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Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


É possível enfrentar seus medos: veja 11 ações para ajudar você nisso

Medo e ansiedade podem ser tratados e enfrentados - iStock
Medo e ansiedade podem ser tratados e enfrentados Imagem: iStock

Simone Cunha

Colaboração para o UOL VivaBem

24/07/2019 04h00

Resumo da notícia

  • O medo é uma emoção que não pode ser evitada, e o que vai determinar a sua intensidade é a maneira como lidamos com ela
  • Do ponto de vista de saúde mental, o grande problema são os medos exagerados e desproporcionais, afinal eles podem causar ansiedade
  • A fé e a esperança são componentes que ajudam na resiliência, e uma pessoa resiliente tem mais condições de enfrentamento

Convivemos diariamente com uma série de temores. Sair à rua e ser assaltado ou sofrer um acidente no trânsito. Pegar dengue, sarampo ou febre amarela. Ser demitido, se enrolar em dívidas, fracassar em seus projetos. Não encontrar a cara metade, ser traído, viver na solidão. São inúmeros os motivos para sentir medo, perder a esperança, ter pensamentos pessimistas.

No entanto, não dá para se entregar aos temores e viver nessa tensão. É fundamental lidar com cada um deles e, na medida do possível, enfrentá-los. O medo é uma emoção que não pode ser evitada, e o que vai determinar a sua intensidade é a maneira como lidamos com ela. "Se somos ou não capazes de identificar situações de perigo real ou se estamos supervalorizando estímulos emocionais", diz Graça Maria Ramos de Oliveira, psicóloga supervisora do serviço de psicologia e neuropsicologia do Ipq HC-FMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina Universidade de São Paulo).

O antídoto para o medo

Lidar com os medos, encarar os desafios da vida, não deixar de viver plenamente apesar dos perigos potenciais nos faz amadurecer, exercitar todo nosso potencial e sentir o gosto do domínio sobre a vida e não de ser dominado por essa emoção. Na prática, alguns devem ser superados e outros gerenciados. "A meta é manter o medo proporcional e apropriado à situação, sendo que a ansiedade pode e deve ser tratada, preferencialmente antes de se tornar um problema crônico", sugere a psiquiatra Elisa Brietzke, orientadora do Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e professora do Departamento de Psiquiatria da Queen's University, no Canadá. .

Além disso, a fé e a esperança são componentes que ajudam na resiliência, e uma pessoa resiliente tem mais condições de enfrentamento. "A resiliência pode ser desenvolvida e tem relação direta com a capacidade da pessoa gerenciar seu estresse e de como enfrenta seus medos", acrescenta Graça.

Ações para enfrentar o medo

A psicóloga Graça Maria faz uma listinha eficaz para vencer os temores e superar o medo.

  • Permita-se pensar nos motivos que estão lhe criando sensações de medo
  • Tente respirar profundamente, acalme-se e diga para si mesmo: "está tudo bem"
  • Lembre-se de que seus medos podem ser em decorrência de situações que você está criando ou supervalorizando
  • Use o humor para lidar com seus piores medos
  • Procure ficar mais com seus amigos e familiares
  • Se o medo aparece e não vem de uma situação real, lembre-se que você está seguro e que é capaz de lidar com as dificuldades que aparecem
  • Concentre-se nas coisas boas da sua vida para aumentar a positividade
  • Passe algum tempo na natureza, isso pode ajudar a se sentir calmo
  • Crie uma lista de atividades que você pode fazer sozinho
  • Aprenda técnicas de relaxamento/técnicas de respiração
  • Faça exercícios, cuide da alimentação e da qualidade do seu sono

Dicas para enfrentar alguns temores cotidianos

Como enfrentar o medo da solidão - fomentando as relações de amizade, procurando manter contato com amigos, parentes, mantendo-se engajado em grupos, atividades sociais e evitando gerar problemas. O vazio existencial é inerente ao ser humano, esmiuçar ou ficar numa tentativa incessante de mitigar a angústia é receita para mais sofrimento.

Como enfrentar o medo da violência - cercando-se de medidas possíveis dentro do ambiente ou realidade em que está inserido, como por exemplo, evitando transitar numa região perigosa à noite. Também vale medidas de fortalecimento psíquico para não se deixar levar pelo desespero.

Como enfrentar o medo de perder o emprego - fazendo bem seu trabalho, mantendo-se atualizado, preparado financeiramente para qualquer eventualidade, pois viver sob tensão não permite ação.

Como enfrentar o medo de ficar doente - apostando em bons hábitos de sono, alimentação, atividades físicas, evitando sedentarismo, tabagismo. Triana Portal, pós-graduada em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (USP) e membro da Sociedade Brasileira de Psicologia, sugere que, se pessoa passou por uma condição específica, uma doença pré-existente ou sofre de estresse pós-traumático, o ideal é procurar ajuda profissional.

Como enfrentar o medo de perder um ente querido - esse medo é comum e é importante ter condições de lidar com a perda de pessoas queridas, pois a finitude é inerente a vida. Mas, se a pessoa passou por reiteradas perdas ou um evento muito traumático pode ser que desenvolva uma prontidão ou sensibilidade maior alimentando o medo. Neste caso, a intervenção e acompanhamento psicológico pode ser necessário.

Controle o medo para evitar a ansiedade

Por outro lado, vivemos em uma sociedade em que alguns perigos relacionados à sensação de insegurança são passíveis de acontecer, e isso gera uma sensação de insegurança generalizada. "Há pessoas que tem um temperamento ansioso e essas são as mais afetadas. A ansiedade faz com que os problemas pareçam sempre maiores, mais sérios, gerando estresse e podendo fazer o indivíduo adoecer", alerta Portal.

Portanto, do ponto de vista de saúde mental, o grande problema são os medos exagerados e desproporcionais, afinal eles são responsáveis por desencadear a ansiedade. "O medo persistente e exagerado de situações triviais é uma das características de uma condição chamada transtorno de ansiedade generalizada, bastante frequentes, podendo ocorrer em adultos de todas as idades, idosos e crianças", explica Brietzke.

Essa ansiedade pode prejudicar a saúde mental afetando o sono, o desempenho na escola e no trabalho, nos relacionamentos e no bem-estar. Ou seja, preocupar-se com essas situações é natural e até nos protege de perigos, nos mobiliza para ação, é aquela ansiedade positiva que motiva e nos faz seguir adiante. Porém, se o medo toma conta, cresce, paralisa e se transforma em ansiedade patológica. "E isso pode desencadear processos depressivos e outros transtornos, causando prejuízos extensos na vida do indivíduo", confirma Portal.