infecção. "Durante a gravidez, a principal complicação é a transmissão para o recém-nascido, uma vez que a infecção neonatal pode resultar em diversos problemas para o bebê e levá-lo inclusive à morte", diz.

Essa transmissão geralmente ocorre durante o trabalho de parto, como resultado do contato direto com o vírus de locais infectados (vulva, vagina, colo do útero e área perianal). O risco maior de infecção neonatal ocorre em mulheres com herpes genital recém-adquirida perto do momento do parto.

Pode ocorrer também, em casos mais raros, uma infecção intrauterina ou congênita (transmitida de mãe para filho durante a gravidez). Quando acontecem, podem gerar problemas na placenta e no feto, como hidropsia fetal —quando ele fica todo inchado.

"Sobreviventes de infecção por herpes simples no útero podem exibir uma tríade característica de vesículas, ulcerações ou cicatrizes na pele e dano ocular, além de manifestações graves do sistema nervoso central, incluindo microcefalia", relata a ginecologista.

Se a gestante tiver consciência que tem a doença e optar por ter o filho pelas vias normais, os médicos costumam aplicar uma terapia antiviral a partir de 36 semanas para reduzir o risco de recorrência durante o trabalho de parto. Mas caso o vírus esteja ativado ou a mulher não queira correr o risco, a cesariana é a melhor alternativa.

Formas de tratamento e prevenção

O diagnóstico mais comum do herpes genital é feito por um urologista, ginecologista, proctologista (no caso do ânus) ou infectologista a partir de uma análise visual do vírus ativo, pois as lesões costumam ser bem características. Mas eles podem optar também por alguns exames para se certificarem do diagnóstico.

Os mais comuns são a cultura de vírus por meio de uma amostra da ferida, exame de reação de polimerase em cadeia para análise do DNA do paciente —também a partir de uma amostra da ferida— e o exame de sangue, mostrando se há presença ou não de anticorpos contra o vírus, o que indicaria infecção no passado.

Uma vez detectado, existe a possibilidade de utilizar antivirais que diminuem significativamente a duração e a gravidade da doença, com efeitos colaterais mínimos. Esse tratamento costuma durar de 7 a 10 dias e precisa ser prescrito por um médico. Se as manifestações não forem agressivas, o infectologista Luís Fernando não vê necessidade de utilizar esses medicamentos. "O próprio organismo se encarrega de combater o vírus", afirma.

Já para a ginecologista Barbara Murayama, a forma mais adequada de evitar a recorrência, ou seja, que outros episódios de lesões aconteçam, é manter-se saudável, para que a imunidade do corpo e nossas defesas fiquem preparadas.

"Alimentação balanceada, prática regular de atividade física, boas noites de sono, gerenciamento de estresse e vida sexual saudável com uso de preservativo são formas de deixar o vírus adormecido. Além disso, é importante evitar relações sexuais com pessoas que apresentem lesões nos genitais ou ter relações quando você estiver com lesões, pois isso aumenta a quantidade de vírus em cada indivíduo e piora a doença, além de facilitar a contaminação com outras enfermidades como HIV", alerta.

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